Category — Cinema
Três Jason Bourne
“A Identidade Bourne”, de Doug Liman (2002)
É o longa que deu origem à trilogia com tudo aquilo de impossível que pode acontecer em filme de ação hollywoodiano. Como Marcelo Forlani listou no Omelete (resenha completa aqui), “numa noite tempestuosa em alto-mar um tripulante de um barco pesqueiro consegue ver um corpo boiando. Após o resgate descobre-se que mesmo com dois tiros nas costas e o “banho forçado”, o cara está vivo. (…) comandante da embarcação é um italiano de uns 50 e tantos anos que fala inglês e tem a mão tão firme que consegue operar o nosso amigo mesmo com o barco balançando mais que a câmera de A Bruxa de Blair”. Ou seja, se você desligar o botão da realidade, “A Identidade Bourne” pode se transformar em um filme divertido. Segundo, Jason Bourne é imortal. “Me sinto tão pequena perto dele e seus 30 passaportes” (risos).
“Supremacia Bourne”, de Paul Greengrass (2004)
A estréia fez um sucesso estrondoso, então nada mais Hollywood que investir em uma segunda história. Porém, desta vez, até que a trama toma mais corpo e aspectos psicológicos interessantes são inseridos na trama. Nada que vá fazer o filme ganhar mais do que uma nota 6 (a não ser que ele esteja sendo analisado como uma comédia, ai pode ir longe), mas há sobrevida. Curto e grosso: Jason Bourne, que perdeu a memória no primeiro longa, mas não nenhuma das mil e uma habilidades de combatente, está curtindo a vida numa ilha com sua gatinha, até que é descoberto e entramos novamente no ritmo acelerado de perseguições, lutas e tiroteios. Aqui o resultado convence mais, e ainda dá uma deixa para o terceiro longa.
“Ultimato Bourne”, de Paul Greengrass (2007)
O mais bacana dos três. E o mais piegas. Nosso herói está escondido tocando a vida quando lê uma reportagem sobre ele no Guardian. E lá vamos nós em dezenas de cenas de ação entender tudo que aconteceu na vida de nosso amigo. Ao menos, o roteiro tenta tapar todos os buracos – poderia ter explorado mais a questão “Julia Stiles”, mas ok. De cara dá para cravar que cineastas realmente acham jornalistas idiotas, e que Jason Bourne não lembrar de suas conquistas amorosas é uma grande sacanagem. Aliás, no quesito conquistas, Jason Bourne perde de goleada de James Bond. Ok, não há como comparar Sean Connery no auge com Matt Damon, mas até que o baixinho surpreende com uma atuação bastante convincente. Juntos, os três filmes não são excelentes, mas também não são ruins. Se você tiver de bom humor ele pode até lhe tirar umas risadas…
novembro 23, 2009 No Comments
Mostra SP: “Who Do You Love?”, de Jerry Zaks
“Quem Você Ama?”, de Jerry Zaks (2008)
Leonard e Phil Chess, de uma família judia polonesa, trocam o ferro-velho que administram pelo projeto de abrir uma boate em um bairro negro de Chicago. A dica do local veio de um amigo de Leonard, Willie Dixon, e esse é o primeiro passo na história dos Chess, importante selo norte-americano que já teve sua trajetória vertida para o cinema no filme “Cadillac Records”, mas que aqui aparece validada pelo espólio tanto da família de Leonard como do irmão, ainda vivo, e do espólio da família dos músicos que foram lançados pelo selo.
Em certo trecho da história, Leonard e Willie estão à procura de um guitarrista para uma gravação. É quando um jovem se apresenta e diz que é bom nas seis cordas, mas não tem guitarra. Seu nome é Muddy Waters, e ele conquista a dupla nos primeiros acordes. “Quem Você Ama?” (“Who Do You Love?”) é focado em Leonard, mas traz belos causos do universo blues e rock and roll que fazem valer a sessão. Muddy é o primeiro contratado de sucesso do selo, que ainda aposta em Howlin Holf e em Bo Diddley, cuja canção dá nome ao filme.
O filme flui bem até a metade, mas acelera demais na segunda parte deixando muita coisa de fora. O espectador leigo, por exemplo, ficará sem saber que Chuck Berry e Etta James (além de outros) também foram lançados pela Chess. Apesar do vacilo, o filme é uma boa introdução ao selo de Chicago. “Who Do You Love?” está percorrendo o circuito de festivais (a Mostra de São Paulo é sua quarta parada) e não tem previsão de lançamento no exterior. Pode sair diretamente em DVD, e não chegar ao Brasil. Se você gosta do assunto ainda há três chances de ver o filme na Mostra SP:
28/10 – quarta-feira
18:00 Centro Cultural São Paulo
29/10 – quinta-feira
14:30 Unibanco Arteplex 3
31/10 – sábado
16:30 HSBC Belas Artes 2
outubro 28, 2009 No Comments
“35 Doses de Rum”, “Fados” e “As Amigas”
“35 Doses de Rum”, de Claire Denis (2008)
Ricardo Calil, que respeito muito em se tratando de cinema, classificou “35 Doses de Rum” (“35 Rhums”), da francesa Claire Denis, como uma obra-prima (mais aqui). Ex-assistente de Wim Wenders, Claire tem uma filmografia elogiadíssima onde quer que se coloque os olhos para ler sobre a diretora, mas o filme não me pegou. Sim, é grande cinema, mas não consegui absorver a história a ponto de sair chapado da sala. Talvez porque ainda não seja pai. Talvez porque alguns recortes da vida real, embora filmados de forma bela, não me impressionem. É um filme bom, e só. Porém, para te confundir, aviso que adorei “Julie & Julia”. Daí você consegue ver quem está mais próximo da realidade… (risos)
“Fados”, de Carlos Saura (2009)
Expectativa é uma merda, não tem jeito. Alguém escreveu que “Fados” era um documentário, e com as credenciais de Carlos Saura assinando a direção achei que tinha a noite ganha. Engano. A opção estrutural pela qual Saura procura documentar a vertente musical portuguesa é simplória: ele junta dezenas de apresentações dos mais variados estilos de fado em 1h25 de rolo de filme que transforma o longa em um extenso videoclipe. Não há nada que guie o espectador, que não saberá dizer nem o nome da capital de Portugal ao fim da sessão. Para cada bom momento surge um equivalente de vergonha alheia. Chico Buarque se destaca com “Fado Tropical” cantada com cenas da Revolução dos Cravos ao fundo. Porém, também tem Toni Garrido…
“As Amigas”, Michelangelo Antonioni (1955)
Vencedor do Leão de Prata em Veneza em 1955, “As Amigas” (“Le amiche”) abre uma seqüência de grandes obras de Antonioni, a saber: “O Grito”, 1957, “A Aventura”, 1960, “A Noite”, 1961 e “O Eclipse”, 1962. O foco aqui são as relações de um grupo de mulheres que tenta se encaixar na sociedade, cada uma ao seu modo. A fotografia de Gianni Di Venanzo (“Oito e Meio”) é belíssima, e a cena da praia um bonito momento, mas a temática do filme (e com isso, o próprio longa) perdeu um pouco da força que deve ter tido na época ao buscar compreender as mulheres – e o suicídio, não só por amor, mas também pela sensação de vazio. Foi meu terceiro Antonioni depois de “Profissão: Repórter” e o sensacional “Blow-Up”. Na fila, “O Grito” e “A Noite”.
outubro 26, 2009 No Comments
Dois desenhos, um pornô soft e um romance
Ando relapso, eu sei. Lili diz que é minha recente conversão ao Twitter. Pode ser. Mas na verdade ando muito reflexivo, com pensamentos tão profundos que muitas vezes meus anjos mergulham na imensidão e voltam alguns dias depois sem falar coisa com coisa. Bem, vamos aos comentários rápidos dos últimos filmes que passaram por mim…
“Up”, Pete Docter (2009)
Eu tinha uma expectativa enorme para este filme, mas… não rolou. Vi no cinema e o começo é sensacional. O personagem do vovô Carl Fredricksen é muito bom, e o moleque também é divertido, mas dali pro meio as coisas entornam. Existem boas sacadas. Os cachorros com coleiras é uma das melhores, mas o filme todo cansou, sabe. Esperava mais, bem mais.
“Wall-E”, Andrew Stanton (2008)
Caso exatamente contrário ao anterior. Não vi no cinema. Queria, mas fiquei com preguiça. Acabei comprando em DVD, e fui ver sem a mínima expectativa, e não é que o filme me pegou de jeito. Não é que seja o melhor Pixar já feito, mas tem vários momentos deliciosos. E importante: ele não derrapa tanto no final, quando todos os filmes da produtora partem para a “mensagem edificante”. E a Eva é uma gracinha.
“Diário Proibido”, Christian Molina (2008)
O título original é “Diario de una Ninfómana”, que a distribuidora nacional não teve culhão para assumir. Inspirado nos escritos da francesa Valére Tasso, “Diário Proibido” prova por A + B que os clichês estão ai para serem vividos e transformados em filme ruim. Pecado maior, no entanto, é lembrar “A Bela da Tarde”. Belén Fabra até é bonitinha e boa atriz, mas não é uma Catherine Deneuve. E, por deus, Christian Molina nunca será Buñuel. Não perca tempo: vá direto aos originais.
“Os Amantes”, James Gray (2008)
É sempre bom cruzar com a Gwyneth Paltrow no cinema. Ela é daquelas coisas gostosas de colocar os olhos e ficar olhando, mas o filme soa meio… óbvio? Talvez. Na verdade, o personagem do Joaquin Phoenix (que está muito bem) me incomoda horrores. Ele se mexer – e seguir seus instintos bestas – no filme é algo que me faz sentir vergonha alheia. Mas suspeito que era isso que o diretor James Gray (cuja produtora se chama Magnólia) queria: mostrar que aquilo ali não é legal. Espero…
Ps. E tem “Bastardos Inglórios”, mas dele escrevi aqui.
outubro 16, 2009 No Comments
O segundo boxe da coleção Ingmar Bergman
Decidi começar pelo segundo boxe ao invés do primeiro até por um sentido de cronologia. No primeiro boxe da coleção estão os clássicos “O Sétimo Selo” (1956), “Morangos Silvestres” (1957), “A Fonte da Donzela” (1960) e “Gritos e Sussuros” (1972). Destes, só assisti aos dois primeiros, mas optei por voltar alguns anos na cinematografia do diretor e começar por:
“Noites de Circo”, Ingmar Bergman (1953)
Apontado por muitos com o marco inicial do primeiro ciclo de grandes obras dirigidas pelo cineasta sueco, “Noites de Circo” (“Gycklarnas Afton”) ampara-se na desilusão e constrói um retrato dolorido e agonizante de um grupo de pessoas do universo mambembe. A crítica local desceu a lenha na época chamando “Noites de Circo” de, entre outras coisas, “o vômito de Bergman”, mas o filme – valorizado pela bela fotografia de Sven Nykvist – sobreviveu de forma sensacional ao tempo.
Em seus 84 minutos, “Noites de Circo” exibe uma avalanche de decepções (passional, profissional, pessoal) que não permite ao espectador um sorriso franco. Olhamos com jeito admirado e assustado o caos, a vergonha, a humilhação e a tentativa de troca de tudo aquilo que se ama pela tranqüilidade de uma vida burguesa. Esperamos alguma redenção, que não vem, e namoramos a esperança de que as coisas possam mudar, e melhorar. Triste engano. “Noites de Circo” é atualíssimo. As coisas não melhoraram.
“Sonhos de Mulheres”, Ingmar Bergman (1955)
Um dos filmes menores da carreira de Bergman nos anos 50, “Sonhos de Mulheres” (“Kvinnodröm”) é uma tentativa de entender a alma feminina tendo como base a vida de duas mulheres: Susanne, uma diretora de um estúdio de moda que vive um romance com um homem casado; e Dóris, uma jovem modelo que trabalha com Susanne e que acaba de terminar com seu namorado. Ela sonha com os atores dos filmes e uma vida de luxo e glamour.
As duas tramas seguem paralelas cada uma delas tendo um ponto alto, mas é a de Susanne a que se resolve melhor e soa mais realista apesar do final duvidoso – muito embora o personagem do cônsul, que participa da história de Dóris, seja o grande emblema do filme, um homem rodeado por mulheres (a filha, a mãe, a modelo), sem compreendê-las, que acaba virando um joguete. A idéia é ótima, mas o filme não convence (embora tenho momentos isolados que merecem serem vistos).
“Sorrisos de Uma Noite de Amor”, Ingmar Bergman (1955)
Disparado, o filme que mais gostei da caixa. Talvez por ser uma comédia de erros shakesperiana (o título original, na verdade, é “Sorrisos de Uma Noite de Verão”, e o filme é uma adaptação da famosa peça do bardo inglês) com diálogos espertos e ritmo acelerado. É também o primeiro filme de Bergman a conseguir sucesso internacional permitindo que a partir daqui o diretor tivesse liberdade artística para fazer o que quisesse (os dois filmes seguintes foram “O Sétimo Selo” e “Morangos Silvestres”).
“Sorrisos de Uma Noite de Amor” (“Sommarnattens Leende”) é movido por duelos verbais e belíssimas atuações. Nos extras do DVD, o cineasta relembra o sucesso do filme contando que seus produtores o mandaram para Cannes sem que ele soubesse. “Um dia abro o jornal e a manchete diz: ‘Sucesso sueco em Cannes’. Fiquei feliz e fui ver de quem era o filme, e era ‘Sommarnattens Leende’. Emprestei dinheiro de uma atriz e peguei o primeiro avião para Cannes”, relembra o diretor. O filme foi indicado à Palma de Ouro e recebeu o prêmio de melhor humor poético.
setembro 24, 2009 No Comments
Quem precisa pensar sobre tamanhas bobagens
“O Richard Schickel (escritor e há muito tempo crítico da revista Time) escreveu um ensaio muito bom a meu respeito, dizendo que em determinado ponto o público me abandonava. E achei que foi a única coisa que ele errou. Fui eu que abandonei o meu público; ele não me abandonou. O meu público era muito bom, e, se eu continuasse a cumprir com a minha parte do contrato, ele não demonstraria nenhum sinal de querer me abandonar e ser algo mais do que uma boa platéia afetiva. Eu é que tomei um rumo diferente, e uma boa parcela desse público ficou incomodada, se sentiu traída. Não gostaram quando fiz “Interiores” e “Memórias”. Um crítico disse que “Interiores” foi um ato de má-fé. Achei que foi uma reação exagerada. Tentei fazer um filme específico, e se não funcionou, não funcionou. Respeito plenamente as opiniões das pessoas para quem não funcionou. Mas não foi feito com má-fé.
Depois, “Memórias” decepcionou as pessoas, e ao longo dos anos o público ficou mais e mais incomodado comigo, sem saber direito como seria o meu próximo filme, e menos seguro de que iria gostar. Muita gente ainda acha que os meus melhores filmes ficam pela época de “Annie Hall” e “Manhattan”, mas mesmo que esses filmes ocupem um lugar caloroso em seu coração – o que me deixa muito satisfeito – estão errados. Filmes como “Maridos e Esposas”, “A Rosa Púrpura do Cairo”, “Tiros na Broadway”, “Zelig” e até mesmo “Um Misterioso Assassinato em Manhattan” e “Poucas e Boas” são muito superiores. Claro, isso é questão de opinião, mas eu tenho a minha, assim como os outros têm as deles.
Agora, é verdade que depois de alguns filmes eu parei de pensar em popularidade e no público, ou no que escreviam sobre os meus filmes, mas não por arrogância, nem algum sentimento de superioridade. Só porque essa parte do processo – a chamada gratificação – não estava me deixando feliz, nem satisfeito. As pessoas muitas vezes tomam erroneamente a minha timidez por indiferença, mas não é. Eu precisava de um centro espiritual e, sendo ateu, isso é difícil de encontrar. Então experimentei uma sensação de apatia em relação ao sucesso ou fracasso, e, é triste dizer, em relação à vida em geral. Tanto o sucesso quanto o fracasso provaram não significar muito para mim do jeito que pensei que fossem significar quando comecei. Nenhum dos dois contribui para a solução dos verdadeiros problemas da vida.
O lado bom de ser, como dizem os meus amigos, “imune à crítica”, é ser incapaz de gozar o prazer que um sucesso retumbante traz. Isso não quer dizer que eu deteste dinheiro, mas, resumidamente, apesar de toda a bajulação do mundo, a gente continua incomodamente finito (encolhe os ombros, depois ri). Então, como eu estava dizendo, a minha timidez e a minha inabilidade em afastar a nuvem negra que vem com a incapacidade de lidar com a realidade fazem as pessoas pensarem que sou distante e inatingível, mas não sou nem um pouco alheio, nem recluso – que é outra descrição nada exata de mim. Por outro lado, não quer dizer que eu não concordaria com boa parte da crítica mais severa ao meu trabalho se ouvisse críticas. Tenho um olhar muito crítico sobre o meu trabalho e o de outras pessoas. Antes eu lia a meu respeito, mas parei de vez, porque é uma perda de tempo, não ajuda em nada o absurdo de ler que você é um gênio cômico ou que tem má-fé. Quem precisa pensar sobre tamanhas bobagens?”
Woody Allen em um dos melhores trechos do livro (aqui) de Eric Lax.
Leia também:
– “Match Point”, de Woody Allen, por Marcelo Costa (aqui)
– Os filmes prediletos de Woody Allen em todos os tempos (aqui)
– A cinematografia de Woody Allen de 0 a 10, por Marcelo Costa (aqui)
setembro 15, 2009 No Comments
“Sting”, “Duck Soup” e “Match Point”
“Golpe de Mestre”, George Roy Hill(1973)
“Golpe de Mestre” (“Sting”) é um belo exemplo de onde um roteiro perfeito pode levar um filme. É claro que além do roteiro, outros elementos entram na equação, mas o diretor George Roy Hill se cercou bem e saiu da cerimônia do Oscar de 1974 com 7 estatuetas batendo, entre outros, “Gritos e Sussuros”, de Bergman, que concorreu como Melhor Filme (o norte-americano também levou a melhor sobre o sueco na categoria diretor, mas Sven Nykvist, o fotógrafo de Bergman – e posteriormente, de Woody Allen – foi premiado).
Mais da metade do crédito de “Golpe de Mestre” recai sobre o roteiro soberbo, mas a dobradinha formada por Paul Newman e Robert Redford (que já havia brilhado muito em “Butch Cassidy and The Sundance Kid”, em 1969) também tem sua parcela de genialidade aliada à trilha sonora mágica de Marvin Hamlisch (também premiada no Oscar), que optou pelo ragtime ao invés do blues, que marcava o período (anos 30) radiografado pelo filme, aumentam o valor desta obra perfeita.
Ps. Quem é fã do excelente filme argentino “Nove Rainhas” precisa ver “Golpe de Mestre”. O filme do portenho Fabián Bielinsky continua genial, mas é uma versão atualizada de “Golpe de Mestre”.
“Diabo a Quatro”, Leo McCarey (1933)
O grande achado do passeio matinal de sábado foi um Box oficial com cinco filmes dos Irmãos Marx (pela bagatela de R$ 39,90), o que vai me permitir colocar em ordem a obra dos caras aqui em casa. Eu só havia assistido à reedição de “Diabo a Quatro” (“Duck Soup”) no cinema uns quatro anos atrás, e até acho que vi algum dos outros perdido em algum noite insone, mas comento assim que eles passarem pelo DVD player. Comecei novamente por “Diabo a Quatro” (para matar saudade).
No filme, Rufus T. Firefly (Groucho Marx) é escolhido por imposição da “alta burguesia” (hehe) como líder de um pequeno e fictício país, a Freedonia, o que resulta em uma deliciosa e ácida sátira a estados e regimes totalitários (não à toa, Mussolini proibiu o filme) com momentos clássicos (como a apresentação de Rufus T. Firefly, o duelo do espelho, as gags do carrinho de amendoim e o ótimo final). “Diabo a Quatro” apareceu na sexagésima posição da lista de Melhores Filmes de Todos os Tempos da American Institute além de ser apontado como a quinta melhor comédia.
“Match Point”, Woody Allen (2005)
Palavras de Woody Allen: “Tive uma sensação positiva assistindo ao filme quando terminei. Senti assim: pois é, este é um bom filme. Se eu tivesse feito uma carreira com filmes assim, eu me sentiria melhor comigo mesmo”. Mais outra: “Tive muita sorte com esse filme. Tudo que costuma dar errado num filme, deu certo nesse. Não sei se algum dia consigo repetir isso ou fazer um filme tão bom”. A última: “Match Point deu mais dinheiro do que qualquer outro filme que fiz na vida”. Trechos do livro “Conversas com Woody Allen”, de Eric Lax.
O cineasta tem um carinho imenso por “Match Point”, e não é coisa de carinho pelo filho mais novo: na mesa de edição de “Scoop”, a obra seguinte, ele já falava que o filme não funcionava tão bem quanto ele tinha imaginado ao escrever o roteiro. O fato é que “Match Point” é um filme absurdo de bom cujo ponto de partida – sorte pode ser melhor do que sabedoria – permite ao diretor tratar com maestria seu apreço pela visão de um mundo sem Deus (e conseqüentemente, sem culpa e perdão) e falsos finais felizes (escrevi mais aqui). Um dos melhores filmes de um dos maiores diretores de todos os tempos.
Ps. “Match Point” arrecadou 85 milhões de dólares, maior sucesso de bilheteria da carreira de Woody Allen até então. A marca foi batida com “Vicky Cristina Barcelona”, que alcançou 93 milhões de dólares em todo o mundo.
setembro 11, 2009 No Comments
Truffaut, Kevin Smith e Michael Lehmann
“Uma Jovem Tão Bela Como Eu”, François Truffaut (1972)
Apontado por muitos como o filme mais descompromissado de Truffaut, “Uma Jovem Tão Bela Como Eu” (“Une Belle Fille Comme Moi”) é uma comédia leve repleta de ironia e farsa que narra a história de um sociólogo inocente (André Dussollier) que pretende escrever uma tese sobre mulheres criminosas e, para isso, entrevista uma presidiária (Bernadette Lafont) esperta e maliciosa. O encontro de duas personalidades tão distintas permite a Truffaut brincar com a imaginação do espectador. Camille, a presidiária, conta uma história em off para Stanilas Previne, o sociólogo, mas as imagens em flashback mostram outra situação – com muito humor. Inspirado no livro “Such a Gorgeous Kid Like Me”, de Henry Farrell, “Uma Jovem Tão Bela Como Eu” pode ser o filme mais fraco de Truffaut, mas é cinema de alta qualidade.
“Barrados no Shopping”, Kevin Smith (1995)
Segundo longa da autodenonimada “Trilogia de New Jersey” (precedido pelo ótimo “O Balconista” e com seqüência no esperto “Procura-se Amy”) “Barrados no Shopping” (“Mallrats”) é o mais fraco dos três primeiros filmes do diretor Kevin Smith (capa do Scream & Yell On Paper #5), com alguns vácuos entre piadas e certa falta de acabamento na cinematografia, o que não tira o brilho de algumas ótimas passagens. O título nacional pega embalo na boa participação de Shannen Doherty (a Brenda da série “Barrados no Baile”) no elenco, que ainda conta com atuações quebra-galho de Ben Affleck e um perfeito Jason Lee. Sem contar Stan Lee, a lenda viva, que dá o ar de sua graça em um dos grandes momentos de uma comédia romântica que tem os pés atolados na cultura pop e no besteirol, e entretém enquanto faz rir.
“Feito Cães e Gatos”, Michael Lehmann (1996)
Possivelmente, uma das minhas comédias românticas prediletas, “Feito Cães e Gatos” (“The Truth About Cats and Dogs”) é um embate interessante entre beleza e inteligência inspirado em Cyrano de Bergerac, mas às avessas: aqui é a mulher que teme não ser aquilo que o homem deseja, e por isso “adapta-se” no corpo de sua vizinha, uma loura alta, de olhos claros e que é impossível não ser percebida. A tal loura é Uma Thurman, divertidíssima na visão rasa da mulher bela e burra, mas que convence conforme se aprofunda o personagem. A “outra” é a fofa Janeane Garofalo, brilhante em uma ótima atuação. Ela é uma veterinária que dá conselhos em uma rádio, e que acaba por chamar a atenção de um ouvinte, que a convida para jantar. Ela não vai, e manda a vizinha no lugar, e dá início a uma excelente comédia de erros.
O diálogo: “Combinadas, somos a mulher perfeita”, diz Noelle (Uma). “Não, somos o prisioneiro político perfeito. O que fazemos bem é ter convicção e passar fome”, responde Abby (Janeane).
setembro 6, 2009 No Comments
Os filmes prediletos de Woody Allen
por Marcelo Costa
Primavera de 2005. O repórter, amigo e biógrafo Eric Lax pergunta para Woody Allen quais são os melhores filmes já feitos na história do cinema. Um ou dois meses depois, Woody manda o que ele chama de “lista de insônia” de filmes favoritos, com um bilhete:
“Quando acordo durante a noite, para aplacar o meu pânico existencial, faço listas mentais. Isso às vezes me ajuda a voltar a dormir. Quase sempre as listas são de filmes – acrescento ou subtraio títulos, substituo. Meus gostos não me parecem nada excepcionais, a não ser na área de comédias de enredo faladas, na qual pareço ter pouca tolerância para qualquer coisa, certamente não para os meus próprios filmes.
Quinze dos meus filmes americanos favoritos (2005)
(sem nenhuma ordem particular):
– “O Tesouro de Sierra Madre”, John Houston (The Treasure of the Sierra Madre), 1948
– “Pacto de Sangue”, Billy Wilder (Double Indemnity), 1944
– “Os Brutos Também Amam”, George Stevens (Shane), 1953
– “Glória Feita de Sangue”, Stanley Kubrick (Paths of Glory), 1957
– “O Poderoso Chefão II”, Francis Ford Coppola (The Godfather: Part II), 1974
– “Os Bons Companheiros”, Martin Scorsese (Goodfellas), 1990
– “Cidadão Kane”, Orson Welles (Citizen Kane), 1941
– “O Delator”, John Ford (The Informer), 1935
– “A Colina dos Homens Perdidos”, Sidney Lumet (The Hill), 1965
– “O Terceiro Homem”, Carol Reed (The Third Man), 1949
– “Interlúdio”, Alfred Hitchcock (Notorious), 1946
– “A Sombra de Uma Dúvida”, Alfred Hitchcock (Shadow of a Doubt), 1943
– “Uma Rua Chamada Pecado”, Elia Kazan (A Streetcar Named Desire), 1951
– “Relíquia Macabra / O Falcão Maltês”, John Houston (The Maltese Falcon), 1941
Doze dos meus filmes europeus favoritos e três filmes japoneses favoritos (2005)
– “O Sétimo Selo”, Ingmar Bergman (Det Sjunde Inseglet), 1956
– “Rashomon”, Akira Kurosawa (Rash?mon), 1950
– “Ladrões de Bicicleta”, Vittorio De Sica (Ladri di Biciclette), 1948
– “A Grande Ilusão”, Jean Renoir (La Grande Illusion), 1937
– “A Regra do Jogo”, Jean Renoir (La Règle du Jeu), 1939
– “Morangos Silvestres”, Ingmar Bergman (Smultronstället), 1957
– “8 1/2″, Federico Fellini (8 1/2), 1963
– “Amarcord”, Federico Fellini (Amarcord), 1973
– “Trono Manchado de Sangue”, Akira Kurosawa (Kumonosu-j?), 1957
– “Gritos e Sussurros”, Ingmar Bergman (Viskningar och Rop), 1972
– “A Estrada da Vida”, Federico Fellini (La Strada), 1954
– “Os Incompreendidos”, François Truffaut (”Les Quatre Cents Coups), 1959
– “Acossado”, Jean Luc Godard (À Bout de Souffle), 1959
– “Os Sete Samurais”, Akira Kurosawa (Shichinin no Samurai), 1954
– “Vítimas da Tormenta”, Vittorio De Sica (Sciuscià), 1946
Tirando “Cidadão Kane” da lista de cima e passando para a debaixo, seria a minha lista de melhores filmes de todos os tempos”, diz Woody Allen
Provando que é um adepto da mutabilidade das listas, quando convidado em 2012 para a votação dos melhores filmes de todos os tempos organizada pela revista Sight and Sound, Woody Allen fez duas mudanças significativas listando 9 filmes presentes das listas acima, mas baixando “Glória Feita de Sangue” para a lista principal e incluindo um décimo filme (o trigésimo primeiro!), de Buñuel, que não havia aparecido nas duas listas de 2005:
Top 10 filmes de todos os tempos, por Woody Allen (2012)
– “O Sétimo Selo”, Ingmar Bergman (Det Sjunde Inseglet), 1956
– “Rashomon”, Akira Kurosawa (Rash?mon), 1950
– “Ladrões de Bicicleta” (Ladri di Biciclette), 1948
– “A Grande Ilusão”, Jean Renoir (La Grande Illusion), 1937
– “O Discreto Charme da Burguesia”, Luis Buñuel (Discreet Charm of the Bourgeoisie) 1972
– “Glória Feita de Sangue”, Stanley Kubrick (Paths of Glory), 1957
– “8 1/2″, Federico Fellini (8 1/2), 1963
– “Amarcord”, Federico Fellini (Amarcord), 1973
– “Os Incompreendidos”, François Truffaut (”Les Quatre Cents Coups), 1959
– “Cidadão Kane”, Orson Welles (Citizen Kane), 1941
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Leia também:
– Filmografia comentada: os 24 filmes de Federico Fellini (aqui)
– Filmografia comentada: os 25 filmes de François Truffaut (aqui)
– Filmografia comentada: os 26 filmes de Billy Wilder (aqui)
– Jean Renoir: “A Grande Ilusão”, “A Marselhesa” e “A Regra do Jogo” (aqui)
– Jean Luc Godard: “Acossado” é uma obra prima obrigatória (aqui)
– Luis Buñuel: “Uma estranha reunião de fantasmas em Hollywood” (aqui)
setembro 3, 2009 No Comments
Top 100 cenas de nudez no cinema
Quando me passaram o link, na semana passada, entendi que seria uma lista com as 100 melhores cenas de sexo da história do cinema, e já fui direto ao Top 10 conferir se a pegação sensacional de Halle Berry e Billy Bob Thorton em “Monsters Ball“, de 2001, estava entre as cinco mais, mas então percebi que a seleção apenas listava cenas de nudez (e femininas, sorry ladies).
Mas não adianta ficar alegrinho, caro amigo. São 10 vídeos em que o pessoal do Mr. Skin explica as 100 escolhas, e mostra algumas cenas com tarjas (cenas sem tarjas apenas para cadastrados no site). Mesmo assim não deixa de ser interessante, e polêmico. Como não tem Paz Vega em “Lúcia e o Sexo“? E Angelina Jolie está muito melhor em “Pecado Original” do que em “Gia”.
E a número 1 é sério ou é pegadinha?
Veja a lista aqui e depois procure os vídeos no Youtube – ou na sua locadora.
Ps. A foto que abre o texto é a da deslumbrante Eva Green em cena de “Sonhadores” (2003), do Bertolucci (um filme que adoro e que escrevi sobre aqui), um filme que adoro e preciso rever (oitavo lugar na lista do Mr. Skin). Já a foto abaixo é de Juliet Mills fazendo topless na Costa Amalfitana para desespero de Jack Lemon em “Avanti – Amantes À Italiana”, filme de 1972 de Billy Wilder.
Leia também:
– Les Inrockuptibles lista 50 canções para fazer Sexo (aqui)
– 100 Canções Essenciais da MPB (aqui)
– 100 Maiores Canções da MPB segundo a Rolling Stone (aqui)
setembro 1, 2009 No Comments