por Andye Iore
“Under Blackpool Lights”, primeiro DVD do White Stripes, confirma que o duo é daqueles grupos que funciona melhor no palco do que no estúdio. São 26 canções tocadas em 1h16 de um show em janeiro de 2004, em Blackpool, na Inglaterra.
O palco, cuidadosamente decorado com as cores preto, vermelho e branco – que a banda ostenta nas roupas e capas de discos – é ocupado somente por um kit de bateria minimalista de Meg e por Jack que ora empunha uma guitarra, ora um violão, ora vai ao teclado para despejar um rock’n’roll cru e empolgante. A ausência de outros músicos, por incrível que pareça, não faz falta alguma.
O show começa com o resgate ledzeppeliniano de “When I Hear My Name”, do álbum de estreia do White Stripes, que, segundo as notas do encarte do DVD, é uma das músicas mais complicadas para Meg e Jack tocarem. Um riff pesado alternando heavy e rhythm’n’blues, vocal rouco e gritado e a capacidade de grudar refrão no público. Referências que se repetem mais tarde em “Hello Operator”, uma das várias canções inéditas em álbum oficial que marcam presença no show. “Hello Operator” só saiu em um 7 polegadas de edição limitada, em maio de 2000.
Como se não fosse o bastasse ter apenas dois músicos no palco, Jack não se intimida em cantar a capella – e sozinho – uma das canções preferidas de Meg, “Take a Whiff on Me”, de Leadbelly, que ainda é reverenciado pelo público, a pedido do guitarrista, em outra cover, no fim do show, “Ballit of de Boll Weevil”.
A lista de covers, alias, inclui desde os famosos Bob Dylan (“Outlaw Blues”) e Hank Williams (“I Can’t Help It” – “ If I’m Still In Love With You”) até os desconhecidos Screamin’ Lord Sutch (“Jack The Ripper”) e Toledo (“Goin’ Back To Memphis”), além de “Death Letter”, de Son House, que já havia sido registrada no segundo disco do duo, “De Stijl” (2000), e a matadora versão de “Jolene”, de Dolly Parton, inédita na discografia oficial dos Stripes, tendo sido lançada como b-side do single “Hello Operator”, em 2000.
O garage rock de “Black Math”, “Astro”, “Outlaws Blues” e “Let’s Shake Hands” (lançada apenas em um single em vinil) garantem a empolgação do show, mas são com as curtas “Hotel Yorba” (2m15) e “You’re Pretty Good Looking (For a Girl)” (1m28), que a banda mostra como é capaz de fazer a plateia pular e cantar. Isso sem contar o psychobilly “Let’s Build a Home”, que também empolga.
Meg não é mera coadjuvante. Ela mantém o pique durante todo o show e mostra talento ao tocar “Let’s Shake Hands” só com uma das mãos e aceitar o duelo provocativo de Jack em “Death Letter”. O show termina em grande estilo: “Seven Nation Army” é a aula sobre como transformar um riff criado durante uma passagem de som em sucesso planetário.
Para quem não viu o show barulhento que os irmãos protagonizaram no Tim Festival 2004, no Rio de Janeiro, “Under Blackpool Lights” é um excelente aperitivo, com imagem saturada, som no talo e um bom repertório. Das 26 porradas, seis são do álbum de estreia, White Stripes (1999), outras seis são de “De Stijl” (2000), três são de “White Blood Cells’ (2001) e quatro são de “Elephant” (2003). As outras sete são totalmente inéditas no Brasil, sendo duas delas retiradas de lados b de single e as outras cinco nunca gravadas pela banda.
– Andye Iore (@andyeiore) é jornalista em Maringá e Cianorte (PR), fã de Cramps desde 1986 quando ouviu “Surfin’ Dead” no filme “A Volta dos Mortos Vivos”. Apresenta o Cinema na Música na rádio Música FM de Cianorte (89,9 FM) e o Zombilly no Rádio na UEM FM (106,9) e na Alma Londrina (www.almalondrina.com.br) além de ser responsável pelo site Zombilly.