O primeiro passo da gravadora foi dado com o excelente “Vou Tirar Você Desse Lugar”, de 2005, tributo ao cantor e compositor Odair José, que colocava famosos como Pato Fu, Paulo Miklos e Zeca Baleiro ao lado dos quase famosos Los Pirata, Mombojó e Terminal Guadalupe, entre outros, e faturou o prêmio de Melhor Projeto Especial daquele ano, pela APCA. O cuidado e a ‘finesse’ deste primeiro projeto coloca “Eu Não Sou Cachorro Mesmo”, segundo projeto, na parede. Desta vez, a gravadora abre o leque colorido e melodramático do cafona não se centrando apenas em um compositor, não flerta com o mainstream nos convidados e a qualidade das versões se mantém muito mais no meio do campo firulando do que no ataque. O resultado, ao final do jogo, é um empate com belos lances nos melhores momentos.
Entre as belas jogadas deste time de novatos querendo rever as glórias da seleção de 70 destacam-se os portugueses do Clã criando climas para “Tortura de Amor”, de Waldick Soriano; o quase Pato Fu (Fernanda, John e Lulu Camargo com Alda Rezende e Érika Machado) brincando de ser jovem-guarda em “Esconda O Pranto Num Sorriso”; os recifenses do Rádio de Outono com uma excelente versão de um original de José Augusto, “De Que Vale Ter Tudo Na Vida”; Érika Martins e Telecats colocando as guitarras a serviço de Diana e sua “Ainda Queima a Esperança”; e Frank Jorge, ótimo em “A Dama de Vermelho”.
Num segundo plano aparecem clássicos como “Sorria, Sorria” (com os Movéis Colônias de Acaju), “Você é Doida Demais” (Los Diãnos) e “Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme” (Laranja Freak), que até funcionam na nova roupagem, mas não conseguem arranhar a grandeza das versões originais (o maior desafio em um tributo – raramente alcançado – é fazer com que a versão supere o original). Entre as boas faixas ainda vale citar “Eu Te Amo Meu Brasil”, de Dom e Ravel (com o Fino Coletivo) e “Retalhos de Cetim”, de Benito de Paula (com Os The Darma Lovers).
Ps1: o Rádio de Outono também brilha no Tributo ao Ronnie Von, com uma excelente versão da canção “Espelhos Quebrados”.
Ps2: a versão de “Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme”, do Laranja Freak, é bem melhor que a do Mundo Livre S/A, do tributo “Reiginaldo Rossi”.
Ps3: Aliás, vale procurar este “Reiginaldo Rossi – Um Tributo”, que traz versões divertidas e matadoras para clássicos cafonas como “A Raposa e as Uvas” (por Lenine), “Pedaço de Mau Caminho” (por Lula Queiroga), “Era Domingo” (por Zé Ramalho) e “Garçom” (por Otto).
Ps4: Do capítulo “ouça o disco, leia o livro”, procure o último: “Eu Não Sou Cachorro, Não – Música Popular Cafona e Ditadura Militar”, escrito por Paulo César de Araujo (Editora Record). Obrigatório.
Eu Não Sou Cachorro, Mesmo, vários (Allegro Discos)
Preço em média: R$ 25
Olá, Marcelo!
Interessante um texto sobre uma coletânea de repertórios “Bregas”. Contudo acredito que a música está muito além do preconceito contido em rótulos, principalmente quando se tem a automática parceria MÚSICA/DANÇA, coisa que acontece bastante nesse tipo de repertório, o “Brega”.
Na minha terra natal, Belém do Pará, “Brega” tem uma definição particular e totalmente avessa ao que entendemos por brega. Lá, “Brega” é poder ser diferente, é ter entusiasmo e autenticidade entre outras definições possíveis.
Uma das coisas mais “Bregas” por lá é uma Aparelhagem denominada Brasilândia, que arrasta multidões nas sedes, clubes, etc.. tocando músicas do repertório do citado disco da matéria.
Tão “Brega” quanto o som dessas músicas é o espetáculo que os “dançarinos” fazem ao som de “Tortura de Amor”, “Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme”,…
Até entendo o rótulo brega para esse tipo de música, mas não me agrada como, na grande maioria das vezes, a música denominada brega é vista por muitas pessoas.
Espero que esta matéria ao ser lida faça com que algumas pessoas deixem de ver com certo menosprezo músicas que agradam pessoas ainda hoje.
Grnde abraço.
é nessas horas que a música estrangeira tira onda. enquanto o waldick diz que não é cachorro, o iggy pop dizia que “adoraria ser cachorro” em referência ao “eu não sou cachorro, não” em formato blues de um daqueles bluesmen com nome de cego. atitude, né!
Essa história de versões e tributos pode parecer nova, mas minha banda, a TudocorE, já fazia isso desde 2003, com versões de Roupa Nova, Bozo, Trem da Alegria, Moacir Franco… Tudo isso misturado com Metallica, Rush, Black Sabbath, psicodelia…
Aliás, a banda Olhos de Guaxinim também faz versões só de músicas bregas, mas misturando noise ao molho.
Mais uma prova de que o rock rendeu-se ao brega. Ainda bem!