Posts from — abril 2018
Dylan com café, dia 51: Live 1961-2000
Bob Dylan com café, dia 51: Não é fácil ser fã de Dylan. Sua discografia errática é composta por álbuns de estúdio de fácil alcance (ok, alguns nem tão fáceis assim), uma ampla série de bootlegs oficiais com edições deluxe raras (a do Vol. 12, por exemplo, conta com 18 CDs numa luxuosa edição limitada cujo preço flutua entre R$ 4 mil e R$ 9 mil!), uma interminável quantidade de álbuns piratas além de coletâneas oficiais que sempre oferecem uma nova mixagem permitindo maneiras diferentes de se olhar para uma mesma canção. Dentre estes itens raros vale destacar “Live 1961–2000: Thirty-Nine Years of Great Concert Performances”, uma coletânea oficial lançada pela Sony Music apenas no Japão em 2001 que compila 16 canções de Dylan em versões ao vivo durante quatro décadas. Dentre os registros, quatro são conhecidos: “I Don’t Believe You (She Acts Like We Never Have Met)”, ao vivo na Inglaterra, 1966, saiu no volume 4 das Bootlegs Series; “Knockin’ on Heaven’s Door” (1974) é a versão do álbum “Before The Flood”; enquanto “Shelter from the Storm” (1976) foi resgatada do álbum “Hard Rain” e a bela versão de “Slow Train” (1987) saiu do álbum de Dylan com o Grateful Dead.
Entre as raridades bacanas estão “To Ramona” (1965), outtake do filme “Don’t Look Back”; “It Ain’t Me, Babe” (1975) retirada da trilha sonora do filme “Renaldo & Clara”; uma versão de “Dignity” (1994) que ficou de fora das primeiras versões em CD do “Unplugged MTv”, e um cover de “Grand Coulee Dam”, que Dylan gravou com a The Band e saiu em “A Tribute to Woody Guthrie, Part 1”. Há, ainda, uma versão de “Born in Time” (1998), b-side do single “Love Sick”. Completam o álbum versões inéditas gravadas em Portsmouth, Inglaterra, 2000 (“Somebody Touched Me”, “Country Pie” e “Things Have Changed”), um take de “Cold Irons Bound” ao vivo em Los Angeles, 1997, e dois takes de início de carreira: o standart “Wade in The Water” foi retirado do cassete “Minnesota Hotel Tape 1961” (enormemente pirateado) enquanto “Handsome Molly” é um registro de uma apresentação no Gaslight, 1962, que foi lançado oficialmente em 2005 numa parceria com o Starbucks. Uma das coisas bacanas deste álbum é permitir ao ouvinte passear pelas diversas fases de Dylan acompanhando a mudanças de voz, de sonoridade e temática. Um item caprichado!
abril 27, 2018 No Comments
Afghan Whigs no Scream & Yell Vídeos
Os Afghan Whigs são os meus Beatles, uma banda que reina soberana aqui em casa. No vídeo abaixo conto um pouco sobre os shows deles que vi e sobre as reedições bacanudas com faixas bônus que eles estão colocando no mercado. Assista.
abril 27, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 50: I’m Not There
Bob Dylan com café, dia 50: A chegada aos 60 anos, em 2001, abriu o coração de Bob para o mundo. Até então pouco se sabia da vida do mais importante intérprete e compositor da língua inglesa no século 20. Fofocas de amigos, boatos de bastidores, depoimentos em entrevistas, aparições na TV, tudo servia para moldar um Bob Dylan que poderia até estar longe da realidade, mas era o máximo que fãs, jornalistas e pessoas comuns conseguiam obter para tentar entender uma das personas mais geniais e controversas de nosso tempo. O verdadeiro Bob Dylan se escondia em algum recanto da alma de Robert Allen Zimmerman, um garoto nascido em Minnesota, neto de imigrantes judeus-russos. Em questão de cinco anos, Dylan abriu seu baú de memórias e começou a mostrar fotografias de seu passado para o grande público. Foi assim com o lançamento do livro “Down the Highway: The Life of Bob Dylan”, excelente biografia assinada por Howard Sounes, que chegou ao mercado em 2001 (no Brasil recebeu o nome de “Dylan: A Biografia”, ganhando edição pela Conrad). Na sequência, em 2004, vieram o volume 1 de “Crônicas” (uma quase biografia escrita pelo próprio Dylan que relembra o passado em textos curtos – edição nacional da Planeta) e o imperdível documentário para a TV “No Direction Home”, de Martin Scorsese (já disponível em DVD). As Bootleg Series pegaram embalo e os discos de inéditas colocaram Dylan nas paradas (até o filme “A Máscara do Anonimato”, de 2003, entra no pacote).
Em 2007 foi a vez de o diretor Todd Haynes contribuir com o mito: “I’m Not There” funciona como uma inteligente cinebiografia e é o mais próximo que o público já chegou de Bob Dylan em todos estes anos. O subtítulo do filme diz tudo: “Inspirado nas várias vidas de Bob Dylan”. Para isso, o diretor dividiu a persona do Dylan em seis personagens, e todos eles transitam à vontade. Seja o Dylan trovador folk dos primeiros anos interpretado por Christian Bale (que também interpreta o Dylan cristão); seja o Dylan revolucionário que mudou o mundo em 1965 interpretado por Cate Blanchett (que atuação, que mulher!); seja o Dylan menino interpretado por Marcus Carl Franklin; seja o Dylan do casamento em farrapos do álbum “Blood on The Tracks” interpretado por Heath Ledger; seja o Dylan apaixonado por Rimbauld interpretado por Ben Whishaw; seja o Dylan Billy The Kid interpretado por Richard Gere. E tem gente que dizia que Camaleão era David Bowie. Junto ao filme surgiu uma trilha sonora indie e épica com 33 versões de canções de Dylan por uma turma fodaça: Eddie Vedder canta “All Along The Watchtower” acompanhado de uma banda base que conta com Medeski no órgão Hammond, o baixista da Never Ending Tour Tony Garnier, o baterista Steve Shelley (Sonic Youth) e os guitarristas Tom Verlaine (Television), Lee Ranaldo (Sonic Youth), Nels Cline (Wilco) e Smokey Hormel (Beck, Adele, Norah Jones) – essa banda ainda irá tocar com Karen O (Yeah Yeah Yeahs) numa versão de “Highway 61 Revisited”, Tom Verlaine em “Cold Irons Bound” e Stephen Malkmus em “Ballad of a Thin Man” e “Maggie’s Farm”.
O Sonic Youth cadencia a faixa título (que ainda surgirá numa versão inédita bônus com Bob Dylan & The Band), o Yo La Tengo soa Velvet & Nico numa versão suave de “Fouth Time Around” enquanto Mark Lanegan coloca seu vozeirão com aromas de Bourbon a serviço de “Man in the Long Black Coat”. Jeff Tweedy causa arrepios numa versão linda de “Simple Twist of Fate” (a montagem abaixo com cenas de “Paris Texas” deixa tudo ainda mais dolorido). Num dos grandes momentos do filme, Charlotte Gainsbourg entrega toda delicadeza de “Just Like Woman” acompanhada pelo grande Calexico, que também faz a cama para Jim James (My Morning Jackett) levar o ouvinte pra roça numa versão comovente de “Goin’ To Acapulco”, para o Iron & Wine em “Dark Eyes” e para Willie Nelson em “Señor (Tales of Yankee Power)”. Há ainda Black Keys (“The Wicked Messenger”), Hold Steady (“Can You Please Crawl out Your Window?”) e uma sensacional Cat Power com uma sensacional versão de “Stuck Inside of Mobile With the Memphis Blues Again” além de Antony & The Johnsons carregando “Knockin’ On Heaven’s Door” de tudo que ela precisa: baldes de tristeza. De todos os tributos que Bob Dylan recebeu até hoje esse é, disparado, o melhor. Veja o filme, ouça o disco.
abril 26, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 49: Modern Times
Bob Dylan com café, dia 49: Cinco após “Love and Theft” (2001), seu último disco de canções inéditas chegar ás lojas, Bob estava novamente em estúdio. Desde “Time Out of Mind” (1997) que Dylan via sua fama atual crescer entre um público mais jovem e ainda que achasse que estava “no inferno do esquecimento cultural”, as paradas o desmentiam: “Time Out of Mind” bateu na 10ª posição dos discos mais vendidos da Billboard enquanto “Love and Theft” chegou no número 5. O documentário “No Direction Home”, de Martin Scorsese, havia jogado mais lenha na fogueira preparando o território para o segundo turning point de Dylan no novo século, apropriadamente chamado de “Modern Times” (2006). Da banda que o acompanhava em “Love and Theft” e na Never Ending Tour restava apenas o baixista Tony Garnier, mas o sucesso daquele disco, com produção assinada pelo próprio Bob (sob o codinome de Jack Frost), fez com que ele novamente assumisse a responsabilidade. Lançado em agosto de 2006, “Modern Times” levava a um novo patamar a discussão de “amor e roubo” do disco anterior roubando (por amor) velhos blues, rocks e countrys de eras passadas e os recriando com novos versos e adaptações melódicas.
Do alto de seus 65 anos, Bob lançava um disco que não era para a molecada dançar na balada urrando as letras (para isso existia um – ótimo – single do Killers) muito menos para ser ouvido enquanto se passa manteiga no pão no café da manhã. Dylan precisa de mais atenção. “Modern Times” é um disco de temática quase antagônica, falando sobre sexo e morte. E também sobre amor. E também sobre um mundo que está se desintegrando na frente dos nossos olhos. Será tudo a mesma coisa? É um disco para se ouvir em um bar acompanhado de luzes que se misturam com a fumaça de cigarro num balé melancólico. Seu autor ousa relembrar que mesmo tendo vivido mais de seis décadas de vida, o mundo continua um lugar imperfeito, solitário e vazio. Mas o próprio, em entrevista ao jornal USA Today, atestava que não há nada de nostálgico no álbum. Ele estava falando do agora, do tempo sombrio que estávamos, todos, vivendo (ainda estamos!). Uma de suas inspirações foi o poeta romano Públio Ovídio Naso, nascido 43 anos antes de Cristo (os livros “A Arte do Amor”, “Black Sea Letters”, “Tristia – Vol 2” e “Tristia – Vol 4” emprestam versos para o álbum).
“Thunder On The Mountain” abre o disco no formato rock clássico, com direito a guitarra solando e um interlocutor que gostaria de saber onde encontrar Alicia Keys. A mesma levada pode ser ouvida na suave “Someday Baby” (uma canção inspirada em Muddy Waters que rendeu a Dylan mais um Grammy) e na soturna “The Levee’s Gonna Break” (também roubada pelo Led Zeppelin no álbum “IV”), com Dylan cantando de forma direta nesta última: “Se continuar chovendo, o dique vai quebrar” (uma ponte com “A Hard Rain’s A-Gonna Fall”). O bluezaço “Rollin’ and Thumblin” (com jeitão Robert Johnson de ser e também gravada por Eric Clapton em seu famoso discos “Unplugged MTv”) acelera em direção ao rockabilly. De sotaque jazz, “Spirit on the Water” fala de pesadelos. “Eu estou suando sangue”, diz a letra. “When the Deal Goes Down”, cujo clipe traz a musa Scarlett Johansson, é uma balada folk que não revela em sua levada a temática pesada da letra que procura um sentido em estar vivo, e diz a certa altura: “Nós vivemos e nós morremos, e não sabemos porquê”. O clima se acalma na suavidade de “Beyond the Horizon”, que imagina: “Além do horizonte é fácil amar”. Lembra o Rei Roberto em sua fase pós-Jovem Guarda dizendo que “Além do horizonte existe um lugar bonito e tranqüilo pra gente se amar”.
O clima volta a pesar na arrastada “Nettie Moore” e fica ainda mais sombrio em “Ain’t Talkin’”, faixa que encerra o disco com Dylan contando “que não há nenhum altar nessa estrada longa e solitária”. Dentre todas estas, a que merece maior atenção é “Working Man’s Blues #2”, canção que atualiza para os tempos modernos um velho country de Merle Haggard. Enquanto o original versava sobre como o trabalho comprara o espaço da diversão (na letra, após uma semana de batente e muito cansaço, o cara planeja sair para beber uma cerveja quando o pagamento chegar), “Working Man’s Blues #2” avança criticando não só esse capitalismo que vendeu um sonho e acabou, no fim, comprando a alma de todos, mas também suas conseqüências, entre elas a mais visível: a divisão do povo em ricos e pobres. “Working Man’s Blues #2” consegue ser ainda, do alto de seus seis minutos, uma belíssima canção de amor. O resultado: “Modern Times” foi (30 anos depois!) o quarto disco de Bob Dylan a bater no número 1 da Billboard (os outros: “Planet Waves”, de 1974; “Blood on The Tracks”, de 1975; e “Desire”, de 1976) rendendo a ele o raro título de artista mais velho a emplacar um álbum no topo das paradas norte-americanas. “Modern Times” também apareceu no topo de diversas listas de Melhores do Ano (a do Scream & Yell, inclusive – deixando Raconteurs, TV On The Radio, Cat Power e Sonic Youth para trás) e foi a base do show que Bob fez no Brasil em 2008. Bob Dylan nunca havia deixado o cenário da música pop, mas, para muitos, essa foi uma volta aos holofotes. E que volta.
abril 25, 2018 1 Comment
Caravan lança série limitada NE IPA
Em fevereiro, o cervejeiro Jaimes Neto conversou com o Scream & Yell sobre a repaginada na Cervejaria Caravan, que chegava com quatro rótulos (conheça eles aqui) e nova arte além de preparava um linha especial ligada à música, que foi apresentada em abril à imprensa no Empório Alto dos Pinheiros, em São Paulo. Como se fosse um selo musical, a Caravan anunciou a Caravan Records, que lançará álbuns em forma de cerveja seguido de um “single” com lado A e lado B.
O primeiro estilo trabalhado pelo selo Caravan Records é o New England IPA batizado de HYPE. São três novíssimos rótulos para abrir o lançamento da Caravan Records: Nude Hype (NE IPA), que entra na linha anual da cervejaria e suas duas variações em parceria com o Franck’s Ultra Coffee, de Curitiba: a Coffee Hype – Side A (com café envelhecido em barril de Bourbon) e a Latte Hype – Side B (com lactose e café envelhecido em barril de Bourbon).
A Caravan Records Nude Hype é uma New England IPA clássica com os lúpulos Citra, Mosaic, Loral e Ekuanot mais cevada, aveia em flocos, trigo e espelta além de um blend das leveduras London III e Vermont e duplo dry-hopping. Essa receita (ótima) é a base também para as duas cervejas que vem na sequencia. Essa base é deliciosamente cítrica, tropical, e com alto drinkability para os seus 7.5% de álcool. No EAP está custando R$ 29 (lata 355 ml).
Tendo como base a Caravan Records Nude Hype, a Caravan Coffee Hype NE IPA é o lado A, uma versão limitada com café da Francks Ultra Coffee, de Curitiba. São apenas 1000 litros (a cervejaria guardou alguns barris para o Mondial de La Biere São Paulo, que irá acontecer de 17 a 20 de maio de 2018) e está incrível: café suave no começo, diluído de maneira deliciosa no perfil NE na sequencia. O café ainda traz um amadeirado no retrogosto. Fiquei fã. A lata de 355 ml está R$ 30.
O lado B do single: se a Coffee Hype utiliza a base da Nude, a terceira, Latte Hype NE IPA, utiliza como base as duas anteriores com acréscimo de… lactose. Café com leite NE, saca? 🙂 A ideia nessa serie é experimentar: desse trio limitado (apenas a Nude permanecerá no catálogo) foram brassados 3 mil litros: mil litros rendem a Nude; dai eles acrescentam café, tiram mil litros e sai a Coffee. Aos mil litros (NE com café) que sobram e eles adicionam… lactose. Minha favorita das três. Essa está R$ 31 a lata de 355 ml (e também terá barril no Mondial).
abril 24, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 48: Uncut 2
Bob Dylan com café, dia 48: No embalo do então recém-lançado documentário de Martin Scorsese, “No Direction Home”, que saiu em agosto de 2005, a badalada revista inglesa Uncut produziu em setembro um daqueles listões de melhores que só eles têm a manha de realizar com tamanho esmero e qualidade – não só pela lista, mas principalmente pelos convidados que participam dela: 100 Rock and Movie Icons on The Music and Films That Changed Our World reúne em 50 páginas da revista um time invejável de “colaboradores”. O método foi simples: a revista interrogou 100 artistas sobre obras revolucionárias da cultura pop, e colocou certa ordem nas escolhas de seu “júri”.
O especial começa com o número 100 sendo aberto por Chris Martin explicando sua escolha com um “Bem, eu vou ser meio nerd aqui” para citar uma palestra de Brian Eno e chegar a seu disco favorito: “The Soft Bulletin” (1999), do Flaming Lips (e você achou que não tinha nada em comum com o cara do Coldplay, hein), que ele diz ser uma obra como “Dark Side of The Moon”, do Pink Floyd, mas sendo “Light Side of The Moon”, porque carrega… humor. A lista segue com o ator Robert Downey Jr. escolhendo o álbum “Imperial Bedroom” (1982) de Elvis Costello & The Attractions na posição 96, Ian McCulloch (Echo and The Bunnymen elegendo a série “Sopranos” no número 88, Frank Black (Pixies) indo de “Clube da Luta” no número 86, Trent Reznor contando da emoção de ouvir uma canção sua, “Hurt”, na voz de Johnny Cash no número 85, Stephen Malkmus posando com sua cópia de “Daydream Nation”, do Sonic Youth no número 77, Dave Grohl babando ovo em “Physical Graffiti”, do Led Zeppelin, e por ai vai. A lista completa (e quem escreveu sobre) você confere aqui.
O Top 3 traz Ozzy Osbourne contando como “She’s Love You”, dos Beatles, mudou a sua vida! No número 2, Paul McCartney declara seu amor por Elvis Presley dizendo que “Heartbreak Hotel” é sua melhor gravação. No número… Bob Dylan. E Patti Smith relembra (num texto de página inteira) como foi ouvir pela primeira vez, aos 19 anos, o single “Like a Rolling Stone” na jukebox de um café em 1965 (o texto, na integra, pode ser baixado via Mediafire aqui). Para acompanhar o especial, a revista reuniu um time de luxo para recriar o álbum “Highway 61 Revisited” (que traz “Like a Rolling Stone”), e ainda que o resultado nunca vá arranhar o status de obra genial atemporal do disco original, há boas surpresas com o Drive-By Truckers desacelerando “Like a Rolling Stone”, Paul Westerberg fazendo de “It Takes A Lot To Laugh, It Takes A Train To Cry” um bluezão, Willard Grant Conspiracy esvaziando a sonoridade de “Ballad of Thin Man” e valorizando a letra, o American Music Club brilhando em “Queen Jane Approximately” e os Handsome Family levando “Just Like Tom Thumb’s Blues” para a roça num projeto de especial de revista e CD altamente recomendável (você acha facilmente no Ebay!)
abril 20, 2018 No Comments
Top 100 Momentos Icônicos da Cultura Pop
Em 2005, a bacanuda revista inglesa Uncut saiu perguntando prum time invejável de “colaboradores” quais foram os momentos mais marcantes da cultura pop, aquele fragmento de segundo em que um objeto de cultura (um livro, um disco, um filme, um single, um programa de TV, etc…) mudou a sua vida, em particular, e revolucionou a cultura pop em geral. No “júri” seletíssimo da revista estão nomes como Patti Smith, Paul McCartney, Keith Richards, Ozzy Osbourne, Lemmy, Stephen Malkmus, Björk, Michael Stipe, Noel Gallagher e muitos, muitos outros. Abaixo você confere a lista Top 100 que foi publicada em um especial de 50 páginas na revista em setembro de 2005, e quem escreveu sobre aquela obra.
1. “Like a Rolling Stone” (1965), de Bob Dylan, por Patti Smith
2. “Heartbreak Hotel” (1956), de Elvis Presley, por Paul McCartney
3. “She Loves You” (1963), dos Beatles, por Ozzy Osbourne
4. “(I Can’t Get No) Satisfaction” (1965), dos Rolling Stones, por Roger Daltrey
5. “Laranja Mecânica” (1971), de Stanley Kubrick, por Malcolm McLaren
6. “O Poderoso Chefão I e II” (1972/1974), de Francis Coppola, por Steve Van Zandt
7. “Rise & Fall of Ziggy Stardust & the Spiders from Mars” (1972), de David Bowie, por Robert Smith
8. “Taxi Driver” (1976), de Martin Scorsese, por Edwart Norton
9. “Never Mind the Bollocks, Here’s the…” (1977), dos Sex Pistols, pelos Buzzcooks
10. “Prisoner” [TV serie] (1967/1968), por Donovan
11. “Meu Ódio Será Tua Herança” (1969), de Sam Peckinpah, por Michael Madsen
12. “Velvet Underground and Nico” (1967), por Michael Stipe
13. “Purple Haze” (1967”, de Jimi Hendrix, por Lemmy
14. “Simpsons [TV series]”, por Matt Stone
15. “After the Gold Rush” (1970), de Neil Young, por Jim Jarmusch
16. “Ramones” (1976), dos Ramones, pelo Sonic Youth
17. “Pet Sounds” (1966), dos Beach Boys, por Jimmy Webb
18. “My Generation” (1965), do The Who, por Bob Mould
19. “On the Road” (1957), de Jack Kerouac, por Roddy Frame
20. “Unknown Pleasures” (1979), do Joy Division, por Paul Morley
21. “Waterloo Sunset” (1967), do Kinks, por Peter Buck
22. “Raw Power” (1973), de Iggy & the Stooges, por Josh Homme
23. “Trans Europe Express” (1977), do Kraftwerk, por Richard Kirk
24. “Clash” (1977), do Clash, por Bo Diddley
25. “This Charming Man” (1983), dos Smiths, por Noel Gallagher
26. “Easy Rider” (1969), de Dennis Hopper, pelo New Order
27. “Johnny B Goode” (1957), de Chuck Berry, por Keith Richards
28. “Almoço Nu” (1959), de William Burroughs, por Lou Reed
29. “Spiral Scratch” (1977), dos Buzzcocks, por Alex Kapranos
30. “Music from Big Pink” (1968), da The Band, por Richard Thompson
31. “Eight Miles High” (1966), do The Byrds, por Johnny Marr
32. “Tutti Frutti” (1955), de Little Richard, por Al Green
33. “Blue Monday” (1983), do New Order, por Bernard Butler
34. “Um Estranho no Ninho” (1976), de Miles Forman, por Jesse Malin
35. “Grievous Angel” (1974), de Gram Parsons, por Bobby Gillespie
36. “Born to Run” (1975), de Bruce Springsteen, por Badly Draw Boy
37. “Scarface” (1983), de Brian de Palma, por Don Letts
38. “Five Leaves Left” (1969), de Nick Drake, por John Martyn
39. “Medo e Delírio em Las Vegas” (1971), de Hunter S. Thompson, por Ralph Steadman
40. “Monty Python’s Flying Circus [TV serie]” (1969/1974), por Lee Hazlewood
41. “Roxy Music” (1972), do Roxy Music, por Marc Almond
42. “New York Dolls” (1973), do New York Dolls, por Billy Idol
43. “Brass Eye” [TV series] (1997/2001), por Brian Eno
44. “Astral Weeks” (1968), de Van Morrison, por Kevin Rwoland
45. “Forever Changes” (1967), do Love, por Robert Plant
46. “Manhattan” (1979), de Woody Allen, por Gene Wilder
47. “Horses” (1975), de Patti Smith, por John Cale
48. “What’s Going On” (1971), de Marvin Gaye, por Paul Weller
49. “Ghost Town” (1981), dos Specials, por Damon Albarn
50. “#1 Record” (1972), do Big Star, por Mike Mills
51. “Marquee Moon” (1977), do Television, por Paul Haig
52. “Blue” (1971), de Joni Mitchell, por Crosby & Nash
53. “Curb Your Enthusiasm [TV series]”, por Doves
54. “Surfer Rosa” (1988), do Pixies, por J. Mascis
55. “Takes a Nation of Millions to Hold Us Back” (1988), do Public Enemy, por Beck
56. “Innervisions” (1973), de Stevie Wonder, por Josh Rouse
57. “Trout Mask Replica” (1969), do Captain Beefheart & His Magic Band, por Davey Henderson
58. “Physical Graffiti” (1975), do Led Zeppelin, por Dave Grohl
59. “Juventude Transviada” (1955), de Nicolas Ray, por Andrew Loog Oldham
60. “Bo Diddley” (1955), de Bo Diddley, por Mark E. Smith
61. “I Say a Little Prayer” (1968), de Aretha Franklin, por Rufus Wainwright
62. “Be My Baby” (1963), das Ronnetes, por Brian Wilson
63. “Catch a Fire” (1973), de Bob Marley the Wailers, por Suggs
64. “Rastros de Ódio” (1956), de John Ford, por Chris Hillman
65. “Electric Warrior” (1971), do T.Rex, por Luke Haines
66. “Nevermind” (1991), do Nirvana, por Gus Van Sant
67. “Shot by Both Sides” (1978), do Magazine, por Jarvis Cocker
68. “I Feel Love” (1977), de Donna Summer, por Sparks
69. “Piper at the Gates of Dawn” (1967), do Pink Floyd, por Carl Barat
70. “Tracks of My Tears”(1969), de Smokey Robinson & the Miracles, por Colin Blundstone
71. “Whole Lotta Shakin’ Goin’ On” (1971) de Jerry Lee Lewis, por Moby
72. “Doors” (1967), do Doors, por Grace Slick
73. “Live at the Apollo” (1963), de James Brown, por Hall & Oates
74. “Psicose” (1960), de Alfred Hitchcock, por Alice Cooper
75. “Reach Out (I’ll Be There)” (1966), dos Four Tops, por Wayne Kramer
76. “Metal Box” (1979), do Public Image Ltd, por Wayne Coyne
77. “Daydream Nation”, do Sonic Youth, por Stephen Malkmus
78. “A Change is Gonna Come” (1964), de Sam Cooke, por Kurt Wagner
79. “Relax” (1983), do Frankie Goes to Hollywood”, por Kevin Godley
80. “Midnight Cowboy” (1969), de John Schlesinger, por Norman Blake
81. “Off the Wall” (1979), de Michael Jackson, por Adam Ant
82. “Falling & Laughing” (1980), do Orange Juice, por Stuart Murdoch
83. “Good, the Bad & the Ugly” (1966), de Sergio Leone, por Robert Rodriguez
84. “Kick Out the Jams” (1969), do MC5, por Juliette Lewis
85. “Hurt” (2003), de Johnny Cash, por Trent Reznor
86. “Clube da Luta” (1999), de David Fincher, por Frank Black
87. “Murmur” (1983), do R.E.M., por Guy Garvey
88. “Sopranos” [TV series], por Ian McCulloch
89. “Catch 22” (1961), de Joseph Heller, por Noddy Holder
90. “Bullitt” (1968), de Peter Yates, por Todd Rundgren
91. “Stone Roses” (1989), dos Stone Roses, por Saint Etienne
92. “Fear of Music” (1979), dos Talking Heads, por Steve Harley
93. “There’s a Riot Goin’ On”, de Sly & the Family Stone, por Tim Burgess
94. “Good Times” (1979), do Chic, por Martin Fry
95. “Rumours” (1977), do Fleetwood Mac, por Magic Numbers
96. “Imperial Bedroom” (1982), de Elvis Costello & the Attractions, por Robert Downey Jr.
97. “Screamadelica” (1991), do Primal Scream, por Serge Pizzorno
98. “Sulk” (1982), do Associates, por Bjork
99. “Operação Dragão” (1973), de Robert Chouse, por Jean Jacques Burnel
100. “Soft Bulletin” (1999), dos Flaming Lips, por Chirs Martin
abril 20, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 47: No Direction Home
Bob Dylan com café, dia 47: Em um dos capítulos do livro “Crônicas – Vol. 1”, publicado em outubro de 2004, Dylan relembra os tempos difíceis pré-“Oh Mercy” (1989), enfim um grande álbum que encerrava uma década praticamente perdida “por causa do excesso de distrações”, segundo ele. “Onde quer que eu vá, sou um trovador dos anos 60, uma relíquia do folk rock, um artesão da palavra de tempos passados, um chefe de Estado fictício de um lugar que ninguém conhece. Estou no inferno do esquecimento cultural”, diz. O primeiro dos três turning points no novo século a tirar Bob Dylan deste esquecimento cultural e coloca-lo no lugar em que ele sempre mereceu estar foi um documentário impecável dirigido por Martin Scorsese. Lançado em agosto de 2005, “No Direction Home” compilava em 208 minutos imagens raras (como a primeira exibição do momento em que alguém o chama de “Judas” num show em Manchester, 1966) e dezenas de takes de backstage e shows nas turnês de 1965/1966 além de entrevistas com personagens importantes do período como os músicos Pete Seeger, Maria Muldaur e Al Kooper, a ex-namorada Suze Rotolo (fotografada ao lado de Dylan na capa de “Freewheelin”), o promotor de música folk Harold Leventhal, o cineasta DA Pennebaker (diretor do obrigatório documentário “Don’t Look Back”) e o poeta beat Allen Ginsberg, além do próprio Bob Dylan (impressionantemente desnudado e à vontade a ponto de dizer, sobre o fim do relacionamento com Joan Baez, que “não dá para amar e ser esperto ao mesmo tempo”), entre outros.
O documentário foi acompanhado de uma “trilha sonora” deliciosamente torta em mais um volume imperdível de raridades cobrindo os 7 anos (de 1959 a 1966) que mudaram a música pop: “The Bootleg Series 7 – No Direction Home: The Soundtrack” compila 28 canções, apenas duas delas lançadas anteriormente, com o garimpo começando no CD 1 com a primeira gravação domestica de Bob, “When I Got Troubles”, datada de 1959, e seguindo com outra raridade: “Rambler, Gambler” (1960), canção tradicional gravada por Dylan numa rádio em Minneapolis. O hino “This Land Is Your Land”, de Woody Guthrie, surge numa versão de Bob ao vivo em 1961. Seguem-se takes do famoso álbum pirata “Minnesota Hotel Tapes” (1961), registros do programa de TV “Folk Songs and More Folk Songs” (1963) além de números no Newport Folk Festival (“Chimes of Freedom” em 1964 e “Maggie’s Farm” em 1965 mostrando a mudança do acústico para o elétrico que criou um caos na cena folk da época).
No CD 2, takes alternativos que engrandecem ainda mais os álbuns “Bringing It All Back Home” (1965), “Highway 61 Revisited” (1965) e “Blonde on Blonde” (1966) com versões de “It’s All Over Now, Baby Blue” (mais lenta, mais melódica, mais intensa), “She Belongs To Me” (também mais lenta, e aqui sem bateria, mas com baixo e guitarra), “Tombstone Blues” (frenética, pré-punk), “Desolation Row” (“Com Al Kooper tocando guitarra como o jovem Lou Reed”, observa o crítico John Harris), “Highway 61 Revisited” (numa baita versão de boteco, com slide e piano elétrico sensacionais), “Leopard-Skin Pill-Box Hat” (no modo blues lento e chapado) e “Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again” (também em marcha lenta chapada) além de “Visions of Johanna” (com os Hawks e Al Kooper). O livreto (com dezenas de fotos raras e registros alternativos das capas do período) tem texto assinado por Andrew Loog Oldham, o homem que cuidou dos Stones em seus anos de formação (1963/1967), e que aqui observa: “Na Inglaterra e na França, mais conhecidas como Europa, havia Dylan muito antes que houvesse Beatles e Rolling Stones. 43 anos depois, Dylan ainda move os peões”. Muitos fãs jovens conheceram Bob Dylan através deste documentário de Scorsese, que ganhou uma reedição comemorativa em 2016 com acréscimo de diversas cenas raras. Logo logo, esses novos fãs perceberam, na prática, que Dylan não pertence ao passado. “Modern Times”, seu segundo turning point no novo século (o terceiro será o Nobel de Literatura), vem ai, e é assunto para outro café.
abril 19, 2018 No Comments
Download: Scream & Yell 6.5 (Maio 2000)
Eis a última edição impressa do Scream & Yell no formato fanzine! Para o nosso terceiro informativo em A4, inspirei-me em dois informativos bacanas que havia recebido via correio (e que tenho até hoje): o Bola Gato, do Wener Marq, de Vitória; e o Freak Informativo, versão pocket do grande Freak Out, do Byra Dornelles, parceirão do Rio. O formato era muito bacana, um A4 dividido em quatro partes (frente e verso) com duas dobraduras. Cool (risos). Nesta edição derradeira distribuída em maio de 2000 falamos sobre a Mostra Independência ou Sorte?, que iria acontecer em outubro do mesmo ano na Funarte (eu ainda não sabia, mas estaria morando em São Paulo a partir de agosto, e participaria ativamente da mostra declamando poemas) e seria sensacional. Falamos também de vários zines e revistas (eu era fã do Velotrol, do Coizine, do Imaginary Friends, do Phriqui, do Informação e do Velvet Zine), do disco de covers do Inocentes, do maravilhoso “Spanish Dance Troupe”, discaço dos galeses do Gorky’s Zygotic Mynci e da coletânea de bandas punk “The Gig Tomorrow Is Too Far”. Não lembro qual foi a tiragem desse informativo, mas foi enorme, afinal o formato facilitava a reprodução e o envio. Como padrão, no arquivo que você irá baixar há duas versões: uma em PDF para ser lida em desktop, celular e tablet, com o formato das páginas sequencial; e outra em JPG formatada para impressão (ou seja, com as páginas combinadas para serem montadas no formato revista. É simples: você imprime a 6.5.1 na frente e a 6.5.2 no verso do A4 e capricha na dobra, primeiro no meio, depois você saberá para onde ir. E terá um zine antigo em suas mãos). Divirta-se.
abril 18, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 46: Reggae Tribute
Bob Dylan com café, dia 46: Num episódio famoso da cultura pop, em 1979, Serge Gainsbourg baixou em Kingston para gravar um disco de inéditas reggae com os ainda desconhecidos Sly Dunbar (bateria) e Robbie Shakespeare (baixo). O resultado foi “Aux Armes Et Cætera” (1979), um dos maiores sucessos da carreira de Gainsbourg, disco de platina triplo na França ancorado numa versão rastafári de “A Marselhesa” que fez com que a extrema direita francesa o ameaçasse de morte. O sucesso foi tanto que Serge levou Sly & Robbie para a turnê na França, e os colocou no mercado. Serge gravaria outro álbum com a dupla (“Mauvaises Nouvelles des Étoiles”, 1981), mas quem cruzaria Sly & Robbie em 1983 seria Dylan, que contrataria a cozinha jamaicana para o belo álbum “Infidels”, que ainda teria Mark Knopfler e Mick Taylor. Os Wailers já haviam gravado “Like a Rolling Stone” em 1966, mas a ilha jamaicana ainda não tinha mergulhado profundamente na música de Dylan até que o produtor Doctor Dread, fundador da RAS Records, montou uma super banda base (com Sly na bateria, mas sem Robbie no baixo, substituído por Glen Brownie, que acompanhou de Jimmy Cliff a Ziggy Marley, mais Dwight Pinkney na guitarra, entre outros) e convidou um time de estrelas para recriar o repertório de Bob.
Lançado em 2004, “Is It Rolling Bob? A Reggae Tribute To Bob Dylan” traz a capa de “Bringing Back All Home” numa divertida versão Jamaica, com Bob bolando um baseado, uma dreadlocker ao fundo, capa de discos de reggae no chão, um foto de Bob Marley sobre a lareira e até uma cerveja Red Stripe. Gravando em Kingston no padrão Jamaica (um CD reggae, o outro dub), o primeiro disco traz 13 versões e um excelente remix de “I and I” (uma das grandes faixas de “Infidels”) enquanto o segundo toasteia oito versões (“I and I” inclusa). Destacam-se Toots Hibbert (líder da mítica Toots & the Maytals) numa versão poderosa que transforma “Maggie’s Farm” em um grito de guerra escravo; Gregory Isaacs brilha numa pungente “Mr. Tambourine Man”; Nasio Fontaine surge acompanhado por Drummie Zeb & The Razor Posse na religiosa e ótima “Gotta Serve Somedbody” enquanto Sizzla banca o MC agitando “Subterranean Homesick Blues” e Michael Rose (do Black Uhuru) em “The Lonesome Death of Hattie Carroll” (“Uma canção particularmente forte para a história de escravidão na Jamaica, esmagada entre pobreza e violência”, observou a resenha do Guardian) num disco curioso, divertido, reflexivo e descompromissado, como um bom baseado.
abril 18, 2018 No Comments