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Londres: I’ll Be Your Mirror, Dia 3

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Texto e fotos por Marcelo Costa

A previsão do tempo não errou para o domingo e um sol castigador fez a turistada disputar as sombras de Londres enquanto as garotas locais encurtavam os shorts e os homens retiravam a bermuda do guarda-roupa. No Alexandra Palace, enquanto dezenas de famílias aproveitavam o dia de sol no parque, o canto do cisne da edição 2012 do I’ll Be Your Mirror tinha hora para começar (12h, com o início da exibição de “American Movie” no ATP Cinema) e acabar (00h quando terminaria a exibição de “King of Kong”). Entre os filmes, uma dezena de shows.

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A programação pessoal começou com o belo show do Arches of Loaf, combo indie norte-americano com alguns dedos do pé no grunge. Formado em 1991 e desmontado em 1998, o Arches retomou o barulho no ano passado, e este show no festival mostra que o grupo está bastante afiado abusando do contraste da delicadeza do vocalista e guitarrista Eric Bachmann com a postura “tenho os cabelos do Anthony Kiedis e agito como o Flea” do hilário baixista Matt Gentling. Um belo show para rever com mais calma.

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Quase no mesmo horário, os canadenses do Siskiyou entretiam uma pequena audiência em uma sala com um show promissor, que merece atenção. Quinze minutos depois, Yuck no palco, e aquele som que você já ouviu diversas vezes em dezenas de outros discos corta o ar com uma nuvem de microfonia, e diverte. O show é bom (valorizado pelo ambiente do palácio do povo), e ganha alguns créditos pela excelente transposição de arte com filmagem da banda ao vivo no fundo do palco. Nada como ouvir canções frescas e envolventes como “The Wall”,  “Suicide Policeman” e “Get Away” num volume alto e de qualidade.

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Pausa para descansar as pernas, comer pizza e beber uma ale aguada, mas ok, e lá se foi o show do Tennis, grupo de Denver comandado pela belezinha Alaina Moore. Ok, rolou pegar o trecho final da penúltima música e a última, e o show vende bem a banda (algo entre Keane, Killers, Coldplay e Cardigans). Também havia perdido o filme “Stalking Pete Doherty”, mas o que importava de verdade era que, em alguns minutos, uma das melhores bandas dos mundo voltaria aos palcos: The Afghan Whigs.

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O público (um pouco menor que o de sábado) de cerca de 2 mil pessoas compensou os buracos na plateia cantando tudo que Greg Dulli rasgava no microfone – e sua voz, personalíssima, impressiona pelo alto nível de qualidade que se mantém do início ao fim do show. O trio de fource original do grupo – Greg Dulli (vocais e guitarras), Rick McCollum (guitarra base) e John Curley (baixo) – surgiu acompanhado de um terceiro guitarrista, um excelente baterista mão pesada e um terceiro músico que se alternava entre teclados e violoncelo.

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A gangue de preto entrou pontualmente às 21h30 com a introdução de “Crime Scene Part One”, do álbum “Black Love” (1996) antecipando o sonho. Na sequencia, “I’m Her Slave” (“Congregation”, 1992), “Uptown Again” (do grande “1965”, 1998) e “What Jail is Like” (“Gentlemen”, 1993) bastaram para conquistar a audiência, que gritava as letras com um sorriso enorme no rosto. Da metade para o final, o céu caiu na Terra com “Crazy”, “My Enemy”, “66”, “Debonair”, “Bulletproof” e uma versão poderosa de “Summer’s Kiss”. Para o bis, a nova cover de “See and Don’t See”, uma versão de “Lovecrimes”, de Frank Ocean, “Fountain and Fairfax” e a intensa “Miles Iz Ded” confirmaram: o Afghan Whigs voltou com sede de palco. Que show. Que voz.

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No balanço geral, o I’ll Be Your Mirror 2012 mostrou um bom número de grandes shows em um espaço confortável, sem empurra-empurra nem muvuca. Ainda assim, é um festival caro demais, em que o espectador paga pelo conforto, mas paga muito (ainda mais em se tratando de Reino Unido, com a libra dobrando o dólar e colocando no bolso). O preço do ticket de três dias saiu praticamente o mesmo de mega festivais como Rock Werchter, na Bélgica, e Primavera Sound, em Barcelona, mas o I’ll Be Your Mirror não vende quantidade, mas qualidade. E barulho. Muito.

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maio 28, 2012   No Comments

Londres: I’ll Be Your Mirror, Dia 2

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Texto e fotos: Marcelo Costa

Na base do chutometro, o primeiro dia do I’ll Be Your Mirror 2012, com Slayer de headliner e ingressos a 35 libras, parece ter levado umas seis mil pessoas para o Alexandra Palace. No segundo dia, com ingressos a 65 libras e curadoria especial do Mogwai, cerca de 2 mil pessoas acompanharam os shows, tanto que a área maior, onde ocorreu o show do Slayer na sexta-feira, ficou fechada enquanto as bandas tocavam no segundo palco (e os nomes “menores” tocavam em um terceiro local, bem parecido com uma pequena sala).

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A programação, mais extensa no fim de semana, começava ao meio-dia e meio, mas decidi chegar só às 16h para acompanhar o show do Chavez, banda nova-iorquina das mais preguiçosas (em quase 20 anos de existência, só lançou dois álbuns, o segundo deles, “Ride the Fader”, editado no Brasil no começo dos anos 2000 pela Trama), mas que faz um post rock com acentos indies de altíssima qualidade. O show, inclusive, foi mais indie que post, com uma bela parede de guitarras aclimatando a voz de Matt Sweeney. “Top Pocket Man” arrancou sorrisos e aplausos.

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O Codeine veio na sequencia para seu primeiro show em 18 anos (o pontapé da turnê de retorno foi no I’ll Be Your Mirror) e com o público nas mãos (o baixista Stephen Immerwahr repetiu ao menos cinco vezes durante a tarde a frase “Vocês são muito bondosos”) honrou o convite dos escoceses. “D”, faixa que abre o primeiro álbum do grupo, lançado pela Sub Pop em 1991, foi a escolhida para dar início ao show, que caminhou delicadamente (mesmo nos momentos de inferno sonoro) na fronteira entre a melancolia e a loucura. Um show intenso e idílico… perfeito para o fim do mundo.

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Não lembro quantas vezes já tive o prazer de ver o Mudhoney (acho que seis ou sete), mas sem dúvida esta vai para o topo, mérito do som impecável do festival, que valorizou a porradaria do grupo. Um Mark Arm ensandecido e com trejeitos de Iggy Pop jogou lenha na fogueira logo no início – com “Judgement, Rage, Retribution and Thyme” (de “My Brother The Cow”, de 1995), e dois hinos dos primórdios: “Sweet Young Thing Ain’t Sweet No More” e “Touch Me I’m Sick” –, mas também abriu espaço para as novíssimas e inéditas “Chardonnay” e “Widow Of Nain”. Showzão.

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Surge então o louco de pedra Warren Ellis com seu Dirty Three (figurinha carimbada em dezenas de festivais deste ano) mais violino, vinho, canções novas (do recém-lançado “Toward the Low Sun”) e uma iluminação impecável. O som do trio (formado em 1992 e do qual ainda fazem parte o multi-instrumentista Mick Turner e o baterista Jim White) parece uma junção de Gogol Bordello (o lance do violino), Devendra (o lado hippie) e Explosions In The Sky (as viagens instrumentais), e funciona muito ao vivo. Sem contar que Warrren é uma peça: “Essa música é contra o capitalismo, contra governos, contra toda babaquice do mundo… e… que música vamos tocar mesmo?”. :~

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Estrelas da noite (e após dois shows absurdos de bons no Brasil neste mesmo maio), o Mogwai fez sua típica apresentação para ninar dragões. O set list trouxe a maioria dos números que também bateram ponto nos shows brasileiros (“Rano Pano”, “I’m Jim Morrison, I’m Dead”, “Mexican Grand Prix”, entre outras), mas algumas surpresas surgiram, como “Sine Wave” (do álbum “Rock Action”, 2001), o ótimo b-side “Ithica 27ø9” (1996) e “Auto Rock” (do “Mr Beast”, de 2006). O final com “Mogwai Fear Satan”, “Batcat”, o som poderoso do ATP e a iluminação esplendorosa foi algo simplesmente perfeito.

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Segundo a previsão do tempo, o sol deve surgir ainda mais forte neste domingo. Segundo a previsão dos deuses bastardos do rock and roll, a volta do Afghan Whigs deverá ser um dos grandes momentos do ano. Ainda tem Arches of Loaf, Yuck, passeio pelo Regent’s Canal e, quem sabe, uma pernada por Camden Town (embora no domingo isso não seja lá tão recomendável). Partiu I’ll Be Your Mirror, Dia 3… mas antes melhor dormir…

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maio 27, 2012   No Comments

Londres: I’ll Be Your Mirror, Dia 1

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Fotos por Marcelo Costa

O Palácio de Alexandra é uma edificação icônica datada de 1873 (contrapartida do norte ao também icônico Palácio de Cristal, no sul de Londres), construída para ser um centro público de educação, recreação e entretenimento, que foi usado pela BBC durante muitos anos (a torre da empresa ainda funciona no prédio), tem uma bela vista da cidade e atualmente recebe diversos eventos culturais, entre eles o I’ll Be Your Mirror, festival criado pelo pessoal do All Tomorrow’s Parties para louvar o barulho.

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O Elson já tinha dado a dica em sua cobertura da versão EUA do ATP: “o festival de música mais barulhento do planeta” (leia aqui). Em Londres, 2011, o festival soou mais comportado (o que não quer dizer menos clássico) com Portishead de curador convidando PJ Harvey para uma noite e Grinderman para a outra (entre diversas atrações extras), mas 2012 promete deixar todo mundo com os tímpanos zunindo devido a uma escalação ensurdecedora dividida em três dias.

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É sexta-feira, amor, e o sol recebe uma horda de camisas pretas mal-encaradas que caminha pelo bonito Alexandra Park, cuja primeira noite terá o Slayer de headliner tocando a integra do álbum “Reign in Blood”, de 1986, um dos primeiros e mais violentos crossovers de metal e punk da história. Cenário idílico: de um lado do parque, rapazes de camisa com gola rolê jogam golfe. Do outro, metaleiros de todos os cantos da Europa bebem cerveja como se fosse água.

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Dividido em dois palcos, o esporro começa (ao menos para mim) no palco menor com o YOB, trio norte-americano de doom metal que faz uma barulheira dos diabos, mas não convence. No palco principal, os dois bateristas do Melvins causam o primeiro corre-corre do fim de semana, a maioria da galera pra frente do palco, uns 10% atrás de protetores de ouvidos. Buzz Osborne maneja sua guitarra como se ela fosse uma máquina de eletrochoque e uma nuvem densa de aspereza corta o ar.

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Entorpecido após uma hora de barulho e levemente cansado da maratona de três dias de shows seguidos (só faltam mais uns 15 dias de shows), opto por “descansar” no ATP Cinema assistindo a “Se7en”, o grande filme de David Fincher, mas sou obrigado a deixar a sala 15 minutos antes do final para pegar um bom lugar para assistir ao grande show da noite (nem no meio e nem no gargarejo, locais garantidos de pancadaria e pogo): Slayer.

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Duas músicas “novas” abrem o cortejo (“World Painted Blood” e “Psychopathy Red”, de 2009), mas é com “Die by the Sword” que as primeiras cervejas são arremessadas para o alto e a pancadaria começa. “Chemical Warfare” e “Dead Skin Mask” (a segunda do poderoso “Seasons in the Abyss”, de 1988) mantém o clima de desordem, mas basta o riff clássico de “Angel of Death” ecoar no Palácio para a galera urrar a chegada de “Reign in Blood”, tocado na integra e sem pausa para limpar o sangue da testa.

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A coesão da banda ao vivo continua impressionante. A condução de Dave Lombardo é algo do outro mundo e, em vários momentos, Kerry King e sua guitarra parecem ser um objeto só. Tom Araya continua sendo um grande mestre de cerimonias (acho que “mensageiro de más noticias” soaria melhor) e Gary Holt, do Exodus, continua segurando a bronca enquanto Jeff Hanneman se recupera. Um massacre digno de uma das bandas mais violentas do planeta, que terminou, no bis, com “War Ensemble”, outra do “Seasons in the Abyss”.

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O I’ll Be Your Mirror segue neste sábado com uma seleção de bandas escolhidas a dedo pelo pessoal do Mogwai. Meu plano pessoal é ir de chinelo, levar o sensacional livro novo da Jennifer Egan na mochila, me ajeitar em um canto do West Hall e ficar ali entre 16h e 23h, horário em que passarão pelo palco principal, em sequencia, Chavez, Codeine, Mudhoney, Dirty Three e Mogwai, encarregado de fechar a noite. Bom barulho para todos nós.

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maio 26, 2012   No Comments