Posts from — maio 2018
Três novas cervejas da Adnams no Brasil
De Southwold, Suffolk, mais três novidades da inglesa Adnams, duas delas colaborativas, chegaram ao Brasil nesta semana via importação da Get Trade, braço da Get – Cervejas Especiais, dando continuidade a série de lançamentos da cervejaria inglesa no Brasil – só neste ano já baixaram por aqui cinco cervejas da linha Jack Brand (Flat White Porter, Crystal Rye IPA, Ease Up IPA, Mosaic Pale Ale e Clementine Pale Ale) mais a Wild Hop Amber Beer e a Blackshore Stout. Desta vez estão chegando a Two Bays Oak Pale Ale (colab com a Cigar City), a White Lies (colab com a Yeastie Boys) e a Satsuma Witbier.
Para apresentar o trio de novidades, a Get Trade reuniu a imprensa cervejeira no Empório Alto de Pinheiros, em São Paulo, numa segunda-feira (14/05) de tempo ameno na tarde, e friozinho noturno. Para abrir a degustação foi escolhida uma cerveja da Adnams que a Get já vem trazendo há alguns anos, mas que agora retorna ao país em latão de 500 ml e preço especial para o consumidor final, entre R$ 15 e R$ 17. Uma bela Bitter inglesa (tem texto sobre ela no Scream & Yell).
No território das novidades, a primeira foi a Adnams Jack Beand Satsuma, uma Witbier com suco da tangerina oriental Satsuma, cravo e noz moscada (na fervura) mais os lúpulos Huel Mellon e Mandarina Bavaria. Uma boa Witbier que está mais para Blue Moon do que para Hoegaarden. Bem interessante. R$ 21 a garrafa de 330 ml. Na sequencia, Two Bays, colab Adnams com a mítica Cigar City Brewing, de Tampa, nos EUA. Trata-se de uma English Pale Ale com lupulagem caprichada (Citra, Cashmere, Lemondrop, Enigma e Calipso) e acréscimo de chips de carvalho, que traz, de maneira sutil, baunilha e coco. São 1000 garrafas para o Brasil! Preço de R$ 30 a garrafa de 330 ml.
Fechando o trio, outra colaborativa: White Lies, feita em parceria com os cervejeiros da Yeastie Boys, da Nova Zelândia, uma White Stout de corpo leve e aroma intenso de… chocolate branco e pão doce no paladar. Curiosa. Essa está chegando por R$ 26 a garrafa de 330 ml. Encerrando o passeio, a tradicional combinação de Adnams Broadside, uma English Strong Ale caprichada (leia sobre ela no Scream & Yell) que sempre nos lançamentos da Adnams no EAP surge acompanhada de uma incrível Lamb Broadside Pie, uma torta de carne moída de cordeiro cozida na cerveja Broadside. Uma delícia que deveria figurar no cardápio oficial da casa.
maio 18, 2018 No Comments
Leffe, onde tudo começou (para mim)
Na aventura de gravar a série Scream & Yell Vídeos com a ajuda do amigo Tiago Trigo, da produtora Casa Inflamável (façam projetos com ele!), muitas pessoas próximas me cobravam sobre falar de algo que se tornou rotina nas minhas redes sociais: cerveja. E… ok, vocês venceram (risos). Para começar a falar do tema, no Scream & Yell Vídeos de número 80, decidi voltar 10 anos no tempo e relembrar a cerveja que foi o turning point para mim, a marca que me fez olhar para todas as outras cervejas de uma maneira diferente. Havia um contexto especial: era o meu primeiro dia da minha primeira vez na Europa, e eu me apaixonei pela belga Leffe. Abaixo eu conto um pouco dessa história.
maio 16, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 55: Witmark
Bob Dylan com café, dia 55: Lançado em outubro de 2010, “The Bootleg Series Vol. 9: The Witmark Demos: 1962–1964” havia sido antecipado como tema na edição deluxe do álbum “Together Through Life”, de abril de 2009, que trazia uma longa entrevista com Roy Silver, primeiro manager de Dylan (ainda que ele o defina como um picareta enquanto Silver, por sua vez, diga que “Bob era fácil de manipular, porque não dava a mínima e só queria fazer música”), descartada do filme “No Direction Home”. Foi Roy Silver que levou Dylan para a agência M. Witmark & Sons, fundada por imigrantes prussianos em 1885 em Nova York, “oito anos depois de Thomas Edison ter patenteado o fonógrafo, mas vários anos antes que alguém achasse que você poderia fazer negócios com discos”, observa Colin Escott no livreto educativo que acompanha o lançamento. “Em outubro de 1927, Jack e Harry Warner perceberam que suas novas imagens faladas criariam uma demanda insaciável por música, e era melhor possuí-la do que licenciá-la. Harry Warner fez uma oferta para comprar a Witmark & Sons e o negócio foi fechado em janeiro de 1929. Naquele verão, os Warner compraram mais sete editoras para formar uma holding própria”, conta Escott.
No livreto, Colin explica que a publicação de música é o grande segredo da indústria da música: “É onde está o dinheiro”. Ele divide a maneira de arrecadar dinheiro com música (na época) em quatro ramos: “fólios, direitos de composição, direitos de execução e sincronização (filmes)”. Fólios é a publicação em revistas e livros de partituras, que só tinham grande alcance se a canção fosse sucesso, o que também afeta os próximos itens. Já sincronização, apesar de ser um grande negócio, era muito mais raro na época (hoje é apontada por muitos como o futuro da indústria). Sobrava então os direitos de composição e execução, e o negócio era o seguinte: um manager (como Roy Silver) fazia a ponte com uma editora, que oferecia as canções de determinado artista para que o maior número de artistas o gravassem. A taxa nos anos 60 era de US$ 0,02 centavos por música (permaneceu assim até 1977, hoje é de cerca de US$ 0,09 centavos), o que quer dizer que se a canção alcançasse a marca de 1 milhão de cópias vendidas, lucraria US$ 20 mil em royalties mecânicos, geralmente divididos em 50/50 entre o compositor e a editora musical. Ficou fácil de entender o negócio, certo? Dai você pega Bob, que havia lançado um álbum de estreia em 1962 que havia vendido menos de 5 mil cópias. Uma das saídas do empresário Albert Grossman foi oferecê-lo a editoras, já que tanto ele quanto a Columbia Records acreditavam nas canções do jovem rapaz, e Dylan então assinou com a Witmark & Sons: “Ouvi ‘Blowin’ in the Wind’ e disse: ‘Ok, é isso. Quero você. Vou te dar um adiantamento de mil dólares”, relembra Artie Mogull, antes de saber que Dylan havia assinado com a Leeds Music um pouco antes. “Então dei a ele mais mil dólares para ver se conseguia sair do outro contrato. E, acredite ou não, o cara da Leeds Music aceitou. Era julho de 1962, seis meses depois que a Decca Records, na Inglaterra, fez um teste com Beatles e Brian Poole, e decidiu que Poole era a melhor aposta”.
Entre fevereiro de 1962 (quando Dylan fez a primeira sessão com oito canções para a Leeds Music) e junho de 1964, Bob fez 11 sessões mostrando de maneira crua canções como “Blowin’ in the Wind”, “A Hard Rain’s a-Gonna Fall”, “Masters of War”, “Don’t Think Twice, It’s All Right”, “The Times They Are a-Changin'” e “Mr. Tambourine Man”, todas presentes entre as 47 faixas oferecidas por Dylan a outros artistas (15 delas até então inéditas) e resgatadas em “The Bootleg Series Vol. 9: The Witmark Demos: 1962–1964”. Segundo o All Music, “em essência, essas demos são o som de Dylan se tornando Bob Dylan, e é uma evolução fascinante”. Já Rob Sheffield, da Rolling Stone, explica que não importa o quão você tenha decorado as versões definitivas oficiais, essas “demos trazem surpresas, como ‘Boots of Spanish Leather’, em que Dylan nunca soou tão derrotado quanto aqui ao perceber que lutou para convencer aquela garota a ficar, e agora gostaria de deixa-la partir para Barcelona”. Pitchfork (“Um resumo perfeito de como este conjunto revela a profundidade histórica da educação musical de Dylan”) e BBC (“Qualquer ouvinte ficará impressionado”) também caíram de quatro diante deste relançamento, que mostra a evolução de Dylan nos primeiros anos. Sean Egan, da BBC, resume: “São canções com pouco polimento de produção e compromisso emocional zero. Dylan tosse regularmente. Numa faixa, é possível ouvir uma porta fechando. Em outra, ele encerra a canção abruptamente porque, explica ao engenheiro de gravação, está entediado com a música”. E, ainda assim, muitas dessas canções se tornaram clássicos do cancioneiro mundial. A primeira tiragem de “The Bootleg Series Vol. 9: The Witmark Demos: 1962–1964” ainda trouxe, de bônus, “In Concert – Brandeis University 1963”, sete canções de dois sets de Dylan ao vivo em um festival folk numa universidade do Massachusetts. Relíquias.
maio 15, 2018 No Comments
Levi’s promove shows na Casa de Francisca
Todas as fotos de Tracey Panek?
Para comemorar os 145 anos da Levi’s 501®, um dos modelos mais icônicos da história do jeans mudial, a Levi’s® preparou o #Geração501, um projeto que reúne um time de peso do cenário da música independente brasileira. Nos dois primeiros fins de semana de maio (11, 12, 18 e 20/5), a marca arma um grande evento gratuito na Casa de Francisca com uma programação que envolve moda e música, chamando o público para o debate de causas atuais.
Em um dos melhores palcos da cidade, o projeto #Geração50 traz na programação diária as apresentações de duas bandas entre as selecionadas pelo selo Lab Fantasma, na terceira edição do Original’s Studio. Neste ano, o selo paulistano apontou como destaque na nova cena musical os trabalhos de 2DE1, Abstrato+LadoB, Cigana, Danilo Moralles, Danna Lisboa, Desa Pauline, Helen Nzinga e Thiago El Niño.
Entre os pockets da nova geração, o projeto recebe convidados e abre o palco com microfone aberto para debates, que abordarão temas atuais como as diferentes identidades de gênero, orientação sexual e liberdade de expressão (11/5), direitos igualitários (12/5) e consumo sustentável e o uso dos espaços públicos (18/5).
Para finalizar cada noite, apresentações musicais gratuitas de artistas com discursos poderosos como Linn da Quebrada (11/5), As Bahias e a Cozinha Mineira (Trio Bixa) (12/5) e Francisco el Hombre (18/5). E para comemorar a noite dos 145 anos da Levi’s 501® as atrações são Filipe Catto, Rico Dalasam com Danna Lisboa, Felipe Cordeiro, Fióti com Drik Barbosa e Karol Conká (20/5), em meio a Virada Cultural de São Paulo, com os artistas se apresentando para a rua (a expectativa é de que 3 mil pessoas confiram os shows na esquina da r. Quintino Bocaiúva, centro de SP).
“Nós acreditamos na música como um grande catalisador. Ela reúne, agrega, inclui. Fala abertamente de amor, política, diversidade, comunidades, política e comportamento. Só a música consegue unir pessoas de diferentes idades, localidades, condições sociais e ideologias em um mesmo espaço. E por apostar na música como elo de inclusão, criamos esse projeto aberto ao público para debater, ouvir, falar e, claro, comemorar os 145 anos da Levi’s® 501®”, comenta Marina Kadooka, gerente de marketing da Levi’s®
Confira a programação completa:
11/5 – sexta-feira
20:30 Original’s Studio | Thiago Elniño (20min)
21:00 Palco Aberto | (40min)
21:40 Original’s Studio | 2DE1 (20min)
22h15/22h30 Studio 501 | Linn Da Quebrada (50 min)
12/5 – sábado
20:30 Original’s Studio | Desa (20min)
21:00 Palco Aberto | (40min)
21:40 Original’s Studio | Helen Nzinga (20min)
22h15/22h30 Studio 501 | Trio Bixa (As Bahias e a Cozinha Mineira) – (50 min)
18/5 – sexta-feira
20:30 Original’s Studio | Cigana (20min)
21:00 Palco Aberto |
21:40 Original’s Studio | Abstrato + Lado B ( 20min)
22h15/22h30 Studio 501 | Francisco, El Hombre – (50 min)
20/5 – domingo
501 Day
11:00 – 12:00 Dj Luis Franco
12:00 – 13:15 Felipe Cordeiro (75 min)
13:15 – 14:15 Filipe Catto (60 min)
14:15 – 14:30 Dj Luis * Troca de palco, intervalo (15 min)
14:30 – 14:50 Danna Lisboa (20min) * Precisa sair as 16
14:50 – 15:50 Rico Dalassam part.Danna Lisboa (60 min)
15:50 – 16:30 Fióti convida Drik Barbosa (40 min)
16:30 – 17:30 Show Karol Conka (60 min)
17h30 – 18h – Dj Luis Franco
serviço:
Geração 501®
(11, 12, 18 e 20/5)
Entrada gratuita – só chegar chegando! (sujeita à lotação)
Das 19h30 (abertura da casa) às 00h30
501 Day – 20/5 – das 11 às 18 hs
Classificação livre
Capacidade – 170 lugares
Casa de Francisca – r. Quintino Bocaiúva, 22 – Sé
maio 8, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 54: Christmas
Bob Dylan com café, dia 34: você pode esperar tudo de Bob Dylan, e ainda assim ele irá te surpreender. Repetindo uma diabrite (tida como provocação nas duas vezes) que havia feito pela última vez em 1970, quando lançou dois álbuns no mesmo ano, o enormemente achincalhado “Self Portrait” e o familiar (e elogiado) “New Morning”, Dylan colocou nas lojas em 2009 primeiro o bem recebido “Together Through Life” e, seis meses depois, o natalino “Christmas In The Heart”, em que acompanhado quase que pela mesma banda que gravara o disco anterior (David Hidalgo, do Los Lobos, novamente brilha) rememora cânones natalinos num álbum cuja renda deveria ser revertida para instituições de auxilio a sem tetos. A crítica do Guardian (que deu cinco estrelas irônicas) é hilária – “Costumava haver um consenso civilizado entre os jornalistas – talvez ainda haja, em alguns setores das artes – que obras em benefício de caridade estivessem isentas do processo normal de crítica. Desta forma, o crítico claramente não tem o direito de considerar começar sua resenha sobre este disco natalino de Bob Dylan com a célebre exclamação de uma única linha empregada por Greil Marcus sobre ‘Self Portrait’ na Rolling Stone em 1970: ‘Que merda é essa?’” –, mas, ainda assim, há uma beleza estranha nessas 15 canções de natal cantadas pelo vocal cada vez mais rouco de Bob. Houve uma época na música pop que disco natalino era uma febre e garantia de sucesso de vendas. Alguns deles se tornaram clássicos no século passado (como “A Christmas Gift For You From Phil Spector”, de 1963 e “Elvis Presley Christmas Album”, de 1957) e, neste século, muita gente ainda se aventurou no estilo (de Weezer a Aimee Mann, de She & Him a Cee Lo Green até Sufjan Stevens), mas absolutamente ninguém esperava isso de Bob. E o resultaldo é… divertido! “São seus vocais desequilibrados que tornam este disco de natal interessante e, de certa forma, apropriado”, provocou o Pitchfork. “É um aceno claro para as músicas que Dylan ama, um autorretrato muito melhor do que o ridículo lançamento dos anos 70”, comparou a BBC. “Essa é outra maneira de Dylan dizer que suas raízes estão em toda parte”, observou a Rolling Stone. Papai Noel e Bettie Page (e eu) curtiram.
maio 7, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 53: Together
Bob Dylan com café, dia 53: o 33ºálbum de estúdio de Bob nasceu de um acaso. O diretor francês Olivier Dahan pediu a Dylan uma música para seu novo filme, “A Minha Canção de Amor” (com Renée Zellweger e Forest Whitaker e que sairia só em 2010), e Bob decidiu trabalhar com Robert Hunter, letrista do Grateful Dead, com quem tinha composto duas canções em 1988 para o disco “Down In The Groove”. O resultado foi a canção “Life is Hard” (que Renée canta no filme – assista no final do post), mas a dupla se empolgou tanto que compôs mais um punhado de canções, permitindo a Bob pensar neste material como base de um vindouro novo disco. Nascia “Together Through Life”, o primeiro álbum de inéditas de Dylan desde “Desire” (1976) em que ele dividia a autoria da grande maioria das composições com um letrista convidado. Assumindo novamente a produção (com o codinome Jack Frost), Bob utilizou a banda que o acompanhava na Never Ending Tour acrescentando ainda o guitarrista Mike Campbell, dos Heartbreakers de Tom Petty, e David Hidalgo, líder da grande banda californiana Los Lobos, que fez em “Together Through Life” algo semelhante a que Scarlet Rivera havia feito em “Desire”: se lá ela havia conduzido as canções com seu violino, aqui Hidalgo tangencia os arranjos com seu acordeom dando ao álbum uma sonoridade de “blues do Sul dos Estados Unidos com tempero mexicano”, como descreveu David Fricke na Rolling Stone.
Lançado em abril de 2009, “Together Through Life” teve como primeiro single (com direito a clipe além de embalar trailer e um episódio da série “True Blood”), “Beyond Here Lies Nothin’”, que novamente surge inspirada em Ovídio transportando o poeta grego para um bar de beira de estrada tex mex. A busca desencontrada pelo amor é o tema que move as 10 canções, oito delas assinadas por Dylan/Hunter, uma acrescentando Willie Dixon à dupla (Bob sempre foi de não creditar suas “inspirações” de amor e roubo, mas com a família de Dixon é bom não brincar – Led Zeppelin que o diga) devido ao uso de “I Just Want to Make Love To You” no blues “My Wife’s Home Town”. Há bons momentos como “Forgetful Heart”, com banjo e acordeom e uma guitarra distorcida, mas o que dá o tom do disco são bons rocks ora acelerados (como a sarcástica “It’s All Good”), ora mais cadenciados (“Jolene”), ora mais bluesy (“Shake Shake Mama”), que se não alcançam o brilho dos três discos anteriores, também não comprometem. “Together Through Life” repetiu o feito de “Modern Times” (2005) e bateu no topo do ranking da Billboard. Mais: alcançou o número 1 também na Inglaterra, feito que Bob não tinha conseguido desde “New Morning”, de 1970. A edição deluxe do álbum trazia duas curiosidades deliciosas: um CD de um hora com o episódio “Friends & Neighbors” do programa de rádio Theme Time Radio Hor apresentado por Dylan (que seleciona canções de Howlin’ Wolf, Little Walter, Carole King e Rolling Stones, entre outros) mais um DVD com cerca de 15 minutos de um outtake do documentário “No Direction Home”, em que Dylan introduz Roy Silver, primeiro empresário do cantor (ainda que ele o defina como um picareta), que o levou para a agência Witmark, que será tema do próximo Bootleg Series, mas isso é assunto pra outro café.
maio 5, 2018 No Comments
Jornalismo cultural e a contemplação da arte
Respostas para Bruno Borges
– Conte um pouco da sua história com a música.
A música entra na minha vida através da coleção de discos que meu pai tinha nos anos 70, muito da MPB combativa, Vinicius, Chico, Caetano, Gil, Gal, um pouco de Beatles, essas coisas. Com meu primeiro salário, aos 14 anos, comprei seis vinis, coisas do rock nacional que estava nascendo na metade dos anos 80. Dai em diante encontrei na música não só uma válvula de escape e uma companheira, mas também uma maneira de me comunicar com o mundo.
– Você acredita que o jornalismo cultural pode impulsionar novas carreiras na música?
Acho isso cada vez mais difícil, mas ainda possível. Em outras áreas, como na culinária, um bom review, uma boa reportagem, ainda podem transformar a vida de uma pessoa (o Chef’s Table exibe várias dessas histórias). Na música isso acontece apenas de forma mais pontual hoje em dia, mas não é impossível.
– Seria um papel do Jornalismo Musical revelar novos talentos?
De maneira alguma. O Jornalismo Musical têm de dar material para que as pessoas entendam o momento cultural em que elas estão inseridas, para que elas vislumbrem o todo através de um disco, de uma música, de um movimento cultural. Quem tem que revelar novos talentos é a gravadora, o selo, os próprios artistas.
– Na questão ética, qual seria o papel do jornalismo cultural?
Não deixar se levar pela proximidade com seu objeto de estudo talvez seja o maior desafio ético no mundo hoje. Como diria Lester Bangs, “eles vão te usar”. E vão mesmo. Diferente de antigamente, onde o contato era mais distante, hoje em dia o contato com o artista é cada vez mais próximo, devido às redes sociais e a facilidade de comunicação. É preciso utilizar todas as ferramentas de aproximação, mas também manter certo distanciamento.
– A produção em escala industrial de novas músicas e artistas pode ser um ponto negativo para a contemplação da arte? Como você enxerga isso?
Lá se vão quase 60 anos de indústria cultural e a discussão já deveria estar adiantada. Muita gente (mais gabaritada do que eu) já discorreu sobre isso, e até essas discussões já estão datadas porque vivemos numa sociedade de capitalismo de consumo que muda segundo a segundo, e para discutirmos indústria cultural precisamos discutir esse modelo de capitalismo de consumo, precisamos discutir superexposição nas redes sociais, precisamos discutir o silencio na sociedade moderna, precisamos discutir essas mudanças constantes. Por exemplo: como contemplar uma obra de arte no caos que vivemos? como criar uma obra de arte no caos que vivemos? Como milhares de coisas na vida, a escala industrial tem pontos positivos e pontos negativos. Conheceríamos Beatles, U2, Nirvana e Arctic Monkeys se eles não fossem escala mundial? Talvez sim, talvez não. Mas, sinceramente, isso pouco importa. A questão aqui não é a indústria, mas sim a evolução do ser-humano na luta contra algo que ele sempre temeu: ele mesmo. Vivemos alguns milhões de anos lutando para preencher todos os espaços do dia a modo que não nos tornássemos solitários e fugíssemos de nosso âmago. O que Beethoven tem a ver com a indústria cultural? Nada. Porém, ele não seria Beethoven no mundo de hoje, a não ser que fosse um eremita distante do caos social. Como compor, como escrever, como refletir filosoficamente em meio a todo esse turbilhão de informação e contato? Essa é uma das principais questões culturais do mundo moderno. No tempo de Beethoven, Shakespeare e outros gênios, o dia claro era curto, a noite era longa, o silêncio era dominante, a escuridão, todo um conjunto de fatores que levava a reflexão. Agora vivemos a era da hiper-conexão e nunca estamos sozinhos, ainda que estejamos sozinhos. Como se concentrar em “Em Busca do Tempo Perdido” com Messenger, Whatsapp, Twitter, Facebook, Telegram e todas as demais redes mandando alertas de atualização a todo o momento? Desligando os aparelhos? Funciona? E o quanto a nossa mente já está focada nessa sensação eterna de compartilhamento: “Nossa, esse trecho do livro tal é sensacional! Vou compartilhar no Instagram”. Ou seja, a pessoa se desliga do foco (o aprofundamento no objeto de cultura que pode fazê-lo refletir sobre algo que ele não estava pensando) para viver um momento zumbi: o objeto final é o compartilhamento, não a reflexão. Então, a contemplação da arte nada tem a ver com indústria cultural, mas sim com a necessidade que o ser-humano teve de preencher todas as lacunas de seu tempo a modo de não se sentir solitário. E isso irá, cada vez mais, mudar a percepção das pessoas sobre o mundo e sobre a cultura.
– A contemplação do fã Marcelo ajuda ao Marcelo jornalista a escrever suas resenhas?
Funciona como um start, mas pode sofrer radicalmente com o aprofundamento do olhar, porque muitas vezes a beleza artística é rarefeita e tangível ao primeiro contato. Então, de repente, você ouve um disco e se apaixona por ele. Mas na hora que você senta para ouvir todos os detalhes, procurar entende-lo melhor, muitas vezes ele não é aquilo que você achava que era no “amor à primeira ouvida”. Contemplação e crítica divergem muito
– O jornalismo opinativo é sem dúvida dominante no meio cultural, mas existe espaço para o jornalismo informativo? Como esse se desenvolveria? Você não acredita que a imparcialidade deixa o jornalismo cultural sem tempero?
Muita gente confunde jornalismo com colunismo, e são coisas extremamente diversas: uma coluna opinativa é algo em que fulano emite sua opinião enquanto uma reportagem informativa é o olhar (pessoal, inevitável) de alguém sobre determinado objeto de estudo. Se aprofundarmos jornalisticamente um acidente na esquina, conversando com diversas pessoas que possam ter visto o que aconteceu, cada uma delas poderá contar uma versão que incluirá sua personalidade (tipo um homem ser machista e no acidente ter uma mulher envolvida, e mesmo ela não estando hipoteticamente errada, o cara jogar a culpa nela porque, no mundo errado dele, “mulher não dirige bem”). A função do jornalista informativo é tentar se aproximar o máximo da verdade, ou do que ele acredita ser a verdade. Transpondo isso para o meio cultural, crítica é uma coisa: é fulano com todo seu histórico analisando uma obra (um show, um disco, um filme), e um cara que gosta de Iron Maiden irá fazer uma critica do show de Ivete Sangalo diferente de um cara que gosta de Gal Costa. Ponto. Reportagem já é outra coisa, mas muita gente ainda confunde e coloca opinião onde deveria existir investigação. Não existe imparcialidade porque cada pessoa é uma construção histórica, e essa construção irá ditar o modo como se constrói a pauta, como se acessa a fonte, como se observa as nuances do dialogo jornalístico. E tudo isso é tempero. Talvez a gente cobre muito do jornalismo quando deveria cobrar maior percepção das pessoas na forma de entender que o meio influencia decididamente o que ela está lendo, e entender esse meio a ajudaria a entender a noticia, a crítica, a reportagem como um todo. Porém, o que estamos vendo, com a proliferação de fake news, é o contrário. Uma pena.
maio 4, 2018 No Comments
Cenas de SP: 11/04 – 03/05
maio 3, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 52: Tell Tale Signs
Bob Dylan com café, dia 52: Indo de vento em popa, as imperdíveis “Bootleg Series” de Bob chegaram ao seu 8º volume em outubro de 2008, quando a Columbia despejou nas lojas duas versões: um volume duplo, tradicional (com 27 faixas), e uma versão tripla com direito a CD extra (totalizando 39 canções) e um livreto lindo com as capas de todos os singles de Dylan lançados pelos quatro cantos do mundo. Desta vez, a série cobria o espaço do renascimento de Dylan no final dos anos 80 (com “Oh Mercy”, de 1989) estendendo-se até “Modern Times”, em 2006. Se a grande maioria do público, principalmente aqueles do esquecimento cultural a qual Bob relatava no livro “Crônicas”, ainda tinha Bob como um trovador folk da primeira metade dos anos 60, essa maravilhosa seleção de sobras luxuosas que levou o nome de “Tell Tale Signs – Rare and Unreleased – 1989/2006” coloca todos os pingos nos is cobrindo uma fase de 17 anos em que Dylan lançou dois discos de covers rurais e cinco discos de inéditas – ao menos três deles entre os melhores discos de toda a sua carreira: “Oh Mercy”, “Time Out of Mind” (1997) e “Modern Times” respondem pelo grosso do material (22 canções são sobras destes três discos) mostrando outras facetas de canções que acabaram nos álbuns em versões oficiais.
“Mississipi”, por exemplo, surge em três versões diferentes das sessões de Bob com Daniel Lanois para o álbum “Time Out of Mind”. Bob não ficou satisfeito com nenhuma das versões, e a regravou a sua maneira no álbum “Love and Theft” (2001), mas muitos dos fãs (eu incluso) acham que a versão guia, com Bob na voz e guitarra acompanhado de Lanois também na guitarra coloca no bolso a versão de “Love and Theft” (na verdade, as três versões deixam a oficial no chinelo – compare as versões nesta playlist que fiz no Spotify incluindo a de Sheryl Crow, que a gravou antes mesmo de Bob). O mesmo acontece com “Born in Time”, numa versão linda, que faz a oficial do álbum “Under The Red Sky” (1990) soar menor. Há versões alternativas elegantes de canções que Bob fez para trilhas de filmes no período (“Tell Ol’ Bill” para “Terra Fria”, 2005; “Huck’s Tune” para “Bem-vindo ao Jogo”, 2006; e “Cross the Green Mountain” – em versão longa – para “Deuses e Generais”, 2003), números ao vivo (“Tryin’ To Get To Heaven” no Wembley Arena, 2000; uma sensacional “High Water (For Charley Patton)” no Canadá, 2003; “Cocaine Blues” em Viena, 2003; “The Girl on the Greenbriar Shore” voz e violão em Dunkirk, 1992; e “Cold Irons Bound” no Festival Bonaroo 2004, entre outras) além de canções completamente inéditas como “Duncan And Brady”, “Red River Shore” e “Marchin’ To The City”, entre outras, que tiveram aqui enfim seu registro oficial. Saca um disco nota 10? É esse aqui (e ele é triplo!). Divirta-se.
maio 3, 2018 No Comments
Assista ao Scream & Yell Vídeos nº 79
2018 já tem grandes lançamentos em discos, livros e CDs. Nesta edição do Scream & Yell Vídeos, a de número 79, juntamos três lançamentos que merecem bastante destaque: o cantautor Gustavo Kaly apresenta a coletânea “Primavera Punk e Outras Estações de Falso Jazz”, um lançamento Morcego Records que compila trabalhos de Kaly com a Stuart, os Últimos Românticos da Rua Augusta e os Hospedes do Chelsea. Bacana demais. Já o DVD triplo “Uma Viajante Alma Paulistana” compila sete temporadas de causos contados e rememorados por Guilherme Arantes (que mostra clipes de época e mais de 90 versões inéditas). Já a cantora e compositora Badi Assad emociona em “Volta ao Mundo em 80 Artistas”, um livro em que ela escreve, de maneira pessoal e apaixonada, sobre 80 artistas de todo o mundo. Mais informações no vídeo abaixo! Confira!
maio 3, 2018 No Comments