Na rota dos vinhos na Argentina (parte 2)
O terceiro dia começou puxado com um voo de Buenos Aires para Neuquén, na Patagonia, e se ao ler “Patagonia” você imaginou aqueles cenários idílicos de Ushuaia, saiba que um voo de Neuquén pra lá demora cerca de seis horas e que a Terra do Fogo não é lá dos melhores territórios para plantio de uva (e essa viagem que estou fazendo é sobre vinhos argentinos).
Não é a toa que a grande concentração de vinicultura na Argentina acontece em Mendoza, região responsável por 75% da produção anual de vinhos do país. Neuquén responde por 0.82% da produção de toda a Argentina, e, ainda assim, apenas uma das grandes vinícolas da região, a Bodega Del Fin Del Mundo, produz sozinha anualmente 9 milhões de garrafas de vinho.
Nosso passeio começou assim que deixamos o aeroporto. Uma van no esperava para nos levar para a Bodega Humberto Canale, fundada em 1909 no coração do Alto Vale do Rio Negro, na Patagônia, e hoje dirigida pela quarta geração da família, Guillermo Barzi Canale, que nos recebeu junto ao enólogo da casa (desde 2003), Horacio Bibiloni, que nos recebeu para falar sobre a bodega, nos mostrar alguns de seus vinhos e nos presentear com um almoço coordenado pelo chef Walter, um churrasco maravilhoso que se saiu como a melhor refeição (até agora) da viagem.
Entre os vinhos, provamos cerca de 10 garrafas e o Humberto Canale Cabernet Franc 2012 foi bastante elogiado (também foi um dos meus preferidos), mas a linha toda me agradou, com destaque também para o Humberto Canale Gran Reserva Merlot 2011. Para o almoço seguimos com um Humberto Canale Gran Reserva Malbec e, depois, outro dos melhores vinhos da viagem: Humberto Canale Centenium, um blend de Malbec, Merlot e Cabernet Franc (envelhecidos em barris norte-americanos e franceses) com produção iniciada em 2005 para festejar os 100 anos da vinícola.
Após a passagem na Bodega Humberto Canale, e ainda com as malas na van, fomos conhecer a pequena (mas apaixonante) Bodega Del Rio Elorza. Quem nos recebeu foi o jovem enólogo Agustín E. Lombroni, de 29 anos, que cativou a todos com sua sinceridade (italiana) e seus excelentes vinhos, que não levam o selo de orgânicos (“embora sejam”, comentou alguém). A turma toda elogiou bastante o trabalho de Agustín, que me pareceu um sonhador em meio a tanta gente querendo apenas fazer dinheiro com o vinho. Os vinhos da Del Rio Elorza não são fáceis (principalmente para quem está acostumado com vinhos “mainstream”), mas vale muito ir atrás deles (procure pela linha Verum).
À noite, jantar no excelente restaurante La Toscana, em Neuquén (o melhor da viagem até agora – recomendo), na companhia do simpático Julio Viola, diretor da Bodega Del Fin Del Mundo. A essa altura do campeonato, o cansaço de voo e visita a duas vinícolas cobrou seu preço, e a mesa ficou um pouco dispersa – uma pena, porque os vinhos servidos sob coordenação de Viola me pareceram ótimos, com destaque (pessoal) para os excelentes Fin Del Mundo Single Vineyard Cabernet Franc 2010 e Fin Del Mundo Special Blend (Malbec, Sauvignon e Merlot) 2009. Tentarei levar um deles para São Paulo também…
Para recuperar as energias, nada melhor que uma boa noite de sono, e o fato de 19 de outubro ser o Dia das Mães na Argentina tanto nos ajudou a descansar um pouco mais (afinal, com feriado na cidade, as tarefas foram agendadas para o fim da manhã) quanto prejudicou as visitas às bodegas Del Fin Del Mundo e NQN, com a apresentação pendendo para o lado mais turístico (rápido e protocolar) das vinícolas do que aprofundadas. Uma pena.
Ainda foi interessante comparar a produção artesanal de Agustín na Bodega Del Rio Elorza com a escala industria da Bodega Del Fin Del Mundo, a tal que faz 9 milhões de garrafas por ano. O tour, bastante básico, não me ajudou a aprofundar nos rótulos, mas há coisa interessante aqui. Já na (moderna) NQN, com um prédio de arquitetura caprichada que conversa com seu entorno, a apresentação foi mais agradável e os vinhos soaram melhores, embora o restaurante tenha me decepcionado bastante.
A rápida passagem pela Patagônia (apenas dois dias) me fez ter vontade de aprofundar um pouco mais na região. A próxima parada (após viagem de 10 horas de ônibus leito) é Mendoza, e após quatro dias imerso no mundo do vinho (com todos ao meu redor discutindo animadamente sobre as coisas boas, os problemas e as dificuldades da área), a chegada à região que mais produz vinhos na Argentina me deixa bastante animado. Iremos ficar quatro dias lá (vou tentar dividir o trecho em dois posts) e depois iremos para San Juan e La Rioja. Segue o jogo.
Turismo: Na rota das vinícolas argentinas (aqui)
outubro 19, 2014 No Comments