por Marcelo Costa
“Greatest Rock N’ Roll Band in the World” – Supersuckers (Trama)
O colaborador S&Y Roberto Sôlha já tinha cantado a bola meses atrás aqui no site: “Esses quatro caipiras de Tucson que foram pra Seattle quando esta ainda não era considerada a meca do rock são, talvez, a melhor banda de rock do mundo atualmente”. E não é que o cara tem muita pinta de estar certo. Lançado em 1999, “Greatest Rock N’ Roll Band in the World” é uma coletânea com 14 dos mais arrasadores rocks do quarteto e mais 13 raridades compondo um painel de 27 barulhentas faixas que resvalam aqui no punk rock, ali no rockabilly e acolá no country, uma mistura que deveria agradar fãs do Raimundos, se esses gostassem mesmo de porradaria. Duas guitarras duelando abrem o álbum com “Coattail Rider” e as mesmas duas guitarras barulhentas encerram os trabalhos com “Beat To Shit”. Entre elas, clássicos esporrentos de boteco como a acelerada “Saddletramp”, a rockabilly incendiária “Creepy Jackalope Eye”, o (alt) country “Dead In The Water” e a deliciosa “Bad, Bad, Bad”. O encarte é uma sacanagem com o trinômio rocker: a banda vende a alma para o demônio em troca de sexo, drogas e rock and roll. Numa palavra: diversão.
“Evil Heat” – Primal Scream (Columbia)
A maior super banda dos últimos tempos está de volta. O grupo que reúne um ex-baterista do Jesus & Mary Chain, um ex-baixista do Stone Roses e um ex-guitarrista do My Bloody Valentine lança o sucessor do eletro punk “Xtrmntr” sem alterar muito o seu modus operandi. “Evil Heat” é uma sequência do álbum anterior, mas sem tanto peso terrorista nas letras. As baladas lembram por demais Jesus & Mary Chain e, claro, Velvet Underground (como a deliciosa e lisérgica abertura “Deep Hit Of Morning Sun” e a blueseira “Space Blues#2”), enquanto as batidas aceleradas de “Miss Lucifer” remetem a Sigue Sigue Sputinik e Kraftwerk seja a inspiração para “Autobahn 66”. “Rise” (a tal que se chamava “Bomb the Pentagon”) e “Detroit” caberiam perfeitamente em “Xtrmntr” enquanto “A Scanner Darkly” é um blues eletrônico. Faixas guitarreiras também fazem parte do pacote: “City” é irmã mais comportada de “Acellerator” do álbum anterior e “Skull X” é um Rolling Stones futurista. Como curiosidades, um dueto de Bobby Gillespie e a super modelo Kate Moss na eletro balada “Some Velvet Morning” (cover de Lee Hazelwood & Nancy Sinatra) e Jim Reid cantando a eletro esquisita “Detroit” que diz “I destroy everyone i love / I destroy everything i touch”. Nas letras, lisergia apaixonada (“Hey there Girl, summer girl / Suicidal beautiful / I can see, death in me / Death in you, love is good” canta Gillespie em “Deep Hit Of Morning Sun”), sonhos (“Dreaming, I’m still dreaming / Dream of my life ‘til the day that I die” diz a letra sussurada de “Autobahn 66”), ataques a multinacionais (“Rise”) e junkismos (“City”). Ou seja, “Evil Heat” não traz nenhuma grande novidade. É só um álbum muito legal de rock eletrônico. Só?
“Nirvana”, Nirvana (DGC)
Duas são as maneiras de se ver essa coletânea:
1) Você tem menos de 18 anos e quando o quarteto norte-americano fez a fama você estava jogando bolinha de gude na rua, empinando pipa e frequentando o primeiro grau do sistema educacional brasileiro. Para estes, que cultuam a imagem de Kurt Cobain pós-suicídio estampada em badulaques como biografias e camisetas, mas que realmente só conhecem o riff seco e pulsante de “Teen Spirit” e mais nada, “Best Of” é sublime. Disposta em ordem cronológica, a seleção centra foco nos singles. Assim, a balada beatle “About a Girl” não representa a crueza da estreia com “Bleach”, mas sinaliza que mesmo um desajustado também tem coração. Duas faixas da coletânea “Incesticide” (destaque para a pungente “Sliver”) seguem-se desembocando na obra-prima “Nevermind”, representada com apenas quatro faixas. Do tosco e rocker “In Utero” também foram pinçadas quatro canções (não marque bobeira! Ambos os álbuns merecem audição completa) e do honesto “Unplugged MTv NY” surgem a bela “All Apologies” e duas covers, para David Bowie (T”he Man Who Sold The World”) e Leadbetter (“Where Did You Sleep Last Night”). Se você quer saber porque o Nirvana é o Nirvana está tudo aqui, resumido em 15 faixas. Divirta-se. Quebre tudo e sonhe alto.
2) Você tem mais de 18 anos, lembra muito bem do verão de 1992 e sentiu uma pontada no peito quando soube que o cara manchou o teto de sua casa com os miolos que comporam algumas das rock songs mais vibrantes de toda história da música pop. Ok, você já ouviu tudo que está prensado aqui, o lançamento é picaretagem das maiores e a capa é um primor de originalidade. A artimanha de inserir no tracking list uma faixa inédita não convence. “You Know You’re Right” é cool ao máximo, rock barulhento como só Kurt sabia compor e cantar até os pulmões pedirem água (e as veias, heroína), mas, sorry, não vale R$ 30. Seja punk. Baixe a música na Web, queime um cd e compre “Song For The Deaf”, do Queens On The Stone Age. Deixe a coletânea para os neófitos. Uma das melhores coisas de se estar vivo em 2002 é viver em 2002.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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