por Marcelo Costa
“O Escorpião de Jade” é o pior filme de Woody Allen. Ponto. Uma pausa para você respirar, caro leitor, e vamos começar tudo de novo, como mandam os manuais de redação.
Chega aos cinemas brasileiros nesta semana “O Escorpião de Jade” (“The Curse of Jade Scorpion”, 2001), 31º longa de Woody Allen, com um atraso de um ano e após o diretor já ter lançado um novo filme, “Hollywood Ending” (“Dirigindo no Escuro”), em Cannes.
Allen investe em climas noir, escala Helen Hunt para o dueto e se dá ao luxo de exibir Charlize Theron em apenas duas curtas passagens, muito boas por sinal. O filme é simples, a história é simples, o roteiro é simples. E é tudo simples demais. A começar pelo argumento, tolo.
C.W. Briggs (Woody Allen) é o melhor investigador de seguros dos anos 40. Trabalha na surdina, com vários contatos e acaba de resgatar um Picasso roubado (“Estava procurando um quadro com um cavalo e demorei horas para achar o nariz dele na pintura”, diz). Apesar da fama de Briggs, um problema surge em seu caminho e quer problema maior que uma mulher?
Betty Ann Fitzgerald (Helen Hunt) foi contratada para reorganizar a empresa e seus planos não satisfazem nosso amigo Briggs. Dessa insatisfação surge uma inimizade que percorrerá praticamente uns 100 minutos dos 110 que o filme tem de duração. E irá gerar as melhores piadas, já que, todos sabemos, em se tratando de diálogos, Allen é imbatível.
A reviravolta de toda história se dá quando em um jantar entre amigos, Fitzgerald e Briggs são hipnotizados pelo escorpião de Jade. O hipnotizador não irá desfazer a hipnose e manipulará os dois inimigos para que eles roubem joias das famílias mais ricas que estão protegidas pela seguradora.
A tolice do argumento é salva pelos diálogos, excelentes e deliciosos. Mas nem só roteiro falta neste novo longa de Allen. Falta um maior cuidado com os cortes das cenas. Em várias delas, e principalmente na cena final, a história parece estar rápida demais, o que faz soar forçadamente encenado. E, por fim, ao contrário da trilogia “Desconstruindo Harry” / “Celebridades” / “Poucas e Boas”, em que a chave da questão era a discussão sobre a criação de identidades e como isso influência a felicidade real, e do filme anterior, “Trapaceiros”, que se amparava na trilogia citada mostrando que dinheiro não traz felicidade, este “O Escorpião de Jade” nada discute, nada transmite, nada passa ao espectador além do básico diversão por uma hora e meia e R$ 10. Do ponto de vista artístico é apenas um exercício de cinema.
Desse jeito, Allen, inspirado nos noir dos 40, criou uma comédia “romântica” toda pessoal, com diálogos matadores, mas que não dura entre a saída do espectador da sala do cinema e a chegada em sua casa. Isso, comparado a outros filmes do diretor, é imperdoável. Por tudo isso, “O Escorpião de Jade” é o pior filme de Woody Allen.
O grande senão dessa história toda é que, olhando os cartazes de cinema, você verá homens de preto, garotinhas do Havaí e alienígenas, grandes garotos, mulheres infiéis e meninas que se apaixonam por meninas, entre outras coisas, e pode ter certeza que este pior filme de Woody Allen é melhor que todos os supracitados. E ponto final.
Ps. 1 – Isso precisa ser dito. Na lista S&Y alguns cantaram a bola que eu também percebi no filme: Woody Allen e Renato Aragão são irmãos separados no nascimento. Veja esse filme e, em várias passagens, isso fica claramente perceptível.
2. – A Charlize Theron existe?
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Leia também:
– Todos os filmes de Woody Allen de 0 a 10, por Marcelo Costa (aqui)