Dylan com café, dia 46: Reggae Tribute
Bob Dylan com café, dia 46: Num episódio famoso da cultura pop, em 1979, Serge Gainsbourg baixou em Kingston para gravar um disco de inéditas reggae com os ainda desconhecidos Sly Dunbar (bateria) e Robbie Shakespeare (baixo). O resultado foi “Aux Armes Et Cætera” (1979), um dos maiores sucessos da carreira de Gainsbourg, disco de platina triplo na França ancorado numa versão rastafári de “A Marselhesa” que fez com que a extrema direita francesa o ameaçasse de morte. O sucesso foi tanto que Serge levou Sly & Robbie para a turnê na França, e os colocou no mercado. Serge gravaria outro álbum com a dupla (“Mauvaises Nouvelles des Étoiles”, 1981), mas quem cruzaria Sly & Robbie em 1983 seria Dylan, que contrataria a cozinha jamaicana para o belo álbum “Infidels”, que ainda teria Mark Knopfler e Mick Taylor. Os Wailers já haviam gravado “Like a Rolling Stone” em 1966, mas a ilha jamaicana ainda não tinha mergulhado profundamente na música de Dylan até que o produtor Doctor Dread, fundador da RAS Records, montou uma super banda base (com Sly na bateria, mas sem Robbie no baixo, substituído por Glen Brownie, que acompanhou de Jimmy Cliff a Ziggy Marley, mais Dwight Pinkney na guitarra, entre outros) e convidou um time de estrelas para recriar o repertório de Bob.
Lançado em 2004, “Is It Rolling Bob? A Reggae Tribute To Bob Dylan” traz a capa de “Bringing Back All Home” numa divertida versão Jamaica, com Bob bolando um baseado, uma dreadlocker ao fundo, capa de discos de reggae no chão, um foto de Bob Marley sobre a lareira e até uma cerveja Red Stripe. Gravando em Kingston no padrão Jamaica (um CD reggae, o outro dub), o primeiro disco traz 13 versões e um excelente remix de “I and I” (uma das grandes faixas de “Infidels”) enquanto o segundo toasteia oito versões (“I and I” inclusa). Destacam-se Toots Hibbert (líder da mítica Toots & the Maytals) numa versão poderosa que transforma “Maggie’s Farm” em um grito de guerra escravo; Gregory Isaacs brilha numa pungente “Mr. Tambourine Man”; Nasio Fontaine surge acompanhado por Drummie Zeb & The Razor Posse na religiosa e ótima “Gotta Serve Somedbody” enquanto Sizzla banca o MC agitando “Subterranean Homesick Blues” e Michael Rose (do Black Uhuru) em “The Lonesome Death of Hattie Carroll” (“Uma canção particularmente forte para a história de escravidão na Jamaica, esmagada entre pobreza e violência”, observou a resenha do Guardian) num disco curioso, divertido, reflexivo e descompromissado, como um bom baseado.
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