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La Route du Rock: lama e Portishead
O festival francês La Route du Rock existe desde 1991 na Bretanha Francesa e tem uma história tradicional de crescimento moderado, ano a ano, até alcançar o recorde de público, com 27 mil pessoas em um dia para ver The Cure em 2005 (em 2007, com Smashing Pumpkins de headliner, a soma de público alcançou 24 mil espectadores). No ano seguinte, 2006, a produção decidiu fazer duas edições anuais do evento, uma no inverno, outra no verão, esta última encabeçada pelo Portishead em 2014.
A casa principal do festival, que também oferece concertos gratuitos em alguns lugares de Saint Malo durante o fim de semana do evento, é o Forte de Saint-Père, construído no século XVIII, durante o reinado de Louis XVI, para proteger a França dos ataques dos corsários ingleses. Como o forte está localizado na cidade de Saint-Père-Marc-en-Poulet, 9 km ao sul de Saint-Malo, a produção oferece ônibus gratuito para ir e voltar do festival saindo de três pontos de Saint Malo (com o último ônibus saindo 5 da manhã).
Dai você pensa: um festival que existe a mais de 20 anos cujo line-up 2014 reúne nomes como Portishead, The War on Drugs, Kurt Vile & The Violators, Metz, Liars, Anna Calvi e Slowdive (entre muitos outros) e que acontece em um forte francês do século 18? Deve ser bem chique, certo? Na verdade é um chiqueiro. Como já disse um produtor (inexperiente) de grande festival no Brasil, lama (e feno molhado deixando cheiro de urina no ambiente) faz parte do imaginário de um festival de rock, mas para tudo há um limite.
No caso do La Route du Rock, edição de verão 2014, esse limite já havia sido ultrapassado na área de entrada do festival, no terceiro dia do evento, quando uma piscina de lama recebia o animado público. Aqueles que não foram preparados (90% se arma de galochas, mas há uns 8% de desavisados e mais uns 2% de corajosos que enfrentam o lamaçal de tênis ou mesmo chinelos de dedos) irão se arrepender profundamente, e mesmo a turma da galocha pode cair numa armadilha de tropeçar e nadar na lama (aconteceu).
Não que o festival deva ser sempre assim, muito embora numa região marcada por chuvas deva ser difícil imaginar a grama do forte resistir a 20 mil fãs de música um dia que seja, mas a grande questão é que fica difícil se concentrar na música quando o ambiente em torno de você chama mais a atenção (e a preocupação) do que o que está acontecendo no palco. Desta forma, os artistas do terceiro dia do festival tiveram que conquistar não só a atenção do público, mas também desviar essa atenção do cenário deprimente de lama e feno.
Nesse ponto, Anna Calvi surpreendeu com um show bastante eficiente, que mostra que a cantora está se distanciando das comparações com PJ Harvey e adquirindo personalidade própria. Isso ficou evidente na postura de Calvi, incorporando momentos hendrixianos e solando muito, e no próprio set list: após abrir a noite (de sol) com “Suzanne & I”, de sua estreia (“Anna Calvi”, 2011), quatro canções seguidas de “One Breath”, de 2013, mostraram fé no novo repertório. Uma cover da sessentista “Jezebel” pós fim ao ótimo show.
Na sequencia, após um show matador em Oslo, no Øya Festival, o Slowdive chegava à Bretanha com sua turnê de retorno mudando absolutamente nada do repertório, o que facilitou a comparação dos dois shows, com o de Oslo, numa tenda (seca) sendo quilômetros superior. Não a toa, a primeira frase de Neil Halstead antes mesmo da guitarra soar no forte foi: “Ainda bem que parou de chover”. Ainda que inferior ao show do Øya, a apresentação no La Route colocou sorrisos guitarreiros na cara de muita gente (até da Rachel).
Já com a noite escura (o que tornou o ambiente do festival mais caótico), o Portishead subiu ao palco para produzir mais um show irreparável. O set list praticamente não muda (mas a banda atualizou as belas imagens do telão que interagem com a câmera ao vivo), a voz sofrida de Beth Gibbons continua comovente enquanto riffs e batidas eletrônicas convidam o espectador a dançar numa cintilante festa fúnebre que transforma a execução de canções como “Sour Times”, com o telão do fundo de palco “estendendo” uma cortina branca e simulando um cabaré, em momentos absolutamente mágicos.
O show continua sendo aberto pela voz do brasileiro Claudio Campos declamando a “Regra Três”, introdução de “Silence”, faixa de “Third” (2008), terceiro disco do Portishead, e base para o show (com cinco canções fixas no set list mais “Chase the Tear”, lançada em 2009). Dos dois primeiros álbuns saem pérolas como “Mysterons”, “Wandering Star”, “Over” e “Cowboys” além, claro, de “Glory Box”, que pode ser tocada quantas vezes for, e continuará arrepiando. No bis, “Roads” e “We Carry On” encerram um show especial.
O balanço de apenas um dia de La Route du Rock é, no entanto, negativo. Os três grandes shows da noite, que ainda teria Liars pela frente (vencido pela dificuldade de suportar as péssimas condições do ambiente), mereciam um local melhor, pois poucas vezes o ditado “pérolas arremessadas na lama” caiu tão bem quanto aqui para explicar um festival de rock. Pretendo voltar para a Bretanha para conhecer melhor St. Malo, ir ao Monte Saint-Michel e esticar até a Normandia, mas provavelmente evitarei o La Route du Rock. Se vier traga galochas, prepare o nariz e torça muito para não chover.
Ou então curta a bagunça. É sempre bom pensar que algo que uma pessoa não gosta, outra pode curtir. Eu, por exemplo, nunca iria ao Glastonbury. São muitos palcos, é muita lama, é muito longe da cidade e meu corpo cansado precisa de uma cama após uma maratona de shows. Tem gente que prefere acampar, e isso é legal. Saint Malo, ao menos em 2014 (vai que em 2015 faz uma semana de sol na Bretanha) não foi um festival para mim, fã de festivais urbanos como Primavera Sound e Øya Festival, ou mesmo Benicàssim, Rock Werchter e Best Kept Secret. O segredo, na verdade, é encontrar o seu tipo de festival. E se jogar. Vai um balde de lama ai?
Fotos 1, 2, 4, 5 e 6 por Marcelo Costa
Fotos 3, 7, 8, 9, 10 e 11 por La Route du Rock (veja galeria)
agosto 22, 2014 No Comments
Festivais: 11 line-ups confirmados
Festival Abril Pro Rock 2018, em Recife
Dias 27 e 28 de abril de 2018
Infos: https://www.facebook.com/festivalabrilprorock
Experiência Scream & Yell: Maratona sonora para fortes e corajosos
Primavera Fauna Outino, Santiago, Chile
12 de maio de 2018
Infos: https://www.facebook.com/faunaprimaverafestival/
Experiência Scream & Yell: Vale o passeio
Noches del Botânico, Madrid, Espanha
De 21 de junho a 29 de julho de 2018
Infos: https://www.facebook.com/nochesbotanico/
Festival Vida, na Província de Barcelona, Espanha
Dias 28 de junho a 01 de julho de 2018
Infos: http://www.es.vidafestival.com/
Roskilde Festival, Dinamarca
De 30 junho a 07 de julho de 2018
Infos: https://www.facebook.com/orangefeeling/
Rock Werchter, Bélgica
De 05 a 08 de julho de 2018
Infos: http://www.rockwerchter.be/en/
Experiência Scream & Yell: Rock, lama e por-do-sol às 22h
Quebec City Summer Festival, Canadá
De 05 a 15 de julho de 2018
Infos: https://www.infofestival.com/
Sloss Fest, Birmingham, Alabama, EUA
Dias 14 e 15 de julho de 2018
Infos: http://slossfest.com/lineup/
Stockholm Music & Arts, Estocolmo, Suécia
De 29 a 31 de julho de 2018
Infos: http://stockholmmusicandarts.com/
Experiência Scream & Yell: Som impecável, serviços perfeitos
La Route du Rock, Saint Malo, França
De 16 a 19 de agosto de 2018
Infos: http://www.laroutedurock.com/
Experiência Scream & Yell: Lama, lama. lama e Saint Malo <3
Latitude Festival, Reino Unido
Dias 13 e 15 de julho de 2018
Infos: http://www.latitudefestival.com/
Confira o line-up de outros grandes festivais de música
março 12, 2018 No Comments
24 minutos de Slowdive ao vivo
Havia muita lama, feno e vinho. E, no palco, Slowdive. Essa são minhas lembranças do La Route du Rock 2014, na Bretanha Francesa, um dos festivais mais enlameados que já coloquei meus tênis. Abaixo, 24 minutos emocionantes do grande show em alta qualidade. Aqui o texto da época.
Ps. Nessa mesma noite teve Portishead…
Ps2 Saint Malo é incrível…
fevereiro 3, 2017 No Comments
O desejo de voltar a St. Malo
A despedida de Amsterdam não podia ter sido melhor: show dos mineiros do TiãoDuá, coxinha e uma última volta pela encantadora área central da cidade. Na manhã seguinte, 6h e pouco, trem para Paris, troca de estações e trem para Saint Malo, na Bretanha francesa. Primeiro desafio: descobrir como chegar a estação central de Amsterdam ás 6h sem gastar muito, já que o transporte público na cidade começa mais ou menos nessa hora. O recepcionista do hotel deu a dica: “O ônibus noturno: é uns 2 euros mais caro, mas levará vocês”. Deu certo.
Com mais de 50 garrafas divididas em três malas, o plano arquitetado na noite anterior ditava que deveríamos deixar as três malas pesadas no locker do Gare du Nord, em Paris, na quinta-feira, e seguir para a Bretanha apenas com o necessário, já que voltaríamos para a capital francesa no sábado à tarde. Teríamos que fazer isso rápido, porque nosso trem para Saint Malo sairia exatas 1 hora e 10 minutos da Gare de Montparnasse após nossa chegada na Gare du Nord, mas as coisas tinham que ser com emoção, muita emoção.
Achar a área de lockers na Gare du Nord foi o primeiro desafio, entender o funcionamento do pagamento após o segundo dia, outro desafio, e assim nos vimos com menos de 30 hora para chegar a Montparnasse. Descartamos o metrô e partimos no desafio de pegar um taxi em Paris (as anedotas não costumam ser engraçadas). Gentilíssimo, o motorista fez um caminho alternativo (diferente do que eu seguia pelo Google Maps) e nos deixou na porta da estação exatamente na hora em que nosso trem sairia. Nem Usain Bolt correria tanto…
Detalhe: na Gare de Montparnasse, as telas que orientam as partidas de trem estavam desligadas, e não havia nenhuma informação de plataforma. Colei em alguém da estação, que olhei meu bilhete e mandou: “Deve ser na plataforma 1 ou 2”. Só havia um trem na 1 e partimos em disparada para o local. Portão fechado. Assim que ameaçamos abrir a boca, o funcionário que SNCF desembestou a falar, e o que entendi é que ele estava se desculpando, mas chegamos atrasados mais de dois minutos, e o trem iria partir (sem nós).
Enquanto o cara falava, para nossa sorte, outras pessoas atrasadas chegavam ao portão, e quando o grupo já somava oito rostos pedindo por favor para embarcar, o cara foi procurar o superior, que… autorizou a entrada. Segundo desafio cumprido. O terceiro era torcer para que o dono da pousada que iria nos abrigar em Saint Malo, e que mandará um email em francês dois dias antes dizendo que não havia quarto de casal disponível (a reserva foi feita em maio!), conseguisse qualquer quarto para nós, afinal tudo estava lotado na cidade no fim de semana.
Saint Malo foi fundada no século 1 antes de Cristo e a parte murada da cidade (Intra Muros) construída no seculo XII pelo Bispo Jean de Chatillon. É uma típica cidadezinha balnearia, com 51 mil habitantes que se transformam em quase 300 mil no verão europeu. Surgiu no nosso planejamento de roteiro quando eu procurava algum lugar para ver (mais uma vez) o Portishead ao vivo, e calhou da data deles no festival La Route du Rock bater com o espaço vago na agenda, mas o que me convenceu foi essa foto no Google Images.
A chegada de trem é na parte nova da cidade, não muito diferente do que se vê pela janela durante a viagem. Já a região Intra Muros é de tirar o fôlego. Ainda que exageradamente explorada comercialmente, com creperias, lojinhas de quinquilharias, restaurantes e o diabo a quatro, a área Intra Muros é uma viagem no tempo que faz a gente questionar quanto trabalho gasto foi usado para construir uma pequena vila que resiste formosa ao passar dos séculos. Olhar o movimento das marés é um deleite para o dia inteiro do alto das muralhas da cidade.
Alguém escreveu em meu Instagram: “Nunca vi um mar tão triste quanto na Bretanha”. E é exatamente isso. Mesmo com o sol de verão, tímido, o cinza domina a região. O vento é forte, as marés sobem até 12 metros e descem até 50 centímetros quatro vezes por dia. Na praia, professores ensinam garotos e garotas (de 12, 13 anos) a velejar. Placas por toda parte murada orientam: “Se você for pego pela maré alta, fique exatamente onde está. Não tente voltar porque corre o risco de se chocar contra as rochas”.
Acho que a palavra que melhor descreve a parte Intra Muros é idílica, e embora tenha me decepcionado com o festival (próximo texto), quero voltar e fuçar com calma a Bretanha fora do verão, visitando o Monte Saint-Michel e desbravando um pouco mais dessa região que tem língua própria, o Bretão, cerveja própria (trouxe três garrafas e falarei delas no blog em posts futuros) e cidra artesanal fresquíssima servida em bules de chá e tomada em xícaras. Além, claro, dos famosos crepes e galettes (o crepe salgado).
A viagem ideal por essa região une a região bretã com a região normanda e seus séculos de história (quem sabe uma esticada até a Cornualha britânica) que envolvem celtas (a Celtic League e formada por Escócia, Irlanda, Ilha de Man, o País de Gales e a Cornualha), a elogiada Côte de Granite Rose (que alguns dizem ser a parte mais bonita de toda a França) e, claro, a própria Normandia, palco do Dia D, em que diversas tropas Aliadas desembarcaram em solo francês a fim de combater a dominação da Alemanha Nazista.
Por hora, Saint Malo e sua extremamente conservada parte murada cumpre sua função de conquistar o olhar de forma irrepreensível, e causar o desejo de voltar. Que não demore.
agosto 21, 2014 No Comments
Europa 2014: Roteiro fechado
Estocolmo, 2013, Marcelo Costa
Falta uma semana para a viagem, e só hoje batemos o martelo do roteiro, afinal, não dá para abraçar o mundo. A entrada do show do Portishead em St. Malo acabou complicando a ida para Delft e a passagem por Haia, então deixamos as duas cidades para uma próxima viagem e antecipamos a chegada em St. Malo, o que nos permitirá não só conhecer melhor a cidade como sair sossegado de lá para Paris no sábado. Ou seja, tudo praticamente ok. Já separei uma lista de Systembolaget em Estocolmo e de Vinmonopolet em Oslo e agora é começar a preparar as malas. O roteiro (agora final) fica assim:
30/07 – São Paulo
31/07 – Estocolmo
01/08 – Estocolmo – Music & Arts Festival (Television, Goldfrapp)
02/08 – Estocolmo – Music & Arts Festival (Beth Orton)
03/08 – Estocolmo – Music & Arts Festival (Neil Young & Crazy Horse)
04/08 – Estocolmo
05/08 – Oslo
06/08 – Oslo – Oya Festival (The National, QOTSA)
07/08 – Oslo – Oya Festival (Bill Calahan, Outkast)
08/08 – Oslo – Oya Festival (Neutral Milk Hotel, Mayhem)
09/08 – Oslo – Oya Festival (Slowdive, Sharon Van Etten)
10/08 – Amsterdã
11/08 – Amsterdã – Neutral Milk Hotel, Paradiso
12/08 – Amsterdã
13/08 – Amsterdã
14/08 – Saint Malo
15/08 – Saint Malo – La Route Du Rock (Portishead, Anna Calvi, Slowdive)
16/08 – Paris
17/08 – Paris
18/08 – Paris / São Paulo
Oslo, 2013, Marcelo Costa
Leia também:
Diário de viagem: Europa 2008, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013
Diário de viagem: Estados Unidos 2011 e 2013
julho 23, 2014 No Comments
Quatro respostas: viagens e festivais
Para uma pauta de Flávia Durante publicada na revista Dufry World
A quais festivais de música no exterior você já foi?
Espero que eu não esqueça nenhum: Rock Werchter e Cactus Festival, na Bélgica; T In The Park, na Escócia; Isle of Wight e I’ll Be Your Mirror, na Inglaterra; Primavera Sound e Festival de Benicàssim, na Espanha; Norwegian Wood, na Noruega; Best Kept Secret, na Holanda; Coachella e New Orleans Jazz Festival, nos Estados Unidos; Personal Fest, na Argentina; Primavera Fauna, no Chile. Neste ano devo ver mais três diferentes: Oya Festival, na Noruega; La Route Du Rock, na França; Stockholm Music & Arts, na Suécia.
O que leva você a correr o mundo atrás de festivais?
A paixão pela música: o bacana de um grande festival é que você tem a oportunidade de ver diversas atrações diferentes de uma vez. Isso é sensacional e é algo que estamos experimentando apenas agora, com o Lollapalooza. Minhas viagens são sempre pautadas por shows: tento ir de uma cidade para a outra (principalmente na Europa) sempre encaixando o show de um artista que quero ver. Nos Estados Unidos, por exemplo, quando fui ao Coachella em 2011, que acontece na Califórnia, saindo dali voei para Chicago a fim de ver dois shows do Arcade Fire com o National, e dali para Columbus, Ohio, ver o Decemberists. O roteiro mais maluco que fiz foi o de 2012, em que vi Zombies, Elvis Costello, Big Star e o festival I’ll Be Your Mirror em Londres, fui para Barcelona conferir o sensacional Primavera Sound, e dali passei por Paris (Guns n’ Roses… porque um amigo queria ver, risos), Luxemburgo (Lou Reed), Cork (Tom Petty), voltei para Barcelona para ver Stone Roses, fui para Trieste, na Itália, conferir Bruce Springsteen e terminei em Amsterdã, onde o Afghan Whigs iria se apresentar. É cansativo, mas acabo indo a lugares sensacionais atrás de shows, provavelmente cidades que eu não iria normalmente.
Qual história mais interessante ou engraçada você já viveu em uma dessas viagens?
São muitas. Desde confundir um trem na Bélgica (“Leuven e Louvain, same name”, me disse o cobrador do trem na Bélgica para explicar que duas cidades belgas tem o mesmo nome, um em flamengo, outro em francês, mas eu estava indo para a errada. Eu deveria ir para a cidade com nome em francês, mas acabei quase na divisa com a Holanda do outro lado do país – não precisa muito, afinal o país é pequeno, mas o casal de amigos que estava me esperando para o Rock Werchter achou estranho de não chegarmos no horário combinado). O interessante é observar costumes locais. A comida creole do New Orleans Jazz Festival deverá ser, eternamente, uma das melhores comidas que já experimentei em festival. No Coachella não se pode consumir bebida alcóolica no meio do festival, apenas em áreas cercadas; por sua vez em Bruges, no Cactus Festival, havia umas 10 cervejas diferentes ofertadas ao público. Minha mulher comprou hambúrguer de carne de avestruz no Isle of Whigt, e percebi no primeiro momento que a carne era mais densa, estranha, mas depois ela me mostrou um cartaz na barraquinha em que comprou fazendo comparativos sobre carne saudável. Na Holanda, era mais barato comer dentro do festival do que fora (algo inimaginável no Brasil), e eram pratos mesmo, comida para sustentar a pessoa para oito, dez horas de shows. Em Benicàssim, para fazer amizade com os barmans, pedíamos em espanhol: “Una caña, por favor”, e eles puxavam papo, agradeciam por pedirmos em espanhol e reclamavam dos hooligans britânicos que causavam no evento. Uma das histórias que mais gosto de lembrar em festival aconteceu exatamente no Benicàssim, e descrevi assim no meu blog (sempre faço diários):
A primeira coisa que fiz ao entrar no FIB foi ir direto comer um taco numa barraquinha de comida mexicana. Facada: 10 euros, mas valeu, estava bem bom. E estou eu lá, no meio do prato, quando cola uma menina ao lado: “Você fala inglês ou espanhol?”. E eu: “Não falo bem nem um nem outro, mas diga”. Ela: “Cara, estou com muita fome, você pode me dar um pouco da sua comida?”. O nome dela era Roxanne, era francesa e depois de duas garfadas – cujo sabor deu para perceber em seus olhos – se despediu: “Como se diz bon appetite em português?”
Já tinha acontecido algo assim no primeiro dia, antes mesmo de eu pegar a pulseira do festival. Do lado de fora, uma barraca vendia copos de cerveja de 1 litro por 6 euros. Com o sol a pino, decidi encarar. Uma inglesa colou em mim no balcão e desembestou a falar. E eu: “Calma, calma, devagar”. E ela: “Você é alemão? Fala inglês?”. E eu: “Mais ou menos”. E ela: “Legal, você me entende. Me empresta 2 euros para eu comprar um kebab?”. O atendente, espanhol, comentou: “Você devia ter dito que não sabia falar inglês”. (risos) (continue lendo)
Qual dica você dá para “marinheiros de primeira viagem”?
Aproveitar os percalços que surgem pelo caminho porque tudo é aprendizado. E, sobretudo, respeitar a tradição local. Uma vez em Istambul peguei o barco que segue pelo Bósforo alternando paradas, de um lado no Oriente, do outro no Ocidente. O ponto final era numa cidadezinha quase na entrada do Mar Morto. Vi um restaurante simples assando peixe fresco numa grelha e decidi sentar para comer. Pedi uma cerveja, e fui informado que eles não tinham. Enquanto minha mulher esperava na mesa, fui a uma vendinha e comprei duas latas de cerveja e voltei para a mesa. Quando ia abrir a primeira, o rapaz do restaurante voltou e me informou: “Nós não temos cerveja porque nossa religião não nos permite consumir nem vende-la, e por isso pedimos que nossos clientes não consumam aqui”. Na hora fiquei contrariado, mas guardei a cerveja na mochila e percebi que eu estava na terra dele, na casa dele, e deveria respeitar suas tradições. Mark Twain tem uma frase que adoro, e que resume isso: “Viajar é fatal para o preconceito, a intolerância e as ideias limitadas. Não se pode ter uma visão ampla, abrangente e generosa dos homens vegetando num cantinho do mundo a vida inteira”. Acredito nisso.
julho 4, 2014 No Comments
Europa 2014: um mês para a viagem
A ideia inicial do roteiro não era ver tantos shows, mas eles estão atravessando o caminho, e como dizer não? Após o festival Stockholm Music & Arts confirmar Neil Young & Crazy Horse exatamente nos dias em que estaremos na cidade, agora foi a vez de Neutral Milk Hotel fechar um show no Paradiso, em Amsterdã, no período em que estaremos por lá. Bora. O roteiro de shows está assim, por enquanto…
30/07 – São Paulo
31/07 – Estocolmo
01/08 – Estocolmo – Music & Arts Festival (Television, Goldfrapp)
02/08 – Estocolmo – Music & Arts Festival (Beth Orton)
03/08 – Estocolmo – Music & Arts Festival (Neil Young & Crazy Horse)
04/08 – Estocolmo
05/08 – Oslo
06/08 – Oslo – Oya Festival (The National, QOTSA)
07/08 – Oslo – Oya Festival (Bill Calahan, Outkast)
08/08 – Oslo – Oya Festival (Neutral Milk Hotel, Mayhem)
09/08 – Oslo – Oya Festival (Slowdive, Sharon Van Etten)
10/08 – Amsterdã
11/08 – Amsterdã – Neutral Milk Hotel, Paradiso
12/08 – Amsterdã
13/08 – Amsterdã
14/08 – Delft / Haia
15/08 – Saint Malo – La Route Du Rock (Portishead, Anna Calvi, Slowdive)
16/08 – Saint Malo
17/08 – Paris
18/08 – Paris / São Paulo
julho 1, 2014 No Comments
Europa 2014: 3º rascunho de viagem
Chega a ser engraçado como um roteiro de viagem muda de um dia para o outro, e sempre reforço que planejar a viagem é parte divertida da viagem. Após ter cortado o festival Pukkelpop do roteiro, o amigo Chacal, amplo conhecedor de festivais na Europa, botou pilha: “E o Lowlands?”. Fui olhar o line-up e ele está bacana, mas nada que me fizesse criar coragem além de… Portishead. Fui então olhar o site do Portishead e ver onde mais eles tocariam e descobri o La Route Du Rock, em Saint Malo, uma cidadezinha do século I, na Bretanha francesa. Como o voo de volta é de Paris e o line-up do dia ainda conta com Liars, que eu nunca vi ao vivo, Anna Calvi, que perdi no Benicàssim por alongar demais o boteco, e Slowdive, que terei visto duas semanas antes em Oslo no Oya Festival, achei por bem fechar apenas esse dia do festival (uma sexta, por R$ 125 o ingresso) para, no sábado, desbravar a cidade. Desta forma, bora ver Portishead pela quarta vez (eles nunca decepcionam). O roteiro (praticamente final) fica assim:
30/07 – São Paulo
31/07 – Estocolmo
01/08 – Estocolmo
02/08 – Estocolmo
03/08 – Estocolmo
04/08 – Estocolmo
05/08 – Oslo
06/08 – Oslo
07/08 – Oslo
08/08 – Oslo
09/08 – Oslo
10/08 – Amsterdã
11/08 – Amsterdã
12/08 – Amsterdã
13/08 – Amsterdã
14/08 – Delft / Haia
15/08 – Saint Malo
16/08 – Saint Malo
17/08 – Paris
18/08 – Paris / São Paulo
Leia também:
– Beth Gibbons nina a alma de espectadores na Espanha (aqui)
– Portishead na Holanda: digno do adjetivo matador (aqui)
junho 6, 2014 No Comments
Um Top 5 do Record Store Day 2015
Neste sábado, a partir das 12h, o Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, irá comemorar o Record Store Day com uma grande feira de LPs nacionais e importados! São mais de 70 estandes, discotecagem de Kid Vinil e pockets shows de Bruno Souto e Rômulo Fróes durante o evento (infos aqui).
No embalo da festa, a turma do MIS me pediu uma listinha com cinco discos do Record Store Day 2015. Me enganei e enviei uma lista com cinco discos do ano quando, na verdade, eram cinco discos da lista oficial do evento (essa aqui). Abaixo, então, 10 discos: o meu Top 5 do ano e um Top 5 do RSD.
Top 5 2015
“Echolocations: Canyon”, Andrew Bird
Aqui Andrew não só toca, mas ouve (e incorpora) os ecos devolvidos pelo ambiente, no caso o canion Coyote Gulch, em Utah. É só violino, assovio e natureza. E é bonito demais.
“Carrie & Lowell”, Sufjvan Stevens
O retorno de Sufjan ao folk soa como tentar juntar as peças de um velho quebra-cabeça incompleto. Ele está sangrando e você tem um grande disco para ouvir.
“Existe Alguém Ai”, Wander Wildner
Eis a trilha sonora tristonha para os dias esquisitos que estamos vivendo num Brasil movido a indignação seletiva. “Saudade” já é um clássico do cancioneiro de Wander.
“What a Terrible World, What a Beautiful World”, The Decemberists
Se “The King Is Dead” era notadamente urgente, “Terrible/Beautiful” soa distanciado e menos direto, e deve ser ouvido com a atenção de quem lê um livro.
“Carousel One”, Ron Sexsmith
Em seu décimo quarto álbum, este compositor canadense apaixonado pela melancolia para ter descoberto a felicidade num disco que confortar corações e almas perdidas.
Top 5 RSD 2015
Bob Dylan: “Basement Tapes”
Esse vinilzinho já devia sair do Record Store Day para um museu. Se você tiver aqueles quadros que emolduram capas de disco em casa, esse álbum já tem lugar garantido.
The Decemberists: “Picaresque”
Edição comemorativa de 10 anos em vinil vermelho do disco que ampliou o séquito de admiradores da turma de Colin Meloy – eu incluso.
The Replacements: Replacements EP
Uma obra prima no formato de canção pop (“Alex Chilton”, em homenagem ao gênio líder do Big Star), um b-side blueseiro (“Election Day”) e um cover de “Route 66”… Essencial.
Suede: “Dog Man Star. Live. Royal Albert Hall”
Meu disco preferido da turma de Brett Anderson na integra ao vivo no mítico Royal Albert Hall. São só 350 cópias…
Gram Parsons/Lemonheads: “Brass Buttons”
Gram Parsons é um herói aqui em casa. E Evan Dando me diverte com as versões surreais que o Lemonheads já fez de Metallica, Whitney Houston e Oasis. Bela dobradinha em vinil rosa.
abril 17, 2015 No Comments
Dez links que valem a pena
– Bob Dylan na Espanha: “Show foi como ver Monalisa no Louvre” (aqui)
– Duas músicas novas do El Mato a un Policia Motorizado (aqui)
– Duas músicas novas do português B Fachada (aqui)
– “Freedom At 21”, novo clipe de Jack White (aqui)
– Ouça “Charmed”, primeira música do disco novo de Aimee Mann (aqui)
– Ouça “Lovecrimes”, de Frank Ocean, com o Afghan Whigs (aqui)
– Novo “Batman” é a adaptação mais corajosa de gibi para cinema (aqui)
– Roteiros de cerveja na Bélgica (aqui)
– Primeiro show do Dain Damage, com Dave Ghrol na bateria, 1985 (aqui)
– 50 minutos de BRMC em Santiago (aqui) e 1h05 no SWU 2011 (aqui)
julho 16, 2012 No Comments