por Marcelo Costa
Christina Ricci é uma gracinha. Sem apelar para tortas, até que Jason Biggs surpreende. E é mais ou menos isso que é possível falar de “Igual a Tudo na Vida” (“Anything Else”, 2003), 33º filme de Woody Allen, um dos cineastas mais geniais de todos os tempos, mas que vem descendo ladeira abaixo nos últimos anos. Hummmm. Pela primeira vez, nos últimos dez anos, bocejei em um filme de Allen. Não que a minha avaliação artística deva ser levada em consideração, mas pela primeira vez um filme de Woody Allen realmente me decepcionou.
“Dirigindo no Escuro” (2002) não era um clássico, mas Allen carregou o filme direitinho até o final redentor. A história de “O Escorpião de Jade” não durava da saída do cinema até a chegada em casa, mas mesmo assim trazia diálogos matadores. E “Trapaceiros” (2000) é daqueles filmes bonitinhos, mas tremendamente ordinários. Mesmo assim, este último é um dos seus melhores filmes recentes.
Nos últimos dez anos, ao menos dois filmes de Allen soaram (e soam) clássicos: “Tiros na Broadway” (1994) e “Poderosa Afrodite” (1995), enquanto “Todos Dizem Eu Te Amo” (1996), “Desconstruindo Harry’ (1997), “Celebridades’ (1998) e “Poucas e Boas” (1999) são filmes bons e acima da média.
“Igual a Tudo na Vida”, porém, não consegue ser melhor do que nenhum dos filmes citados. Pior. Allen volta a fragmentar histórias que os espectadores já viram em diversos de seus filmes, tais como piadas de divã, de judeus e de mulheres a beira de um ataque de nervos ao som do bom e velho jazz.
O grande problema, porém, é que o filme não flui. Os diálogos são longos, cansativos, e parecem que não vão chegar a lugar algum (e às vezes não chegam mesmo). O casal de atores se porta bem. Christina é uma jovem pretendente a atriz enlouquecedoramente encantadora. E louca (como toda mulher, diria Allen). Jason Biggs é um jovem comediante comportado. E perdido (como todo homem, diria Allen). E Woody Allen encarna um escrito veterano, sem sucesso, que banca o conselheiro para o jovem perdido. Não à toa, as melhores piadas saem da boca do cineasta. É muito pouco para a imensa genialidade do diretor, ou então ele está caducando.
O leitor pode perguntar que prazer o espectador sente em assistir um filme de Woody Allen sabendo que o resultado não chegará aos pés de obras clássicas como “Annie Hall” e “Hannah e Suas Irmãs” e que ele vive recontando as mesmas piadas. É verdade que há uma certa decepção em encontrar um Allen menor na sala de cinema. Porém, as piadas de psicanalistas são ótimas (uma, no filme, é sensacional), é possível se reconhecer em algumas falas sobre amores imperfeitos, há bom jazz na trilha sonora e Christina Ricci transpirando excitação.
Allen invade a memória afetiva de seu público com seus filmes, sem nenhum sinal de surpresa, para ambos. É pouco, é muuuito pouco, mas merece respeito.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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