por Marcelo Costa
O Ira! demorou, mas cumpriu. As vésperas de completar 20 anos de carreira (o – feliz – aniversário é no ano que vem) a banda lança “MTV Ao Vivo” (Abril Music), registro que flagra uma das melhores bandas de rock deste país em cima de um palco. O show foi gravado em um dia de tempestade, em S. Paulo, no teatro do Memorial da América Latina, e mostra uma banda confiante de si, e principalmente de seu repertório, julgado clássico pelos fãs, e que se apóia em grande sucessos (“Envelheço na Cidade”, “Dias de Luta”, “Gritos na Multidão”, entre outros) e vários b-sides, como comentou o guitarrista da banda, Edgard Scandurra, em entrevista à Rock Press e ao Scream & Yell. No bate papo, Rock In Rio, carreira solo e outras novidades.
Edgard, o que você achou do disco ao vivo?
Cara, achei que o som ficou muito bom, sem artifícios, que acertamos no repertório, e para um disco que foi gravado em um dia só, ficou ótimo. O Marcelo Sussekind, que produziu o disco, é muito bom em gravar discos ao vivo, e tem o calor do público.
Ficou bem a cara da banda, ao vivo.
É, por isso decidimos que não teríamos músicos fora da banda. Só tem as participações do Johnny Boy, que já acompanha o Ira! há um bom tempo, e o Fábio Golfetti (guitarrista do Violeta de Outono) que toca violão em quatro músicas. Já saiu em CD e estamos esperando o lançamento em DVD, o que será muito legal.
Como foi a escolha do repertório?
O repertório foi escolhido com base num resgate de canções antigas, de músicas dos primeiros discos que não fizeram sucesso mas que ficam na memória. Procuramos fazer justiça com nosso repertório de lados B, de músicas que não tocaram na rádio mas são importantes dentro do Ira!. Na verdade é um disco para o público, e também uma homenagem aos 20 anos que a banda completa em 2001.
E o Rock In Rio, como será a apresentação de vocês, junto com o Ultraje a Rigor?
Na verdade, estamos apenas dividindo um horário no palco. No horário que era para ter uma banda, seremos nós e o Ultraje. Devemos, sim, tocar duas ou três músicas juntos.
Já decidiram o repertório do show, o que vocês vão tocar com o Ultraje?
Ainda não definimos o repertório, mas, por culpa do pouco tempo, sabemos que será um show curto e grosso. Também não definimos o que vamos tocar com o Ultraje, mas possivelmente toquemos uma cover do The Clash.
O que você está achando do Rock In Rio? Tem alguma banda que você queira ver, especialmente?
Quero ver o Foo Fighters, que acho que será legal. R.E.M., também. A nossa noite será muito interessante. É um festival bem eclético. E esse ecletismo é bem legal. O que mais deixou contente nesse Rock In Rio foi a Tenda de Música Eletrônica. Esse espaço consolida a força da música eletrônica no país, mostra que ela deixou de ser algo underground.
O que você achou do relançamento de seu primeiro álbum solo, o “Amigos Invisíveis”?
Eu já comprei. A primeira coisa que notei é de como as coisas ficam datadas, como o tempo passa. Tem muitas coisas que eu fiz ali que hoje não faria mais. Mas é importante esse resgate do rock brasileiro. É o primeiro disco que um integrante de banda lança, sem sair da banda. Você mesmo já havia me dito, na outra vez que conversamos, que o pessoal estava passando o disco para CDR, né, que estava vendendo. Quem deverá ficar chateado é o pessoal de sebo que estava vendendo o disco a R$ 150,00.
O Chales Gavin trabalhou direito na remasterização?
Eu precisaria pegar o vinil, comparar mesmo, pra te dizer isso. Mas a principio, o Charles está de parabéns. Ele teve de ir atrás. Chegou a ir a galpões, no interior do estado, procurando as fitas DAT originais. Encontrou-as jogadas no chão de um deposito. Foi um verdadeiro trabalho arqueológico. E outra coisa legal foi que eles respeitaram as capas originais, fizeram tudo certo.
E ainda colocaram bônus tracks …
É verdade, e, sabe, essas duas versões me soaram bem mais bacanas que as originais. O que deve estar saindo agora são os dois primeiros álbuns do Ira!, no mesmo esquema.
E a carreira solo, Edgard, como está?
Parada. Bem, nem tanto. Tenho feito apresentações regulares, tenho um repertório montado de show, mas já está na hora de eu compor músicas novas. A eletrônica acaba fazendo com que você tenha sempre que ter material novo, atualizado. Mas eu tenho tocado em vários lugares, em Porto Alegre, Belo Horizonte, Goiânia, no Free Jazz.
Você havia me dito que estava interessado em lançar o trabalho em mp3, na outra entrevista.
Cara, é absoluta falta de tempo. Vontade eu tenho, mas não tenho tempo. A gente conversou às vésperas da banda entrar em estúdio para gravar o “Isso é Amor” e de lá pra cá não paramos. Quero ver se acerto um álbum solo para o segundo semestre. Aliás, o Ira! deve entrar em estúdio no segundo semestre também, para gravar um disco novo, só de inéditas. E agora no inicio do ano eu entro em estúdio com o Arnaldo Antunes, para começarmos a trabalhar no novo álbum dele.
E o que você tem ouvido ultimamente?
Ouvi o Radiohead, o “Kid A”, né. Muito bom. Muito bom mesmo. Tem também o Moby que é chocante. Nacional eu gostei muito do MJ4, achei que o novo do Charlei Brown Jr. está bacana. O Mundo Livre S/A, também está muito bom.
Você está participando do novo disco do “The Maybees”, certo?
Certo. Nós somos vizinhos de estúdio, sempre rola um papo. E eles estão lançando pela Polythelene Pan, que também lança os discos do Nasi e Os Irmãos do Blues e da banda do Gaspa. Então, sempre rola um diálogo legal. Também foi uma maneira de retribuir a gentileza da Vanessa, vocalista do The Maybees, que participou de vários shows cantando “Telefone” com o Nasi, fazendo a voz que no disco é da Fernanda Takai. E o solo de guitarra que fiz pra eles ficou muito bonito.
Palavra final.
Olha, estamos muito contentes por tocar no Rock In Rio. Tivemos problemas em um outro festival (o Hollywood Rock, 1988) e acabamos ficando na geladeira por um bom tempo. O momento agora é de volta. Isso é um fator tremendamente positivo.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.