Dylan com café, dia 26: Real Live
Bob Dylan com café, dia 26: “Infidels”, o café de ontem, é um belo disco que envelheceu de maneira ainda melhor, mas que a crítica da época, ainda descrente de Dylan devido à fase cristã, fez pouco esforço para entender. “É um disco tão empolgante quanto passar a noite numa lavanderia”, descreveu a Melody Maker. “Há muito que dizer sobre aposentadoria precoce”, provocou a Record Mirror. Com um grande disco incompreendido nas mãos, Dylan saiu em turnê sem Sly, Dunbar e Knopher, mas com Mick Taylor roubando a cena com solos em diversas noites.
Detonado amplamente desde o momento de seu lançamento, o registro da tour “Real Live” (que chegou às lojas em novembro de 1984) não é tão ruim quanto pintam, porém traz uma seleção de repertório tão equivocada que faz ter vontade de pegar quem decidiu a lista final de canções e lhe dar umas bifas. Cavalos de batalha óbvios (“Maggie’s Farm” cada vez mais metalizada; “Tangled Up In Blue” com letra alterada; a pior de todas as versões de “Ballad Of a Thin Man”; uma pálida “Tombstone Blues” que conta com a participação inaudível de Carlos Santana), apenas duas músicas de “Infidels” (“I and I” em excelente forma e uma boa revisão de “License To Kill”) e nada de curiosidade.
Para isso, a solução é ir atrás do excelente bootleg “Les Temps Changent – Bob Dylan Live in Paris 1984.07.01”, que traz o concerto completo na capital francesa. Através dele é possível confirmar que é nessa turnê que o Pato Donald substitui Bob Dylan na voz, que “Jokerman” (deixada de fora de “Real Live” sabiamente) não funcionou ao vivo (ainda que a versão no programa de David Letterman seja boa), que o arranjo de “Simple Twist of Fate” soa totalmente equivocado, mas que a inédita “Enough Enough” (nunca lançada posteriormente) merecia um espaço no álbum por sua raridade tanto quanto a cover de “Just My Imagination”, dos Temptations, e, principalmente, a linda “Every Grain of Sand”, único momento da fase cristã no show, e uma pérola emocional. “Dificilmente seria possível lançar um álbum ao vivo da turnê europeia de Dylan pior do que ‘Real Live’. A escolha das músicas é infeliz e das performances é ofensiva”, avalia Michael Gray, com razão. E é só o começo do fundo do poço para Bob. Calma que vem coisa pior pela frente…
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