texto de Marcelo Costa
Eu já tinha esquecido a existência do White Stripes quando “Icky Thump”, sexto álbum do duo, caiu na Internet. Na verdade, um pouco antes, quando começou a circular o clipe da faixa título, nem liguei e nem fui atrás. Ou seja, não bastava ter esquecido, eu não acreditava mais no White Stripes. Talvez a culpa seja do show morno que eles protagonizaram no Tim Festival 2004, talvez seja porque “Get Behind Me Satan” não tenha me causado tanto impacto (não gostei de “Blue Orchid” e quando a ficha “My Doorbell” caiu já era tarde), ou então porque o Raconteurs tenha pegado minha cabeça nas mãos e sacudido para todos os lados.
O caso Raconteurs bateu forte. Nas vésperas do lançamento oficial de “Broken Boy Soldiers” (extra-oficialmente o disco já estava na internet meses antes), esperando uma via de contato ou com Jack White ou com Brendan Benson para um papo, sacudi meus pensamentos em uma reunião de pauta de uma revista pedindo espaço para a banda na capa. E eles mereciam, mas assumo hoje: naquela época talvez fosse exagero. Eu achava (e ainda acho) que o Raconteurs era (é) a banda perfeita para o público médio americano, aquele que fez do Led Zeppelin uma das bandas que mais vendeu discos em toda a história da música pop. E a estréia de “Broken Boy Soldiers” em sétimo na lista dos mais vendidos da Billboard com 61 mil cópias em uma semana corrobora essa opinião. Mesmo assim, eu esperava bem mais.
Depois disso, o Raconteurs saiu por ai fazendo shows, boatos correram para cá e para lá de que o White Stripes tinha aposentado a chuteira, e ninguém sabia dizer qual seria o futuro de Meg White, uma das dez piores bateristas que já seguraram uma baqueta. E então, do nada, Meg e Jack surgem vestidos como cowboys em uma das capas de discos mais bonitas do ano. Não liguei. Ouvi “Icky Thump”, a faixa título e primeiro single, duas vezes desligadamente, e não me abalei. E então, numa noite qualquer, ainda no meu velho apartamento, coloquei o disco inteiro em alta qualidade para rodar no Windows Media Player, e o bumbo batendo forte nas duas caixas de som logo na abertura esmurrou minha descrença, pedindo atenção. Recuperei-me, me ergui, mas já estava no placar: Jack White 1 x 0 Marcelo Costa.
Ser surpreendido por um grande disco que você não tinha a mínima idéia de que seria um grande disco, no entanto, não é uma derrota, como muitos pensam. É aquilo: você perde pela aposta, mas ganha por ser uma amante da música pop. Se todas as bandas ruins que existem no mundo, e que nós execramos, lançassem discos bons como este, o mundo seria um lugar muito melhor (e nós provavelmente não iriamos ter do que reclamar, mas qualquer coisa a gente fala do governo, da seleção brasileira de futebol, do Caetano Veloso e do Galvão Bueno, e tudo voltaria ao normal). Ou seja, seria algo do tipo: mesmo quando a gente perde, a gente ganha. E é mais ou menos isso que acontecesse com “Icky Thump”, sexto disco do White Stripes: eu não tinha a mínima expectativa de que os irmãos White pudessem lançar um grande disco, mas eles lançaram.
“Icky Thump” abre com a faixa título exibindo um poderoso riff de guitarra zeppeliniano, bumbo na cara, teclados e uma letra que critica o muro que os Estados Unidos querem fazer para separar o país do México. “You Don’t Know What Love Is (You Just Do As You’re Told)”, a segunda, é deliciosa. É pop, mas é rock. É romântica, mas não é piegas. Tem um riff matador, teclados fazendo a cama, e um jeitão 1960. Na seqüência, “300 M.P.H. Torrential Outpour Blues”, começa como um country que vai sendo desconstruído e se transformando em blues de boteco de beira de estrada. Até aqui, tudo normal. É o White Stripes que você aprendeu a amar (ou odiar, cada um que carregue a sua cruz). A grande piração do álbum acontece na faixa 4, a poderosíssima “Conquest”, com toques mariachis, solos de trompete e uma deliciosa história de um conquistador que, enfim, é conquistado (“O amor para ele era um gracejo, até ele olhar nos olhos dela”). É difícil demais traduzir a grandeza de uma canção. “Conquest” tem suor latino, guitarras sujas, bateria marcante e um gingado conduzido por trompetes que dá vontade de chorar de tão lindo. É o tipo de música que vale um disco.
Eu passei as duas primeiras semanas chegando até a faixa quatro, e parando em “Conquest”. Depois descobri a batida country com toques celtas dos violões e gaita da ótima “Prickly Thorn, But Sweetly Worn” e sua coda psicodélica “St. Andrew (This Battle Is In The Air)” (em que Meg pergunta: “Onde estão os anjos?”), a porrada “Rag & Bone”, a quebrada “I’m Slowly Turning Into You” (que começa com os teclados mandando na melodia, mas que depois cede espaço para o domínio dos riffs de guitarra), o bluezaço “A Martyr For My Love For You” e “Effect & Cause”, um country leve, brincalhão e desencanado. É uma sucessão de boas canções que mantém em alta o clima do disco, após seu começo matador, e coloca “Icky Thump” na lista de grandes discos do ano (e entre os melhores do White Stripes). Você pode até não gostar de Led Zeppelin (heresia, mas tudo bem), influência vital da banda; pode achar que Meg White não sabe nem segurar as baquetas (e não sabe mesmo, mas ela é tãooo charmosinha); pode até dizer que o som do duo é retro demais, mas mesmo assim eles são um dos grupos mais interessantes da música pop nos anos 00. É com prazer que perco uma aposta para o Jack White. Que venham outras.
“Icky Thump” foi lançado em CD, vinil e pen-drive no último dia 19 na gringa. Segundo o chapa Lúcio Ribeiro, a versão nacional foi cancelada. Diz o Lúcio na Popload: “Com a capa rodando e o disco sendo prensado na fábrica, veio a ordem lá de fora: o contrato estava cancelado e a Warner Brasil não mais tinha a licença para botar a dupla de “irmãos” Jack e Meg White para tocar em edição nacional. Os CDs prontinhos tiveram que ser quebrados e jogados no lixo. Dizem.”
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell desde 2000 e assina a Calmantes com Champagne.
Não consigo achar graça no White Stripes. Não que eles sejam ruins. Mas não são excelentes, como uma maioria prega. Ou seja, normais.
Marcelo, já que a maré é essa, dá uma sacada no som de uma banda irlandesa chamada The Answer. Se os Whites se formaram na escola Led, o Answer é pelo menos pós-graduado – até o Page é fã dos caras.
E o disco de estréia deles, Rise, foi relançado a pouco tempo, duplo, cheio de extras 🙂
Respeito a sua opinião, o gupo é bom, aliás, o Jack é bom, pois a Meg é pura figurante de roupas, alternado o preto, o branco e o vermelho. Como baterista nem preciso tecer minha opinião. Neil Peart está aí. Enfim, talvez nao seja a proposta da banda, o white stripes é bem lo-fi.
Vamos ao que interessa:
Acho o white stripes, apenas bom. o disco novo é bom, mas este é o problema nas obras do grupo, os discos são bons, mas não soam excelentes. Acho tbm as músicas do white stripes muito parecidas entre si, destoando pouco durante o cd inteiro, enfim, podem dizer de identidade musical, porém, acho incapacidade musical.
Eles nunca vão ser um Wilco, REM, Manic Street Preachers, Pixies, etc, pois estas bandas têm em sua discografia, pelo menos uma obra irretocável, no mínimo. Os Stripes não possuem.
Minha modéstia opinião.
grande disco.. the hottest shit of the moment, com poderia dizer (se ainda estive vivo) lester bangs…
até…
Eu achei bastante bom. Não é o melhor disco que ouvi neste ano, mas é top 5 com certeza.
Talvez com mais audições ele melhore, mas por enquanto, neste último mês, não me chamou tanta atenção como os álbuns anteriores.
“O tipo de música que vale um disco”. É bem isso. O disco vale por “Conquest”. Abraço. :]
Cara,The Answer é bacana,mas White Stripes é mil vezes melhor…O show deles que assisti aqui no Rio foi muito bom.Queria agradecer ao Marcelo pelas indicações das bandas novas e dizer que o Ludov é bem bacana.O Terminal Guadalupe já lançou disco?A banda é ótima…Agora,vc já escutou o disco novo do Silverchair(uma banda que muito tem preconceito)?Vale muito a pena,discão.
Caro Mac,
seu texto é ótimo. mas pare com esses lugares comuns, manjados, ninguém mais precisa disso, tipo: meg white é uma das piores bateristas da história, como se arte se julgasse dessa forma. Vc deve saber que no rock a falta de técnica as vezes é fundamental, músicos muito técnicos geralmente não são felizes quando se aventuram no pop. O próprio Jack White não é um guitarrista técnico… Na sua opinião: Kurt Cobain era um bom guitarrista? Ian Curtis era um bom guitarrista? Ringo Star é um bom baterista? Keith Richards é um bom guitarrista?
Sid Vicious era um bom baixista?
Wayne Coyne (flaming lips) é um bom vocalista?…….etc etc etc. E são todos gênios do pop.
Tá vendo como seu texto é clichê? Tudo bem, eu te perdoo….
Ai, mais um que tem que falar mal de algo elogiando outro. the answers deve ser bom porque poucos conhecem. depois o mesmo cara vai dizer que bom não é o the answers, é o the question… e comparar com o neil peart…qué isso??
e marcelo…isso é o que dá cair no mesmo erro dos outros, de achar que uma banda só vale por temporada.
Caro Mac,
Nao sou muito fa de White Stripes, ate tenho uns discos, mas nunca desceu 100 pro cento bem…so que nesse novo album tem que se tirar o chapeu mesmo, discaco!!
Entrou direto no meu top 10 do ano e roda vez ou outra aqui. Concordo contigo “You Don’t Know What Love Is (You Just Do As You’re Told)” é simplesmente deliciosa.
Abraços 🙂
Icky Thump é o single do ano na minha humilde opinião.
O %!@$&@#é que a Meg é ruim DEMAiS. O Wayne Coyne e o Lou Reed são os reis da afinação se comparados a ela como baterista. Eu acho que tem que haver o mínimo de técnica na arte, senão o resultado fica tão tosco,que fica limitado. Para mim, este é justamente o caso do WS.
eu amo os white.
White Stripes é perfeito. A simplicidade é o que fascina. 🙂