“O Terminal Guadalupe é seguidor do rock político dos roqueiros dos anos 80, em especial Legião Urbana. Bandas políticas sempre correm o risco de cair na pregação, mas o grupo possui uma sonoridade à prova de chatice. A Marcha dos Invisíveis, o quarto disco do Terminal Guadalupe, com lançamento previsto para março, tem aquele frescor que o roqueiro Ian McCulloch atribui ao ‘pop perfeito’: canções com apelo comercial, mas longe da banalidade, e um som de guitarra como pouco se ouve no rock brasileiro.” Sérgio Martins, Veja, 10/01/07
por Marcelo Costa
O rock nacional está esperando faz tempo por uma banda como o Terminal Guadalupe. Adaptado ao tempo presente, Jon Landau talvez se sentisse orgulhoso se soubesse que sua famosa frase “eu vi o futuro do rock’n’roll” ainda pode definir um artista popular, que busca espaço na mídia enquanto compõe grandes canções no anonimato independente. A espera, no entanto, está chegando ao fim. E o futuro está cada vez mais próximo. “A Marcha dos Invisíveis”, do Terminal Guadalupe, é o álbum certo na hora certa.
Egressos de Curitiba, convivendo em uma cena musical agitada por várias raízes sonoras, o TG está lapidando seu repertório de canções desde 2003, quando o vocalista Dary Jr. lançou o CD “Burocracia Romântica”, trilha sonora de um curta metragem homônimo. Na sequência vieram “Girassóis Clonados” (2004) e “Vc Vai Perder o Chão” (2005), sendo que apenas no último a banda teria sua formação definida: Dary Jr. (voz e letras), Allan (guitarra e voz), Fabiano (bateria) e Rubens K (baixo).
Ajustado musicalmente como um quarteto, o TG passou 2006 tocando pelo Brasil – de Florianópolis para Corumbá. De Araraquara para Brasília passando pelo Rio de Janeiro para receber um prêmio dos leitores de uma revista – e preparando o repertório de “A Marcha dos Invisíveis”, quarto álbum da banda, e que tem tudo para ser o primeiro. Lançados de forma independente, os três anteriores conseguiram arregimentar elogios da imprensa (a Folha e a revista Bizz já renderam elogios ao grupo), conquistar fãs (que elegeram “Vc Vai Perder o Chão” como o Melhor Disco Independente de 2005, em votação da revista Laboratório Pop) e azeitar a formação da banda. E ganhar um novo integrante, o guitarrista Lucas Borba, músico integrado após a gravação de “A Marcha dos Invisíveis”.
O futuro chegou, e o rock nacional nunca se aproximou tanto da qualidade musical e temática de sua banda mais famosa, a Legião Urbana, como o Terminal Guadalupe se aproxima com este brilhante “A Marcha dos Invisíveis”. A comparação é muito mais teórica do que prática, buscando relação na combinação das temáticas analisadas de forma inteligente com um instrumental coeso, que busca suas referências no rock nacional dos anos 80, e as passa pela tempestade de barulho que foi o rock mundial na década de 90. O resultado é definido pela própria banda como pop de garagem: tem melodia, mas nem sempre refrão; tem microfonia, mas sem ser gratuita; tem guitarra distorcida, mas não o tempo todo.
“A Marcha dos Invisíveis” é composto por 10 músicas, várias delas candidatas a sucesso em rádios. É o caso da música de trabalho do álbum, “Pernambuco Chorou”, inspirada no documentário “O Prisioneiro da Grade de Ferro”, e já liberada pela banda para download no endereço do TG no My Space, cujo refrão diz: “Ninguém espera que algo mude / Um sistema tão edificante / Quanto quem vende atitude / Em comercial de refrigerante”.Em “Atalho Clichê”, com um forte riff de guitarra, Dary Jr canta: “Fui embora porque sempre me enganei”. O guitarrista Allan é quem canta a primeira parte da próxima, contando que sua vida é “apenas um recorte do lixo médio oriental”.
O som das guitarras é cristalino e empolgante. Gravado, mixado e produzido no (já mítico) estúdio Toca do Bandido (que já registrou as estréias de Maria Rita e Wander Wildner – e mais gente entre estes dois pólos de interpretes do cancioneiro nacional), por Tomás Magno, “A Marcha dos Invisíveis” é o álbum que pode colocar a música nacional nos eixos, mostrando para um público maior que existe vida e inteligência no cenário independente nacional. Para quem é frequentador deste espaço virtual, vários exemplos de boa música independente foram jogados no colo nos últimos meses. Mas e o grande público? Como fazer com que esse público descubra o cenário independente brasileiro? A maneira mais fácil é descobrir uma boa banda, que prove ainda ser possível juntar A (boas músicas) + B (boas letras). E o TG é esta banda.
Isso fica nítido em canções como a deliciosamente grudenta “El Pueblo No Se Va” e seus fortes versos: “Eu sei que devo e não vou pagar / Porque a conta é da traição / E ninguém quer viver de sobras”. Ou então “De Turim a Acapulco”, e suas frases doloridas: Hoje você vai se cansar de mim / Eu sou o acidente em frente ao portão / O instante que prendeu a sua respiração / E os dias que Nietzsche passou em Turim / Quero fugir para Acapulco e me afundar nas ilusões / Enrolado em trapos que foram cortinas brancas / O despudor só revelou minhas piores intenções / Elas sempre se escondem nas conversas francas”. Na última faixa do álbum, “Praça de Alimentação”, Dary Jr. resgata/adapta Woodie Guthrie – folk singer politizado dos anos 50 que influenciou imensamente Bob Dylan – cantando que “essa guitarra também mata fascistas”.
Entre o amor e a guerra, “A Marcha dos Invisíveis” se revela um disco fundamental para o momento atual do rock feito no Brasil. Ao colocar na praça (lançamento previsto para março) as dez canções que compõe “A Marcha dos Invisíveis”, o TG escreve uma nova página, a primeira na verdade, de um novo capítulo do rock feito com guitarras na linha abaixo do Equador. As próximas páginas ainda estão em branco, e apesar de ser incerto, o futuro está nas letras e melodias das canções que “A Marcha dos Invisíveis”, do Terminal Guadalupe. Caro leitor, depois não diga que não foi avisado.
Oi pessoal, entrei lá na página do terminal guadalupe para baixar a música como vcs disseram, mas não consegui porque não achei o local para acessar. é tudo em ingles e eu não manjo nada de ingles. como faço?
futuro do rock é a %!@$&@#que %!@$&@# sai dessa, tu é muito empolgadinho hein!
fiquei muito curioso pra ouvir o disco após teu texto, mac. principalmente a faixa ‘el pueblo no se va’. mandou bem! vivas ao tg!
Maravilha de coluna!
Eu que conheci Terminal Guadalupe por vc há mais ou menos 1 ano e após ter visto um show deles e ouvir as novas músicas só posso dizer que concordo plenamente com o que disse, Terminal Guadalupe é a melhor banda de rock nacional!
Li sobre esta banda na revista Veja e fiquei muito curioso para escutar. Parece ter postura e pela letra que vi aqui no teu blig não é das piores. Tomara que dê certo, não somente como sucesso mas como referência de qualidade, raríssima hoje no rock nacional.
gostei muito!!
Orgulho de ver o TG a alcançar o patamar que sempre mereceu… Saudades daquela maratona de shows semanais de 2005.
essa letra é boa o suficiente para ilustrar uma matéria sobre a banda? depois de lê-la, fiquei com medo de ouvir o som.
O Terminal Guadalupe tem a excelencia pop para se tornar realmente uma grande banda…agora vamos esperar o tao aguardado disco novo, do qual as previas ja sao bastante convincentes…
Abraços
Ouvi o novo LP no “Acorda Curitiba” e achei muito bom, rockdiprima, vamos conferir no Jocker’s.
Marcelo, nao foi coincidencia a votacao do S&Y ter dado dando valor pra chamada MPB, e nao é de agora que vemos a volta de musicas mais “trabalhadas”, letras com sentido mais poetico,etc…Para mim a banda de ponta disso tudo são os Los Hermanos, mas é com um prazer enorme que vemos bandas menos preocupadas em fazer a cartilha “hype” e se preocuparem mais com a musica. A chamada musica independente no Brasil ja mostrou estar tão carregada de vicios quanto o chamado mercadão (vicios diferentes, porem ambos deixando a musica muitas vezes pra segundo plano). A auto-indulgencia das bandas “indies” nao me convence, assim como esse jornalismo narcisistico (veja o caso da coluna do Thiago Ney sobre o Bob Dylan).É otimo ver bandas com qualidade saindo desse circo decadente. Vida longa ao TG!! Vida longa ao Mombojo!! Cidadao Instigado!! Caetano!! etc,etc,etc…
Abracos…e continue com o otimo trabalho!!
Nossa, o que há de errado com os críticos da atualidade? De que adianta ter mais de 5.000 títulos em casa como referência e se rasgar em elogios para uma banda como o TG? Guitarras clichês, melodias vocais medíocres e vergonhosas. Não é nem um pouco difícil perceber porque o TG só faz sucesso entre indies. É banda de quem quer exclusividade. Não possui nenhum potencial radiofônico. Banda do futuro? Permita-me discordar. É banda ultrapassada, rascunho e reciclada. Todas as frases terminam esticadas: livreeeeee, pensamentoooo, feeeeezzzz, faaaaaaazzz!! Argh! É difícil fazer música assim, é??