por James
Mudhoney é o tipo de banda que não precisa de cartão de visitas. E, de certa forma, não haveria a mínima necessidade de se fazer uma resenha sobre eles. A banda lançou disco novo, e só isso já é motivo pra deixar qualquer pessoa, com o mínimo de bom gosto, feliz e satisfeita. Porém, “haveria” é futuro do pretérito, o que significa ser algo condicional, e no caso, existem duas condições para eu estar escrevendo este texto sobre o disco.
– Condição Um [pouco grau de importância]: o álbum está bem diferente do padrão Mudhoney de sempre, e isso é um fato.
– Condição Dois [e que realmente importa]: sou chato e quero compartilhar minhas impressões sobre o disco de uma das melhores bandas existentes neste enigmático planeta.
– Condição Três [inventada na última hora]: Mudhoney é FODA!
Uma das diferenças em “Since We’ve Become Translucent” é que este vem a ser o primeiro álbum em que não aparece o baixista e co-fundador da banda Matt Lukin. Ele havia caído fora logo após a gravação do longínquo “Tomorrow Hit Today” (1998), voltado para uma turnê em 2000, quando definitivamente abandonou o barco, ficando da formação original os guerreiros Mark Arm e Steve Turner [ambos ex-Green River / Thrown Ups/ Mr. Epp e in-Monkeywrench], além do batera Dan Peters. Quem está no baixo da banda no momento é Guy Madisson [que já tocava com Arm em outro de seus projetos, o Bloodloss]. Entretanto, as diferenças mais significativas do novo disco estão na sua concepção do som em si, no estilo e afins, já que a banda continua com a mesma qualidade e belezura de antes.
“Since We’ve Become Translucent”, lançado dia 20 de Agosto lá no 1° Mundo (ainda sem previsão de lançamento por aqui), tem como música de abertura, “Baby Can You Dig The Light”, faixa com 8:24, coisa bem atípica no ‘Mundohoney’. Guitarras obscuras e com efeitos de todo tipo. Muitas viradas de bateria, barulhos soturnos de órgão, e até solo de metais [mais sobre, a seguir]. Antes da faixa terminar, ainda há tempo para Arm profetizar: “I finally reached the end of the tunnel/ This is the end of the tunnel and there is no light”. Sintetizando: a música assusta de tão diferente daquilo que o quarteto já fez. A faixa “Where the Flavor Is” carrega de forma ostensiva, e até predominante, o uso de instrumentos de sopro como trombone, trompa [mas hein?] e especialmente saxofones, cortesia de Craig Flory, amigo de infância do Mark Arm, que virou bom menino e hoje em dia toca free-jazz.
Esse tipo de instrumento é raridade na carreira da banda – a única música na qual já haviam usado tal recurso fora em “1995”, do álbum “My Brother The Cow” (1995), e mesmo assim, de forma bem tímida. E pra chutar o balde de uma vez, estes mesmos elementos mais uma vez aparecem na faixa “Take it Like a Man”. Essa inspiração em usar metais nas canções surgiu no instante em que eles tocavam apenas covers do The Sonics em um projeto ‘seattlense’ anos atrás. Bom, se tu que estejas lendo isto não conhecer o som dos Sonics, pouco vai entender esta ligação. Só que aí não tenho culpa alguma. O mané da história és tu que nunca ouviu. Continuemos.
Outra faixa sem o selinho ‘isto É mudhoney’ é “Our Time is Now”, com sua levada totalmente blues (BLUES), com solo de violão de aço e tudo mais. Mas calma. Não precisa ficar aí torcendo o nariz. Confie em mim. As músicas são diferentes sim, e são DUCAralho. Porém, se você for um xiita musical, escute “Dying For It” e não encha o saco. A música apenas representa aquilo que é o Mudhoney [FODA]. “The Straight Life”, a melhor do disco, também vai por este caminho, com guitarra cortante, riffs, e ainda um refrão mais do que matador, com um backing vocal estiloso a lá qualquer-banda-que-use-backing-vocal-estiloso (que forçada, hein?).
Aí surge uma faixa com influência básica de uma das maiores influências da banda: o Stooges. “Inside Job” conseguiu ser a música que mais deixa clara esta influência da banda em todos os seus oito discos. Tire Mark Arm e coloque Iggy Pop em seu lugar. Não tenha dúvida: é uma música dos Stooges. Em “In the Winners Circle” temos um genérico de balada [uma balada feita pelo Mudhoney pode ter um gosto amargo para aqueles acoustic-chorões de plantão] com outro backing-vocal massa do Sr. Turner (?!?) com gritinhos em forma de ‘oooooooooo’ – eu ia dizer que é meio a lá Teenage Fanclub, mas é melhor deixar quieto. No final, a música parte pra pancadaria, onde Arm chuta o mundo, berrando como nunca fez antes (é sério!), e segue até o final da canção com antológicas repetições gritadas de “Why Got Nothing/and I feel/and I feel/ and I feel alright/ and I Feel alright/and I FEEL AAAAAAAAALRIGHT”. Yeah, nós também sentimos, meu amigo Mark Arm. Obrigado.
Pra fechar o disco chega a longa “Sonic Infusion” e seus sete minutos e quarenta segundos. Atmosfera bem taciturna, guitarras, gritos estilo-The Sonics [ahá, te peguei de novo], e claro, a múltipla variação da fanhosidade de Mark Arm, aquele que tem a segunda voz mais belamente tosca do universo. Ali ali com o J.Mascis. Na letra, a explicação do título do álbum: “They think we don’t exist since we’ve become translucent/ They feel just what they miss and it adds to their confusion”. E fim. Ah, outra coisa. Digo desde já que é melhor deixar de palhaçada. “Since We’ve Become Translucent”, oitavo disco da carreira do Mudhoney, banda de Seattle formada em 88, é membro honorário de qualquer lista tosca dos dez mais do ano. A não ser que tu prefiras cantar quase em lágrimas algo do tipo ‘im my place, in my place’. Eu NÃO!
ps: toda vez que falo É FODA é coisa muito boa viu? É que sempre tem alguém que não é chegado.
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