por Marcelo Costa
Esqueçam o Maybees. A história aqui é outra. E melhor. Em “Dois a Rodar” (2003), o quinteto paulistano abraça o rock brasileiro com mãos, dedos, pés, voz e muitas guitarras. O resultado é empolgante, do começo ao fim. A união de um excelente instrumental com o forte vocal de Vanessa Krongold resultou em um repertório conciso e delicado, pop e roqueiro, na mesma medida.
Interessante perceber que a banda alcança, em sua nova vida, a almejada personalidade própria, muito pelo vocal de Vanessa, outro tanto pela qualidade dos arranjos. Há resquício do Los Hermanos de “Bloco do Eu Sozinho“, principalmente no duo de canções que abre o EP, o que apenas melhora as canções. São seis músicas, mais uma na parte multimídia do CD (“Estrelas”) que traz, ainda, vídeo, letras, cifras e fotos.
“Dois a Rodar”, a faixa título, como bem definiu o jornalista Ricardo Alexandre no release, é quase um tango guitarreiro. O vocal de Vanessa convida o ouvinte a “rodar e rodar e rodar” enquanto as guitarras brigam por atenção, impregnando o ar de detalhes. “Da Primeira Vez” começa no clima de onde a anterior parou, mas segue uma linha mais rock. “Até que eu sou uma pessoa legal”, canta Vanessa. Só as duas já valem o CD.
Mas tem mais. Duas faixas suaves: “Aconteceu” é uma balada rock conduzida por piano enquanto “Melancolia”, última faixa a entrar no EP, é meio lounge. E mais duas: “Trânsito” já havia aparecido no CD encartado na revista Frente nº 2. Aqui, ela surge remixada e mais pesada (e mais cheia de detalhes).
E, por fim, “Princesa”, que, além de violões e uma bela melodia, traz a tona àquilo que pode ser o único senão do repertório: quando Vanessa canta, no pseudo-refrão, “Como seria melhor se não houvesse refrão nenhum, mas há” é impossível não analisar a meta-linguagem e perceber que faltam refrões as canções. Nada que desmereça ou atrapalhe, já que as canções grudam de tal forma que poucas audições já permitem cantar junto, mas que seria melhor se houvesse refrão, ah, seria.
Em um ano que o rock nacional passou quase todo o primeiro semestre em silêncio para, de uma só vez, abrigar vários grandes discos em maio/junho/julho, o Ludov surge com um punhado de canções empolgantes. “Dois a Rodar” tem tudo para ampliar o público fiel conquistado pelo Maybees, pois o quinteto conseguiu lançar outro disco para figurar entre os Melhores do ano.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina o blog Calmantes com Champagne