Dylan com café, dia 85: Copyright Collection
Os últimos quatro cafés lidavam com material raro de Bob do inicio dos anos 60, grande parte dele ou pirateada na cara de pau por um mercado paralelo que existe desde o final dos anos 60 buscando saciar fãs insaciáveis ou ainda recentemente lançados de maneira oficial (pero no mucho) numa brecha da lei de direitos autorais da Inglaterra. As Bootleg Series surgiram para dar vazão a esse material raro disputado por fãs no mercado paralelo, mas muita coisa ainda estava engavetada, e para tentar driblar a Lei de Direitos Autorais europeia, a Columbia Records decidiu oficializar o material de 1962 que estava prestes a completar 50 anos em 2012 (e entrar em domínio público) lançando-o numa tiragem limitadíssima de 100 cópias (um conjunto de quatro CDRs) apenas para registro de lançamento e de computo de direitos autorais, repetindo a artimanha em 2013 (com o material de 1963), 2014 (1964), 2015 (1965) e 2016, único ano que teve amplo lançamento com todos os shows de Dylan no período reunidos em um box com 36 CDs (tema de um café futuro).
A “The 50th Anniversary Collection: The Copyright Extension Collection, Volume 1”, que mapeia as raridades de 1962, mergulha nas sessões de “The Freewheelin’ Bob Dylan” com mais de 50 gravações inéditas e ainda oficializa as Mackensie Home Tapes, o set na Gerde’s Folk City e o famoso show no Finjan Club, em Montreal (um dos bootlegs mais famosos do período). Há ainda seis faixas no Gaslight Café que ficaram de fora do álbum lançado em parceria com a Starbucks. Imperdível. No “Volume 2”, que mapeia o material raro de 1963 de posse da gravadora, Dylan já caminhou quilômetros e está com um domínio incomparável de sua arte (basta colocar lado a lado a sessão de 1962 no Gerde’s Folk City com a de 1963 para perceber a evolução). Muito do material que abastece diversos bootlegs (o “Many Faces of Bob Dylan” incluso) batem ponto aqui como a sessão imperdível no Studs Terkel Wax Museum, em Chicago, e o registro potente no Town Hall, que nunca foi registrado oficialmente porque, aparentemente, o microfone do violão está muito próximo e Bob o toca diversas vezes, prejudicando o registro. O terceiro volume da coleção (lançado em nove vinis em 2014 mapeando o ano de 1964) reúne material de um show na TV em Toronto, a fita Eric Von Schmidt’s House (outro bootleg famoso finalmente oficializado) e shows em Londres, Filadélfia, São José e São Francisco (alguns de baixa qualidade) além de registros das sessões do álbum “Another Side Of Bob Dylan”.
O quarto volume lançado da série (2015) lança luz sobre material de 1965, e mapeia a turnê acústica em material geralmente de qualidade bem baixa, mas vale atenção ao concerto (em excelente qualidade) no Free Trade Hall, em Manchester (um ano antes da revolução sônica que rendeu o grito de Judas em 1966), e também ao show da BBC. Após 149 músicas ouvindo Bob ao violão acompanhado de sua gaita, o registro ensandecido de “It Takes A Lot To Laugh, It Takes A Train To Cry” com banda (e Michael Bloomfield solando loucamente) no Newport Festival 65 talvez dê uma pequena ideia da loucura que foi essa reviravolta no mesmo evento que o levou às massas nos anos anteriores. E essa é a canção que divide as fases neste volume das “The Copyright Extension Collection”: a partir daqui, registros no Hollywood Bowl, em Forest Hills e em Berkeley trazem os shows metade acústico, metade elétrico, para desespero dos puristas. Lançados de maneira limitada, os quatro boxes estão obviamente esgotados e os poucos disponíveis em sites de revenda custam pequenas fortunas que podem ir de R$ 1500 até R$ 10 mil. Itens raros, mas que valem muito a audição. Porém, para quem não conseguiu pegar os boxes ou acha um exagero todo esse material, a Columbia lançou em larga escala em 2018 o CD duplo “Live 1962 – 1966: Rare Performances from The Copyright Collections”, um best of com 26 canções retiradas da coleção. É uma boa introdução a esse material imperdível.
setembro 19, 2018 No Comments