por Marcelo Costa
Woody Allen retorna à comédia em “Scoop – O Grande Furo”, seu trigésimo quinto filme na carreira, segundo seguido com Scarlett Johansson como protagonista (e ela já está escalada para outro filme do diretor). Após filmar com a atriz o drama “Match Point” em 2005, seu melhor filme nesta década (e um dos melhores em sua carreira), Allen volta a fazer aquilo que mais gosta de fazer: piadas. Não à toa, Allen está cada vez mais parecendo nosso Renato Aragão, e o filme parece ter retirado seu roteiro de algum episódio do desenho Scooby-Doo.
A ideia central de “Scoop – O Grande Furo” gira em torno de uma jovem jornalista que ganha uma grande reportagem de bandeja, o que no jargão da profissão é conhecido como furo. Sondra (Scarlett) é a Velma da hora. Usa roupas largas, óculos, se enrola toda na hora de falar e não tem um pingo de sex-appeal. O único momento em que a atriz exibe beleza no filme é registrado em palavras: “Não consigo esquecer você vestida de maiô”, diz o conquistador para a mocinha em certo momento. A Dafne, no filme, é Vivian (interpretada por Romola Garai), loiraça cuja única função no roteiro é desmistificar a beleza de Scarlett. Através de sua atriz queridinha do momento, Allen avisa que, aqui, a história é outra.
O tal furo que cai do céu no colo de Sondra conta que um famoso ricaço, filho de um Lorde (lembre-se, estamos novamente na Inglaterra), está matando prostitutas na noite de Londres (assim como Jack, o estripador, o mais famoso serial-killer das Ilhas). A rigor, o singelo rapaz manda suas vítimas para a outra vida e deixa sua marca sobre o corpo frio da morta: uma carta de tarô. Conhecido como Assassino do Tarô pela forma com que batiza seus crimes, o serial-killer é manchete em todos os jornais, e quem desvendar sua identidade estará escrevendo seu nome na história.
Sondra não tem experiência alguma com jornalismo profissional (ela escreve apenas no jornal da escola), e acaba pedindo ajuda ao mágico Splendini (Woody Allen), um norte-americano que odeia a cidade inglesa, não entende como as pessoas podem se acostumar dirigindo do lado direito do carro, e que adora fazer piadas sobre judeus e o sistema de classes britânico. Em uma intensa procura por pistas, Velma e Salsicha se metem em confusões enquanto tentam montar o quebra-cabeça criminoso. Vale registrar a boa atuação de Ian McShane, no papel de um jornalista que tenta subornar até a Morte. E é isso. Só isso.
Quem admirou o brilhante roteiro de “Match Point” irá se decepcionar com “Scoop”, que exibe um Woody Allen desleixado com os personagens, com as situações e com o rumo da trama, que até soa interessante depois que a ficha cai, mas história principal e história secundária se misturam tanto, se enrolam e se atrapalham que acabam ambas por se diminuírem. Um exemplo de que Woody trabalhou menos em “Scoop” é a duração do filme: 96 minutos contra 124 de “Match Point”. Não significa nada, ainda mais que os clássicos do cineasta são todos “curtinhos”, mas 15 minutos a mais fariam uma diferença e tanto no resultado final do filme, e por isso a duração acena de que o norte-americano filmou com pressa e descuido.
Então “Scoop” é ruim? Longe disso. É uma comédia tradicional woodyalleana que chega ao nível de “Trapaceiros”, primeiro filme do cineasta nos anos 2000, e está bem acima das obras menores que vieram na sequência, como “Igual a Tudo na Vida”, “Dirigindo no Escuro” e “O Escorpião de Jade”. No entanto, assim como “Trapaceiros”, este “Scoop” está bem atrás de histórias clássicas como “Annie Hall” e “Hannah & Suas Irmãs”. E “Match Point”. Ao voltar ao seu modus-operandi, Allen fez um filme até gostoso de assistir, mas que só interessa quando se está dentro da sala de cinema. Alguns podem até defender que isso é cinema, e realmente pode ser. Mas não é Woody Allen, não é.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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