entrevista por Tiago Agostini
Eles são do Rio de Janeiro e tem o caule em Paraty, mas tudo faria mais sentido se tivessem surgido em alguma cidade do interior de Minas Gerais. Supercordas, a banda congelada na década de 60 e desperta em 2003, foi responsável por um dos grandes discos de 2006, “Seres Verdes ao Redor – Música para Samambaias, Animais Rastejantes e Anfíbios Marcianos“. Gravado 20% nos estúdios da Trama (a banda ganhou 36 horas de estúdio ao vencer o concurso No Capricho, da revista de mesmo nome) e em casa, com microfones baratos e participação especial de sapos, grilos e do vizinho paciente, o disco mistura psicodelia e cultura brasileira num rock rural cheio de nuances, algo como um Sá, Rodrix & Guarabira do pântano.
Tudo começou em 2003, quando os amigos Pedro Bonifrate e Diogo Valentino, morando na capital do estado do Rio de Janeiro, resolveram montar uma banda, sonho antigo da época em que moravam em Paraty. Junto com o baixista Régis, surgiu o Supercordas. Em 2003 mesmo lançam “A Pior das Alergias” e em 2005 o EP “Satélites no Bar” – este último com temática espacial, nada próximo do som que marcaria o grupo com “Seres Verdes”. Até por isso os músicos gostam de dizer que estão no rock rural de passagem. No futuro, preveem discos menos fechados em um único tema, mas fiéis a uma proposta estética, baseada em um olhar constante para o passado e para a tradição musical, para o que de melhor se fez no rock mundial e nacional durante meio século – Beatles, Beach Boys e Mutantes, pra ficar em três.
De passagem por Florianópolis na mesma semana em que tocaram no projeto Supernovas, com Fernanda Takai, a banda conversou com o Scream & Yell sobre o passado, presente e futuro, conspirações cósmicas e sobre o show com Fernanda, confiante nos rumos que tomam. Nas palavras de Bonifrate, “há um tempo a gente sabe que se souber dentro de nós mesmo que o lance vai dar certo, simplesmente vai dar certo”.
Como foi o inicio da banda?
Pedro Bonifrate: Eu era amigo do Diogo Valentino já há muito tempo, desde adolescente. Eu tava morando no Rio, ele ainda estava em Paraty e acabou indo pro Rio. Chegando lá, a gente começou a pensar em montar uma banda, eu tinha conhecido o Régis (primeiro baixista do grupo) e a gente acabou fazendo o Supercordas. Naquela época não tinha bateria, só um discman com umas batidas programadas, então às vezes o CD arranhava, era na raça o negócio. E aí com o tempo a gente foi começando a ter mais estrutura e colocou o Filipe Giraknob na guitarra e o Cabelo Wakaplot na bateria. E agora o Caue entrou pra dar uma força nas guitarras, dar uma engordada no som.
E de onde vocês tiram inspiração para as músicas?
Bonifrate: De tudo, e principalmente de música mesmo.
Diogo Valentino: Ao contrário dessas bandas que dizem “a gente não é influenciado por música, só vemos filmes B antigos”, a gente escuta música mesmo. É praticamente tudo cara, não dá pra ter uma resposta objetiva sobre isso.
Bonifrate: É tudo mesmo, porque tem uma galera dizendo que a gente é muito rural, e toca rock rural, por causa desse disco, mas não é o propósito. Foi só um disco que é fechado neste conceito, mas a gente não é uma banda de rock rural.
Valentino: Na verdade nem é tão fechado nesse conceito, se você ouvir “Sobre o Calor”, ela fala de cigarros e sol, nadando feito estrelas…
Bonifrate: É uma letra urbana. E no fim, os seres verdes e isso tudo é uma grande metáfora, e um pouco além da metáfora, pra falar de gente.
Valentino: De gente, de drogas, de amor…
Bonifrate: De coisas que passam na sua cabeça enquanto você está dormindo, de tudo. “Seres Verdes” é só um nome e as letras das músicas tem essas referências rurais.
E como é ser uma das 13 bandas que realmente importam no rock pela revista Bizz mesmo antes de lançar um disco?
Valentino: Eu acho que não é… aquilo foi muito aleatório, foi invenção deles. Acho que é uma grande mentira. Não tem como a gente saber. Se a gente fosse o Rolling Stones ai respondia em cinco linhas como é essa sensação.
Bonifrate: Mas foi legal, sei lá, foi a primeira vez que a gente saiu numa revista de porte, e o cara que escreveu, o Cláudio, acabou virando nosso amigo. Ele é um cara legal pra caramba, e diz que não precisa nem pensar sobre o que a gente faz, ele escuta e já diz sobre o que a gente tá falando. Dá até vontade de colocar ele pra dar as entrevistas.
Mas sair na Bizz mudou alguma coisa no reconhecimento de vocês?
Bonifrate: Foi o primeiro passo, aí começaram a acontecer coisas. Teve o concurso da Capricho.
Valentino: Não dá pra saber se foi um acaso e várias coisas aconteceram ao mesmo tempo ou se uma coisa levou à outra. Mas foi tudo mais ou menos ao mesmo tempo. A Bizz era, na época, a única revista de porte que falava de música em geral, que não fosse específica como a Guitar Player.
Bonifrate: E foi mais ou menos na mesma época em que chamaram a gente pro Bananada, e as portas foram abrindo. A gente começou a fazer mais shows e logo depois começou a gravar o disco. Com o disco pronto ficou melhor ainda, tinha um produto legal pra divulgar, e ai a coisa foi crescendo. Acho que o segundo grande passo está sendo agora mesmo, a gente ta aparecendo na TV e tal.
Valentino: Eu quero saber qual o terceiro grande passo.
E vocês não têm ideia nem planos do que seria este terceiro grande passo?
Bonifrate: Não, a gente só sabe que tudo vai dar certo porque, há um tempo já a gente sabe que se souber dentro de nós mesmo que o lance vai dar certo, simplesmente vai dar certo. Porque o universo é feito de teias de conexões harmônicas entre absolutamente tudo que existe. Tudo é por acaso, mas o acaso é o próprio Deus e senhor de toda existência, do acaso vem toda a harmonia do Cosmos.
No último disco vocês fizeram arranjos mais orgânicos, mais acústicos, tem bastante diferença entre o single de “Ruradélica” e o disco em si.
Bonifrate: Primeiro que a gente tinha mais recursos, os outros discos foram feitos em casa, com gravador de fita, com batida eletrônica, não tinha como gravar bateria. E por isso, mesmo sendo em fita, acho que eles soam mais elétricos.
Valentino: É, e tem a temática abordada, principalmente no segundo, “Satélites no Bar”, que a ideia era ser meio espacial mesmo. Então a gente procurou esse som, mesmo com uma mega falta de recursos e uma mega falta de capacidade timbrística de saber exatamente o que queríamos. A gente simplesmente fazia e sabia que o que estava sendo feito casava com o que a gente queria, não é porque a gente pensou “precisa desse pedal porque vai fazer isso, e a guitarra tem que ser assim assado”. A gente fazia, soava bem e era o jeito que saía. O “Seres Verdes” veio mais num esquema de canções com violão.
Bonifrate: E com o computador você pode gravar quantos canais quiser, então a gente fica meio descontrolado e sem limites. “Vamos colocar um cravo aqui nessa parte, três vocais harmonizando”. Se pudesse a gente colocava duas baterias. E na verdade nossa meta sempre foi esse excesso de coisas, a gente só não fez nos EPs anteriores porque não tinha como. Eu imagino que vai chegar um ponto em que a gente vai querer fazer mais simples, com menos elementos e tentar fazer com que um canal de guitarra preencha toda a música em vez de colocar mil coisas. Hoje em dia a gente não se controla muito, não.
E o concurso da Capricho foi essencial para vocês fazerem o disco?
Valentino: O concurso não, o prêmio. O concurso em si foi um lixo. O prêmio veio numa ótima hora. Porque quando saiu na Bizz a gente ficou “legal, mas e aí? Como vamos fazer esse grande lance virar alguma coisa?”
Bonifrate: Eu lembro que na mesma semana veio o convite pro Bananada e na mesma semana veio o e-mail do concurso, dizendo que éramos uma das seis bandas selecionadas pro concurso No Capricho/Trama Virtual. Aí eu fiquei “alguém se inscreveu nesse lance?”, e lembrei que eu tinha inscrito porque vi lá “36 horas de estúdio na Trama”. Me inscrevi tipo “claro que não vão chamar”, eu achava ia ser só bandinha de punk e de hardcore mirim. Mas não, chegou lá tinha um pessoal que a gente gostava, as meninas do Voz Del Fuego lá do Rio, ai a gente ficou meio descrente, tocou, ficou mais descrente ainda que ia ganhar. E no final, a gente ganhou.
Valentino: Não se sabe como.
Bonifrate: Aí foi ótimo. Eu já ouvi gente dizendo que gravamos o disco inteiro no estúdio da Trama, mas na verdade cerca de 20% do disco foi gravado lá, todos os canais de bateria, alguns violões e vozes principais. A maioria do disco foi feita em casa.
Valentino: Gravamos os baixos, ai chegamos em casa e regravamos os baixos, porque eu não gostei do som. Não foi uma coisa “ah, você vai pra Trama e você resolve sua vida”. É claro que a gente é cascudo de gravação, a gente não é muito cascudo ao vivo, mas em gravação a gente tem um ouvido e fala “foda-se se foi gravado em um estúdio, eu prefiro ir pro meu quarto e gravar porque eu acho que vai soar melhor”.
O resto do disco foi gravado em casa?
Valentino: Totalmente. Sem isolamento acústico, com um microfone Le Son que custa, sei lá, R$ 90, um computador e um vizinho gritando na janela “porra!”.
Bonifrate: E uns sapos e grilos vazando, porque gravamos uma parte em Paraty. Mas daí estava ótimo, era a ideia do disco, sons naturais vazarem.
O “Satélite” foi espacial, o “Seres Verdes” foi rural. A tendência é continuar fazendo discos temáticos?
Bonifrate: Não. Mas assim, ainda que você não dê um nome pro disco tipo “Seres Verdes ao Redor”, ele vai ter um conceito.
Valentino: Só fazendo um aparte, eu vi esses dias uma entrevista do Lenine que eu quase vomitei. Ele estava falando algo que vai totalmente contra a minha concepção do que um disco deve ser, algo tipo “ah, eu não me preocupo com nada, eu simplesmente faço e junto tudo que eu acho que é bom e ponho”. Pô, vai pra casa do caralho!
Bonifrate: Essa pretensa espontaneidade me irrita profundamente.
Valentino: Pô, você está fazendo um álbum ou está montando uma coleção de jingles?
Bonifrate: Isso não tem nada a ver com arte, com escrita de nada. A arte é uma coisa pensada, mesmo que você pense muito pra ela soar espontânea no final você vai pensar na coisa. Nenhum escritor, ah, sei lá, tem os surrealistas… Acho que o lance é muito pensado no que você faz e como vai sair. E dentro dessa ideia, acho que mesmo que o disco não tenha uma coisa tão direcionada ele vai ser fechado com o tema dele, não vai ser só um conjunto de canções que não tem nada a ver uma com a outra. Mas a tendência é abrir esse lance de conceito, não ficar tão fechado. O “Seres Verdes” foi legal porque a gente fez um lance que era super fácil das pessoas entenderem, tanto que eu nunca vi uma resenha, talvez uma ou outra, que fugisse completamente do conceito do disco. É fácil, as pessoas dizem “é um disco pra você botar no discman e deitar na grama ou passear pela roça e ouvir”. E era essa a proposta. Mas o próximo vai ser bem mais diversificado nas ideias, as canções falam de tudo mesmo.
Vocês tocaram no projeto Supernovas com a Fernanda Takai. Como foi a experiência?
Bonifrate: Foi genial, maravilhosa. A Fernanda é absurdamente legal, linda e amável, ficou todo mundo apaixonado por ela. Foram dois shows em um dia e ela deu a maior força, foi muito firme no palco, porque a gente ensaiou só de manhã antes do primeiro show.
Valentino: A gente combinou com ela por e-mail, ela topou, achou super legal. Aí a gente deu um tempo, retomou o contato e ela respondeu dizendo que achava legal cantar “Ruradélica”. A gente sugeriu também “Sobre o Frio”, até porque casava com a voz dela. Íamos passar o som um dia antes e ela ia ter um tempo enorme pra ensaiar, ver o que ia fazer, mas o vôo dela atrasou, e a gente tinha MTV pra fazer logo em seguida e não pôde esperar. No dia seguinte de manhã ela chegou, o show era à uma da tarde, a gente tinha que terminar a passagem ao meio dia. Onze e meia ela subiu no palco e ensaiamos duas vezes. Ela é muito precisa, canta muito bem.
Bonifrate: E tem um lance a ver com a gente, a gente se amarra no Pato Fu.
(Nesse momento a entrevista é interrompida por barulhos de um sapo coaxando. É o celular de Valentino tocando)
E o Pato Fu então é um referencial pra vocês?
Valentino: Referencial não.
Bonifrate: É claro que é.
Valentino: Depende do que você entende como referencial.
Bonifrate: Eu não acho que tenha influência musical forte, mas rola uma identificação com eles.
Valentino: Concordo.
Bonifrate: Eles são “A” grande banda brasileira que trabalha com tecnologia de uma maneira real, inventiva e tudo mais. Eu gosto bastante. Acho que mal ou bem, harmonicamente, eles têm algumas estruturas de canções que tem a ver com a gente, mas que soa completamente diferente.
E quais são as outras bandas brasileiras que vocês gostam?
Valentino: Júpiter Maçã.
Bonifrate: A gente gosta muito de umas bandas que são de amigos nossos, não porque são de amigos, mas porque a gente realmente acha eles geniais. Tem o Telepatas, de São Paulo, uma banda chamada Filme, do Rio, Lulina. Música brasileira dos anos 70, clássica, a gente houve muito Elomar, essa violagem. Nos anos 80 e 90 a gente até acompanhou a música brasileira, mas não nos emociona. Acho que agora estão brotando bandas que são muito melhores que qualquer uma dessas duas décadas perdidas. O Pato Fu veio nos 90, mas é uma exceção, Los Hermanos também. São exceções que abriram portas. Olhando por um lado, acho que sem os Hermanos e o Pato Fu, bandas como nós não existiriam.
Valentino: Não teriam força pra que as pessoas abraçassem essa causa independente.
Bonifrate: Fora isso é tudo tão ruim, tão porcaria, tão evitar qualquer coisa que te faça pensar um segundo sobre alguma coisa, tudo muito deprimente e deprimentemente alegre, escapista, que essas bandas (Los Hermanos e Pato Fu) acho que são um oásis na história toda.
Vocês tem raízes em Paraty…
Bonifrate: (interrompendo) Acho que mais o caule em Paraty. Ninguém nasceu em Paraty realmente, mas eu vivi mais de 15 anos lá, de infância, adolescência. O Valentino também viveu um tempão.
A Festa Literária de Paraty tem alguma influência em vocês?
Bonifrate: Influência não. A gente vai lá pra paquerar as turistas. (risos gerais) Na verdade tem algumas palestras que eu vi ali que marcaram, mas pelos caras, não pela festa. Tem algumas coisas que eu cito até hoje, principalmente a do Ferreira Gullar. E pensando agora em diversos aspectos tem muito a ver com a nossa onda. Eu lembro do Ferreira Gullar dizendo que temos que ser um pouco mais tradicionais pra parar com esse futurismo desenfreado de, sei lá, você vai fazer uma poesia e acaba sendo um monte de ponto de exclamação e símbolos matemáticos e, dá um tempo, onde isso vai levar a gente? A paranoia pela inovação é uma coisa meio nociva. E a gente abraça completamente isso. Completamente nem tanto porque a gente tem o Filipe, e a onda dele é toda eletro-acústica, muito contemporânea e erudita. Mas a gente não tem nenhuma pretensão de inovar em nenhum ponto que não seja inovar porque somos nós fazendo e não outra pessoa. Essa é a grande inovação que uma banda pode ter, musicalmente, é você fazer algo que é seu e de ninguém mais. Você vai sempre se apropriar das tradições que vieram botando no caldeirão recente da coisa.
O Charme Chulo ano passado disse que, pela proposta estética, só poderia ter surgido em Curitiba. O Supercordas…
Bonifrate: (interrompendo) Só poderia ter nascido em Minas (risos).
Valentino: Só em Santa Teresa, Belo Horizonte. Ou em algum interior daqueles.
Bonifrate: Ou seja, pra gente não se aplica. Ninguém é de Minas. Acho que a gente poderia ter surgido em qualquer lugar do Brasil, porque tem muito pouco de carioca na nossa música. Muito pouco mesmo.
Valentino: Praticamente nada.
Vocês dizem que foram congelados nos anos sessenta e acordaram no ano 2003. Vocês acham que são uma banda fora do seu tempo?
Bonifrate e Valentino (juntos): Não, muito pelo contrário.
Bonifrate: Na verdade isso ai é tudo mentira. Nós somos pesquisadores de música do século XXV e a voltamos no tempo pra participar do grande movimento da década de 10 do começo do século XXI que revolucionou tudo. Mas não, a gente não é fora do tempo. A gente é bem do nosso tempo mesmo. Apesar de ser tradicional isso não significa estar fora do seu próprio tempo, muito pelo contrário. Você tem que saber o que está fazendo no seu próprio tempo.
O Ricardo Alexandre, da Bizz, na crítica do disco, disse que vocês não têm o menor ímpeto adolescente de chocar o ouvinte. Vocês concordam com a afirmação?
Bonifrate: A gente pode até surpreender, acho que pode ter um ímpeto adolescente aí. Não sei, fazer uma faixa de dez minutos repetindo alguma coisa talvez seja legal, mas não é pra chocar, acho a palavra meio forte. Mas surpreender as pessoas é bom. Talvez mesmo esse disco que a gente fez seja surpreendente. Numa época de um monte de adolescente gritando e fazendo coisas distorcidas na guitarra, viemos com um disco melodioso, cheio de arranjos sofisticados. Então acho que é surpreendente, depende do ponto de vista. Mas acho que podemos surpreender pegando mais pesado no próximo, talvez…
Vocês já tocaram em algum teatro antes? (O show em Floripa foi no Teatro Álvaro de Carvalho)
Bonifrate: Já, mas não como esse, enorme, clássico, com balcão, lustres gigantescos, palco enorme e piano de cauda.
E vocês acham que o som de vocês, especialmente desse disco, se adapta bem ao teatro?
Bonifrate: Eu acho que até melhor que um show de balada. Na balada, mal ou bem, as pessoas estão ali bebendo, flertando, se divertindo, e eu gosto da idéia de tocar pra um monte de gente sentadinha. Tem alguns shows nossos em balada que dão certo, as pessoas se empolgam, vira um rock’n roll. A gente tem feito shows mais rock do que o disco, até em teatro mesmo. Só que eu gosto muito da idéia de tocar pra um pessoal que tá ali sentado pra ver a gente tocar.
Valentino: Mesmo porque não dá pra dizer que você não pode sentar e ouvir rock. Claro que pode, eu faço isso todo dia. Eu ouço um disco do Nirvana, não preciso ficar ali na frente bebendo e pulando; simplesmente sento e ouço o que está se mostrando.
E como transportar os efeitos e detalhes do disco pro show?
Valentino: Diz pra gente, porque ainda estamos descobrindo.
Bonifrate: Fora o Filipe fazendo o trabalho de texturas dele em todo show é muito difícil transportar isso pro disco.
Valentino: A gente não se preocupa com isso na hora de fazer o disco. Não ficamos pensando “não vamos colocar isso porque não vai dar pra reproduzir. Ah, são dez vozes e no show são duas”. A gente simplesmente faz.
Bonifrate: Nós vamos, digamos assim, empurrando os limites com a nossa capacidade. Por exemplo, em alguns shows a gente levou a viola caipira pra tocar, só que ela dá muito problema, é difícil de afinar no palco, não conseguimos colocar uma captação decente nela, ai acabamos deixando de lado. Então essas coisas são muito difíceis de reproduzir.
Valentino: Uma coisa que eu acho interessante, por outro lado, é você fazer um show onde as pessoas vão ver a música de uma outra maneira. Porque o disco ta ali, até é legal você sentar e ver a música ser executada como ela foi gravada, mas, então, qual é a grande graça do ao vivo?
Bonifrate: Os meus discos ao vivo favoritos são discos que os arranjos são completamente diferentes. Dylan em 66 no Albert Hall, o Spiritualized em 97 no Albert hall também, discos que neguinho pegou as faixas do disco e fez outra coisa com elas. Eu gosto também quando a banda faz direitinho o que tá no disco, mas daí é outro espírito. Como a gente tem esse problema de não ter 15 pessoas e equipamentos geniais pra levar pro palco e tocar a gente realmente faz um lance que soa diferente do disco.
E pra terminar, vocês já estão começando a planejar o próximo álbum?
Bonifrate: Tem muitas músicas na cabeça. Só que um pouco diferente, porque no “Seres Verdes” as letras pelos menos são quase todas minhas, e no próximo já vamos ter mais colaborações. O Filipe já tá fazendo canções, o Valentino tem pelo menos uma já feita e eu tenho umas oito ou nove que já tão fechando, a gente já sabe como vai começar, como vai terminar, e o meio deixamos por último. Ele tá quase fechado na cabeça.