texto por Marcelo Costa
“Sumday”, Grandaddy (Sum)
O relativo sucesso de crítica e público conseguido com o arrebatador “The Sophtware Slump” (2000) parece não ter tocado o líder do Grandaddy, Jason Lythe. “Sumday” (2003), o álbum mais novo do quinteto californiano, recém-lançado no Brasil, é mais deprê que tudo aquilo que se convencionou chamar de dark por esses lados. Com seu fio de voz, Lythe pisou no freio, colocou os teclados e os violões à frente, arriscou uns poucos barulhinhos e… entediou. A guitarra distorcida chega a fazer tremer o som na delicada “Yeah Is Head We Had” que não empolga muito, assim como em “El Caminos In The West”. Aliás, as poucas faixas que empolgam parecem rascunhos de “Crystal Lake”, pérola do trabalho anterior. É o que acontece com “The Group Who Could’t Say” e a boa faixa de abertura, “Now It’s On”, que engana o ouvinte pregando uma qualidade que faltará ao álbum nas faixas seguintes. A docinha “I’m On Standby” traz um belo refrão, o que nos faz reconhecer que Lythe é bom para criar canções que grudam na memória. Só faltou um pouco de violência para contrastar com tanta suavidade. Resultado: se você não dormir ali pela quinta ou sexta música, é de se duvidar que você passe sem bocejar pelos 10 minutos das duas faixas que fecham o disco. Mais uma prova que dinheiro e reconhecimento não trazem felicidade. Porém, se há algo impecável no disco é a capa, uma das mais bonitas (senão a mais bonita) do ano. Muito pouco, convenhamos, muito pouco.
Nota: 5
“Pig Lib”, Stephen Malkmus & The Jicks (Trama)
A segunda incursão solo do ex-líder do Pavement, Stephen Malkmus, parece muito mais entrosada que seu primeiro trabalho. Em “Pig Lib” (2003), quase todas as canções trazem bons detalhes de arranjo, muito porque foram bastante testadas ao vivo, várias delas, inclusive, apresentadas nos shows que Malkmus fez no Brasil em 2002. Se vai ficar sempre a sombra da comparação com sua ex-banda (o que, convenhamos, é inevitável), o Malkmus de “Pig Lib” soa como uma continuação de “Wowee Zowee” (1995) do Pavement. As guitarras seguem preguiçosas, parecendo que os riffs não vão dar em lugar algum, como na introdução de mais de minuto de “Water and A Seat”. Em “Ramp of Death” os sintetizadores dão um clima suave a canção (uma das melhores do álbum). Os riffs toscos e o vocal cínico de Malkmus marcam presença em “(Do Not Feed The) Oyster” e na baladinha psicodélica “Vanessa From Queens”. Paira sobre todas as canções um clima de “disco feito na fazenda”, bem setentão. Fogem do clima, “Dark Wave” (que não só no nome remete ao The Cure, que lhe empresta o baixo e a introdução de “A Forest”) e o épico de mais de nove minutos, “1% Of One”, cançãozinha safada que quando você pensa que vai acabar, engata na barulheira e para e vai. E “Us”, faixa que encerra o cd num clima pra cima com Malkmus cantando em dueto com a baixista Joana Bolme.
Nota: 7
“Come On Die Young”, Mogwai (Trama)
Com um atraso de quatro anos chega ao Brasil “Come On Die Young” (1999), o álbum que apresentou o Mogwai ao mundo. Sim, porque após um barulhento e sensacional álbum de estréia, “Young Team” (1997), e uma brilhante coletânea de compactos, “Ten Rapid” (1997), o Mogwai era a banda cujo álbum era um dos mais esperados em 1999. Na contramão, enquanto todos aguardavam um disco barulhento, a banda lançou um álbum sereno, com longos dedilhados e poucas distorções. A crítica caiu de quatro. Mas não era para menos. De cara, na primeira faixa, singelamente intitulada “Punk Rock”, a banda cria uma base cheia de ruídos para que Iggy Pop, em voz e alma, explique em dois minutos o que é o punk rock, da melhor maneira possível, chegando a comparar Johnny Rotten a Freud. Os onze faixas seguintes merecem a etiqueta “sinfonia de guitarras”, como na magnífica “Christmas Steps”, que começa em um profundo silêncio para ir envolvendo o ouvinte até seu ápice ensurdecedor e devolver o cidadão chapado ao silêncio em mais de dez minutos de melodia instrumental. Quem é fã da banda com certeza já tem seu exemplar importado, porém, para aqueles que se surpreenderam com os shows que a banda fez no Brasil ou gostaram de “Ten Rapid” e “Rock Action” (“Young Team” continua inédito no Brasil), “Come On Die Young” é mais um passo no mundo escuro e surpreendente destes escoceses.
Nota: 8
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.