Entrevista concedida a Maikol Paolo Vancine (agosto de 2006)
Hoje estréia a série de entrevistas (tomara que realmente vire uma série), feitas por e-mail, com poucas e simples perguntas, até porque não tenho prática nisso, pra matar a curiosidade, e saber mais um pouco sobre grandes pessoas que se movimentam para trazer um pouco de diversão e cultura para nós, apaixonados. E hoje, mais do que merecido, o primeiro convidado foi o jornalista Marcelo Costa, editor do site Scream & Yell, e um grande apaixonado pela cultura pop.
Marcelo também é editor de homes do iG, BRTurbo, iBest, e escreve para as revistas Rock Press, Rock Life, Pipoca Moderna, e estreou na semana passada sua coluna no iG chamada Revoluttion. Marcelo fala aqui sob sua estréia, um pouco da sua vida, seus pensamentos, etc.
Quem te conhece sabe da sua paixão pela cultura pop, você acha que é possível viver fazendo somente tudo aquilo que você gosta, desde trabalho até estilo de vida? E no seu caso em especial você se sente realizado, e acredita que ainda hoje é possível viver de cultura pop?
Possível é, mas é bem difícil também. Eu gostaria muito de poder viver só de cultura pop, do site que eu edito, dos textos que escrevo para algumas revistas, mas isso ainda é impossível. O meu trabalho no iG, por exemplo, nada têm de cultura pop. E é este trabalho que possibilita que eu pague as contas, me alimente, ou seja, viva a vida normalmente. Viver só de cultura pop não daria, mas não é impossível. É preciso, talvez, um tato maior para negócios, para fazer o dinheiro render. Particularmente tenho medo de dizer que me sinto realizado, sabe. Eu tenho 36 anos, só (risos). Se me sentir realizado agora, o que é que vou fazer com os outros 54 que ainda pretendo viver? Ficar vendo a vida passar é que não dá. Poderia dizer que me sinto orgulhoso com as conquistas, mas ainda falta muita coisa para se conquistar e viver. É só sair pra rua e dar uma boa olhada ao seu lado. O mundo precisa melhorar muito, e isso faz parte de se sentir realizado, sabe: desejar o bem estar de todos. Não dá para se sentir o cara mais bacana do mundo com tanta desgraça por ai. Seria muito “umbiguismo”.
E para quem está iniciando, principalmente na área jornalística, ainda existem chances de ter toda a carreira voltada para essa área, já que toda a “magia” de publicações impressas de fanzines, jornais e revistas especializadas de décadas passadas, se perdeu um pouco, principalmente pelo surgimento da internet e as facilidades que ela proporciona?
As chances sempre existiram e sempre vão existir. Apesar das facilidades da Internet, acho que fazer fanzines em papel deve ser muito mais sedutor e mágico hoje em dia do que um dia foi. Eu ainda quero fazer umas edições do Scream em papel novamente, mas seria voltar estágios, já que comecei a me envolver com revistas, e você acaba enxergando a coisa como um todo. Acaba sendo mais exigente, mesmo sendo um fanzine. No entanto, com tantos sites surgindo por ai, o fanzine em papel é um diferencial que deve ser explorado.
O Scream & Yell surgiu como um fanzine, e durou pouco tempo, houve uma necessidade de se digitalizar, ou foram outros os motivos?
Foram acasos, apenas isso. Eu editava ele (o fanzine de papel) inteiro no pagemaker, sozinho. E continuaria editando, mas um amigo se empolgou com o fanzine em papel, e me “deu” um site. Ele fez tudo. E depois teve a Zero, que foi um projeto que nasceu dentro do S&Y. Ou seja: era um fanzine, virou site, e dali surgiu uma revista. São passos naturais.
Cultura é coisa de rico?
De maneira alguma. Eu, por exemplo, não sou rico. Com muito jeito dá até para dizer que sou classe média, média mesmo (e baixa records, como escreveu o Mini na letra da música do Walverdes). Passei em um concurso para trabalhar na faculdade, e ganhei uma bolsa de 50% para cursar Comunicação Social. Isso me permitiu ter um diploma de bacharel. Nunca cheguei a prestar Federal, mas acho que eu nunca iria passar. Faltou base no colégio. Mesmo assim, era rato de biblioteca e lia tudo que pintava pela frente. Ou seja, a cultura está na própria pessoa. Na vontade dela conhecer mais coisas. Tem gente que tem dinheiro e prefere gastar com iates, helicópteros, jatinhos e coisas e tal. Tem gente que não tem e prefere comprar CDs, filmes e livros. O dinheiro não serve como paralelo. A cultura está na própria pessoa.
Política e futebol te interessam, ou você foge do comum?
Política deveria interessar a todos, mas as desilusões foram me colocando mais distante. Assim como vários amigos, pela primeira vez estou pensando seriamente em votar nulo. Havia uma meta sonhada, e essa meta foi conseguida, mas não mudou nada. Então acho que precisamos de medidas sérias para mostrar aos governantes que estamos infelizes. O voto nulo é uma destas medidas. Já o futebol… eu era completamente fanático, corintiano roxo e tal. Mas depois de um certo dia (uma oitavas de final da Libertadores com o Palmeiras), nunca mais fui o mesmo. E, cada dia que passa, perco mais e mais o prazer em assistir e acompanhar os jogos. Hoje em dia o futebol me interessa com os amigos…
Você se sente indo contra a corrente, como você disse na Revoluttion em relação aos nomes de suas colunas (Revoluttion, Calmantes com Champagne, L’âge D’or)?
Na maioria do tempo, mas existem coisas que me surpreendem. Às vezes acho que só eu detestei uma coisa, e quando comento vejo que mais pessoas achavam aquilo também (como quando critiquei negativamente o “A Ghost Is Born”, do Wilco). Mas também não é uma corrente tão forte assim… (risos).
Em sua página no Orkut você dá a entender que não assisti televisão, ou que não gosta. Chega a ser um “radicalismo”, uma aversão?
Dá a entender isso mesmo? Bem, é só por falta de tempo mesmo. Em São Paulo existem sei lá quantas salas de cinema. Tem shows todo dia. Eu tenho mais de 80 discos novos para ouvir (sem contar os 5 mil da minha estante). Tenho que escrever para alguns lugares, editar o site… e tem os DVDs. A televisão acabou perdendo a sua função para mim, assim como o rádio. Se eu quero ouvir uma música, eu vou e pego o CD na estante. Não preciso ficar procurando ela numa FM. Acho que aconteceu o mesmo com a TV…
Sua coluna, Revoluttion, estreou dia 05 desse mês no iG, além disso você tem outros trabalhos em revistas, além do site. Como você faz para não se tornar repetitivo, e administrar o seu tempo em torno de tantos projetos?
Existem muitas maneiras de se falar a mesma coisa sem se repetir (risos), mas na verdade são coisas diferentes. O blog Calmantes é extremamente pessoal, eu com meu leitor; a coluna Revoluttion será uma coisa mais centrada na informação e na poesia do texto, assim como é a coluna de cinema no site da Rock Press. Cada coisa tem seu foco. E administrar o tempo é sempre um problema. Um dia de 24 horas é muito curto para tanta coisa… Não há uma fórmula. Você vai fazendo e fazendo e fazendo.
E quais são suas expectativas diante dessa nova empreitada?
Acho que é um espaço bacana, num lugar bacana, com uma exposição ótima. Tem tudo para render.
Pra finalizar: Morrissey é o maior inglês vivo da história, e Chico Buarque o melhor letrista do nosso país?
Letrista, sem dúvida. No rock sempre tivemos bons nomes, mas Chico é imbatível. Só não sei se ele é o maior brasileiro vivo. Tem vários nomes para essa lista…