Texto por Marcelo Costa
Fotos por Karina Tengan
Considerada uma das bandas independentes mais importantes do mundo, o Teenage Fanclub realizou no Brasil (Recife, São Paulo e Curitiba) uma série de shows inesquecíveis. Em São Paulo, no Festival Coquetel Molotov no Ar, que aconteceu nos dia 04/05 e 06 de maio no SESC Pompeia, o grupo de Raymond McGinley (guitarra e voz), Norman Blake (guitarra e voz), Gerard Love (baixo e voz) e Francis McDonald (bateria e voz) esgotou 2.400 ingressos em três noites brilhantes de festa, rock e boa música.
Com uma média de 20 e poucas canções por noite, o Teenage Fanclub brindou o público paulista com uma sequência de músicas retiradas de álbuns clássicos da música pop como “Grand Prix” (1995), “Thirtheen” (1993) e “Bandwagonesque”, este último, um dos poucos discos a rivalizar “Nevermind”, do Nirvana, nas listas de melhores de 1991.
No palco, a banda escocesa opta pela simplicidade: apenas os instrumentos, honestidade e prazer em fazer o que se gosta e um repertório de fazer inveja à concorrência. “About You”, “Starsign”, “I Need Direction”, “What You Do To Me”, “Ain’t That Enough”, “Verisimilitude”, “Neil Jung”, “Mellow Doubt”, “Don’t Look Back”, “Sparky’s Dream”, “Everything’s Flows”, “Radio”, “The Concept”, “Metal Baby”… são tantas canções brilhantes (a lista parece infindável) que é difícil acreditar que são todas da mesma banda.
O público, no entanto, acompanhou todas, indistintamente. Mesmo as novas “The World’ll Be Ok” e “Did I Say”, presentes na coletânea recém-lançada no país, já estavam na ponta da língua. De novidade/raridade, uma cover que já havia aparecido em single (“He’d be a Diamond” no primeiro e no terceiro dia), uma antigaça (“God Knows Is True” no segundo dia) e uma bela balada b-side de single (“Broken” no bis do terceiro dia).
A alegria de Norman Blake no palco rememorava a alquimia rara conseguida através da cumplicidade do artista para com o público, quando todos (banda e audiência) estão na mesma sintonia.
O som dos escoceses compila o que de melhor a música já proporcionou ao mundo. Vai de Beatles e Byrds, passa por Neil Young e Big Star, encontra Bob Dylan e Velvet Underground pelo caminho até chegar à inocência (perdida?) de ser jovem no final dos anos 80, cultivando paixão por guitarras estridentes e melodias assobiáveis.
Tudo isso, junto, resulta no Teenage Fanclub, “a melhor banda do mundo”, segundo um tal de Kurt Cobain. Ou a “segunda melhor banda do mundo”, se você perguntar para um tal de Liam Gallagher (que mantém viva a ironia britânica). Nessas três noites, a banda que mais importava no universo. Simples assim.
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Texto por Marcelo Costa
Aproveitando a turnê que o Teenage Fanclub irá fazer pelo país em maio, a Sony Music coloca no mercado a coletânea “Four Thousand Seven Hundred And Sixty Six Seconds – A Shortcut To Teenage Fanclub”. Contendo 21 músicas, a coletânea inclui os hits dos últimos 15 anos de carreira do grupo, e ainda três novas canções.
Cultuado no cenário independente, o Teenage Fanclub está na ativa desde 1989. A banda chegou a ter um vinil lançado no Brasil, o elogiado “Bandwagonesque” (1991). Na sequência, foi editado em CD “Grand Prix” (1995), permanecendo inéditos no país a estreia com “A Catholic Education” (1990), e os demais álbuns: “Thirteen” (1993), “Song From Nothern Britain” (1997) e “Howdy!” (2001).
No final do ano passado, o selo independente paulistano Slag Records colocou no mercado brasileiro o último CD de estúdio do grupo, “Words of Wisdom and Hope”, gravado ao lado de Jad Fair, líder do Half Japanese.
Na versão europeia da coletânea, com capa em formato digipack, uma “piada” brinca com a influência do grupo escocês no cenário rock da década de 90. Mostrando muito senso de humor, os escoceses colocaram na capa do CD uma etiqueta com duas frases, uma de Kurt Cobain do Nirvana, outra de Liam Gallagher do Oasis:
“(Teenage Fanclub) – A melhor banda do mundo”, disse Kurt Cobain.
“(Teenage Fanclub) – A segunda melhor banda do mundo”, preferiu Liam Gallagher
Quem resume com perfeição a carreira do Teenage Fanclub é o escritor britânico Nick Hornby, autor de “Febre de Bola”, “Alta Fidelidade” e “Um Grande Garoto”.
“Quando eu estava escrevendo ‘Alta Fidelidade’ em 94, Barry, um dos caras que trabalha na loja de discos que serve de locação ao romance pregava um cartaz recrutando membros para uma suposta banda. “DEVE GOSTAR DE R.E.M., PRIMAL SCREAM, FANCLUB, ETC.” E estava correto naquele momento: o Teenage Fanclub era o sonho de todo vendedor de loja de discos, meio grunge e subproduzido, com uma fixação séria por Big Star. Desde aqueles dias, entretanto, a sua música tornou-se mais rarefeita e limpa e quase perversamente divertida. É como se eles quisessem inverter a direção dos anos 60: eles começaram com ‘Helter Skelter’ e foram trabalhando até chegar em ‘I Want To Hold Your Hand’. É muito difícil fazer o caminho contrário, claro, porque todos nós começamos jovens e cheios de esperança e terminamos amargos e violentos (ou isto não acontece com todo mundo?), então há algo quase heroico em abraçar este tipo de suavidade; ela parece ter sido ganha arduamente e por isso é ainda mais convincente, analisou Hornby em texto para a revista Mojo (leia na integra aqui).
O Teenage Fanclub se apresenta no país em maio, com shows no Recife, em São Paulo (no Sesc Pompéia – três noites) e no Paraná, no festival Curitiba Pop Festival.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne. Os dois textos foram publicados originalmente no canal de Música do Portal Terra.
Leia também:
– “Jonny”: Para Norman Blake fazer música parece uma coisa extremamente fácil (aqui)
– Teenage, Primal Scream, MBV: “1991: The Year Creation Records Broke” (aqui)
– Três Discos: BMX Bandits (mais Norman Blake e Francis Macdonald) (aqui)
– Teenage Fanclub x BMX Bandits ou “Tears” x “No Future” (aqui)
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– “Man-Made”, Teenage Fanclub, mantém a qualidade da banda em alta (aqui)