por Jonas Lopes
Beck deu um presentão para os jornalistas de língua inglesa com “Guero”. A sonoridade do novo disco do cantor sintetiza características dos trabalhos anteriores do americano. Portanto, se você se deparar com alguma resenha com o infame título Beck is Back, não se surpreenda.
É, foi um longo inverno. Não que “Sea Change” seja indigno de ser chamado de disco do Beck, pelo contrário. Só que, apesar de ser excelente, o álbum carece da pluralidade e dos experimentos pós-modernos e multiculturais de um “Odelay” ou de um “Mutations”, por exemplo. O que também não quer dizer, necessariamente, que seja inferior.
Está tudo em “Guero”. Riffs marcantes e distorcidos como os de “Devil’s Haircut” (em “E-Pro” e “Rental Car”) e “The New Polution” (“Broken Drum”). Os vocais hip hop de “Loser” (“Hell Yeah”, em particular). Samplers apitando lá e cá, frutos da produção dos Dust Brothers. Refrões pegajosos e cheios de “nananas”. O caldeirão sonoro de ‘Mutations”, que inclui incursões pela música brasileira (na bossa nova pra importação “Missing”) e latina (na deliciosa ‘Que Onda Guero”). O funk dançante e psicodélico de “Midnite Vultures” (“Black Tambourine”). Até “Sea Change” é lembrado, de forma discreta, nas cordas à Gainsbourg que aparecem no final de “Missing”.
Ao revisitar seus temas e apostar em estilos já recorrentes em sua obra, Beck correu sérios riscos. Um deles é soar requentado. Não foi o caso, as músicas são boas. E nem tudo é velho: “Emergency Exit” é um folk com jeito de hino, e na barulhenta “Farewell Ride”, um hard rock meio farofão. Ademais, as faixas de “Guero” estão entre as que possuem mais capacidade de penetração popular de sua carreira. Além do primeiro compacto, “E-Pro”, há uma penca de candidatas a hit: “Que Onda Guero”, “Go It Alone”, “Girl’ e “Broken Drum”, no mínimo.
É claro que algumas restrições são necessárias. Esse não é um disco tão ousado como os daquele Beck que a crítica tanto idolatrava há alguns anos. Seu disco mais completo ainda é “Mutations”, sua grande música o lado-b ‘Deadweight”. Nesse sentido, “Sea Change” tem até mérito maior: é simples, mas ao menos é diferente do resto da carreira do cantor. “Guero” serve mais como aperitivo do que como prato completo. Saboroso, embora pouco indicado pra quem está com muita fome.
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