“Ao Vivo”, Graforréia Xilarmônica (Senhor F Discos)
por Marcelo Costa
10 de novembro de 2001, Festival Upload, Sesc Pompéia, São Paulo. A Graforréia Xilarmônica, que havia encerrado suas atividades em janeiro de 2000, iniciava seu mantra de um show anual, e fechava a segunda noite do festival paulistano com um show inesquecível. Após sei lá quantas músicas, com o limite visual entre banda e público inexistente, a organização do Sesc Pompeia opta por encerrar o show na força (melhor, na falta de força). Desligando o som, o Sesc põe fim a um grande show. Ou pensa que faz isso: pedindo silêncio, os três integrantes fazem ainda mais uma música, com os instrumentos desligados, o público cantado em coro “Colégio Interno”, e só mesmo quem estava no local naquele momento pode relembrar a emoção pós show. Uma fila se formou para cumprimentar a banda, ainda no palco.
A consagração daquela apresentação paulista meio que funcionava com um pagamento de dívidas do público com a banda. Uns dos principais expoentes do rock gaúcho, a Graforréia, que havia encerrado as atividades em 2000, tinha deixado como legado dois álbuns salpicados de momentos antológicos (a estreia, “Coisa de Louco II”, de 1995, e “Chapinhas de Ouro”, 1998), e quase nenhum reconhecimento. As coisas começaram a mudar quando o Pato Fu sacou duas covers da Graforréia, tornando conhecidas as faixas “Nunca Diga” (gravada no álbum “Televisão de Cachorro”) e “Eu” (em “Ruído Rosa”), e principalmente com o blá blá blá em torno da cena gaúcha circa 2000, com Bidê ou Balde, Video Hits e a carreira solo de Wander Wildner. Após o show do Upload, em 2001, os shows anuais da Graforréia tornaram-se regra, e ano a ano a banda passou a aumentar sua freqüência de visita aos palcos, chegando a se apresentar seis ou sete vezes por ano.
Gravado no Manara Bar, em Porto Alegre, em 2005 (ano em que oficialmente o trio voltou a ativa), “Ao Vivo” serve como uma excelente carta de apresentação dos gaúchos, principalmente porque os dois álbuns oficiais estão fora de catálogo (e a primeira demo, “Com Amor, Muito Carinho”, de 1988) e são disputados a tapas em sebos. Das 19 músicas, quatro inéditas: “Enchente de 41”, “Sapato Alto”, “A Técnica do Baixo Elétrico” e “40 Anos”, uma bonita ode a vida após quatro décadas (“Nós todos temos quase 40 anos na cara / Quase não temos tempo para ver os filhos / Em nossa mente imaginamos estribilhos”). Fora isso, clássicos como “Patê”, “Bagaceiro Chinelão”, “Eu”, “Nunca Diga”, “Meus Dois Amigos”, “Empregada”, “Rancho”, “Literatura Brasileira” e “Amigo Punk”, (a mais aplaudida e cantada em todas as apresentações da Graforréia), entre outras, garantem a felicidade do ouvinte. Como bem definiu o escritor Luis Fernando Veríssimo, “a Graforréia Xilarmônica é tudo que você ouviu nos últimos 40 anos (mesmo que só tenha 17)”.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Cara, eu estava neste show do upload e realmente foi um lançe histórico para todos os que apreciam uma boa música. A Graforréia é uma das poucas bandas do mundo que possui um acervo completo de músicas intrigantes que nos fazem viajar para lugares distantes e nos deixam muito felizes por saber que existe vida inteligente dentro da Terra!
e o mais interessante foi perceber que no momento em que eles tocaram Colégio Interno sem energia nenhuma, todo o público estava aflito, mas ao mesmo tempo em silêncio. Assim era possível a banda tocar a música e deixavam o refrão para a platéia se esguelar. Foi demais!!!
E quem ainda acha que não existe “roqueiro” consciente?!
LiPa