My Secret Is My Silence, Roddy Woomble

por Marcelo Costa

Mais de 250 álbuns lançados apenas neste ano se amontoam brigando por um espaço para audição na correria do dia-a-dia. Leitores perguntam: Qual o prazer em ouvir tanta coisa? O prazer, caríssimos, é esbarrar – no meio de tantos bons álbuns e alguns outros esquecíveis – com uma pequena obra prima de delicadeza e sensibilidade como este “My Secret Is My Silence”, primeiro disco solo de Roddy Woomble, vocalista e guitarrista da banda escocesa Idlewild. Formado na segunda metade dos anos 90, o Idlewild soava – nos primeiros discos – como um Smiths passado pelo furacão grunge, nada que chamasse tanta atenção até o quarteto parir “The Remote Part”, terceiro disco da carreira da banda, e sinal de maturidade e bom gosto musical dos escoceses. “American English”, um dos singles do álbum, dava o recado: As boas canções não foram escritas para você / Elas nunca serão sobre você.

Então o peso da idade bateu. Roddy chegou aos 30 anos, achou que era hora de ser pessoal e pariu um conjunto de canções que, segundo ele em seu site oficial, não caberiam no Idlewild, mas são parte dele. O resultado é “My Secret Is My Silence”, um disco em que a música popular escocesa encontra o folk, se apaixona, tem um caso de amor, e rende onze canções emocionais. Segundo o autor, “My Secret Is My Silence” é um disco que versa sobre os espaços entre palavras, a língua do silêncio, que é algo que se vê muito na Escócia, particularmente com os povos mais velhos nas montanhas. É sobre o que nós não dizemos. Sonoridades celtas, melodias de fazendeiros, o country que se junta ao alternativo. Para quem não se lembra, um dos grandes discos desta década, “Yankee Hotel Foxtrot” do Wilco, também versava sobre a comunicação entre as pessoas. Saudável coincidência.

Desta forma, “I Came From The Mountain” abre o álbum escorrendo lirismo. A acelerada “As Still As I Watch Your Grave” é comandada por flauta, acordeom e violino. A belíssima faixa título fala de prédios que foram construídos com sangue e chuva enquanto “Act IV” conta a história de um rapaz que escreve uma peça cujo quarto ato – planejadamente – parte o coração da amada, e “If I Could Name Any Name” praticamente resume todo o pensamento de Roddy transformado num maravilhoso dueto com a cantora folk Kate Rusby. Em “Waverley Steps”, quem brilha é Karine Polwart, outra folk singer. Um dos motivos de “My Secret is My Silence” soar mágico é a boa companhia de que se cercou o líder do Idlewild, gravando o disco em duas semanas acompanhado dos conterrâneos do Sons and Daughters (o baterista David Gow e a baixista Ailidh Lennon, esposa de Roddy) e do violino de John McCusker (produtor do álbum, e marido de Kate Rusby), entre outros.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

Leia mais:
– “A Sentimental Education”, de Rod Jones: folk e country-rock dos anos 60 (aqui)
– Idlewild retorna exalando barulho em “Make Another World” (aqui)
– “The Impossible Song & Other Songs”, Roddy Woomble: doses fartas de melancolia (aqui)
– “The Remote Part”, Idlewild: um trator passando sobre uma formiga (aqui)

10 thoughts on “My Secret Is My Silence, Roddy Woomble

  1. Valeu pela dica. Desconhecia totalmente. E foi um alento ter encontrado o seu blog no ig, já q eu já acompanhava pelo Scream. Valeu mesmo.

  2. Vou baixar isso. Hein Mac, já ouviu “Etiquette” do Casiotone For The Painfully Alone?
    Meu disco preferido do ano.

  3. Ainda não consegui ouvir com calma o álbum, mas o pouco que ouvi me agradou muito. Sou suspeito para falar de algo relacionado ao Idlewild, é uma banda que gosto muito desde o início e principalmente do Remote Part. Me Parece que no trabalho solo Roddy se firma como um ótimo compositor e dono de letras fantásticas. 2007 tem o novo do Idlewild, espero mais um bom trabalho dessa banda que parece cativar justamente por não apresentar nenhuma proposta que possa “mudar os rumos” do rock, apenas faz um som simples e sincero.
    Falow Abraços

  4. Olá, Marcelo, tudo bem?
    Li seu artigo sobre Woody Allen e concordo 100%. Acresecentaria aos 3 destacados por você o Crimes e Pecados.
    abs
    flavio

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