Dois shows bonus do Primavera Sound
Barcelona não para, e o Primavera Sound segue o ritmo da cidade. Após três dias intensos e dezenas de shows no Parc Del Fórum, dois eventos marcavam o encerramento da edição 2011 do festival: no Poble Espanyol, BMX Bandits e Mercury Rev. E para aqueles que ainda tinham pique, no Apolo, já na madrugada de domingo para segunda-feira, Simian Mobile Disco e Black Angels jogavam uma pá de cal sobre a ótima edição 2011 do Primavera Sound.
O Poble Espanyol é um vilarejo recriado no alto de Montijuïc que tenta contar – através de ruas e casas – a história de todas as regiões da Espanha (em escala reduzida, claro). Fica alguns metros acima do Pavelló Mies van der Rohe, e se (ao contrário da magnifica obra do arquiteto alemão) ostenta um ar meio fake e cafona, por outro tem a vantagem de se transformar em um ótimo anfiteatro para a realização de shows para até duas mil pessoas. O clima era de quermesse com direito a copos enormes de sangria e pipoca.
Duglas Stewart abriu os trabalhos com a BMX Bandits, veterana banda indie escocesa dos anos 80, que segue na ativa distribuindo melodias doces aos fãs de power pop. Stewart é daqueles frontmans que dominam a arte de entreter o público. Ele gasta seu sotaque escocês, diz que “ama o amor” e apresenta uma canção da época em que “Crazy Cat (a violinista ruivinha fofinha) ainda não tinha nascido”. E ao apresentar a moça, se orgulha: “Eu roubei ela do Belle and Sebastian”. Velhos hits e canções novas fizeram o público sorrir até o fim da apresentação.
Na seqüência, o Mercury Rev subiu ao palco mais uma vez para apresentar a integra de seu álbum mais famoso, “Desert’s Songs”. O roteiro era o mesmo do show apresentado no sábado no anfiteatro do Parc Del Fórum, mas o clima era outro. Muitas coisas podem fazer um show em um dia ser ok e no outro, sensacional: o tesão da banda, a empolgação do público, o atmosfera do lugar. No Poble Espanyol, tudo parecia conspirar a favor, e o Mercury Rev não desperdiçou a oportunidade.
Jonathan Donahue subiu ao palco, novamente, com uma garrafa de cerveja, que logo foi trocada por uma “botella” de vinho (que seria bebida inteira durante toda a a noite). “Holes” surgiu linda, cintilante, abrindo caminho para as demais canções do desertor. “Tonite It Shows” e “Endlessly” apareceram em versões encorpadas, com a bateria marcando forte o ritmo. Até a instrumental “I Collect Coins” brilhou, mas a divisora de águas, a canção que mostrou que este não era um show qualquer foi “Opus 40”, em versão estendida, inebriante, quase dez minutos de encantamento.
Encarnando um maestro meio mágico, meio bruxo, Donahue sorria, arremessava energia para a plateia e aplaudia a entrega da banda e a cumplicidade do público enquanto as luzes no palco flutuavam sobre a densa nuvem de gelo seco. “Delta Sun Bottleneck Stomp” fechou o show de forma dançante, mas a banda ainda voltaria para tocar “Dark is Rising”, a música que resume o Mercury Rev a perfeição, com versos que dizem que “tudo é sonho” (título do álbum pós “Desert’s Song”) para concluir “nos sonhos eu sou forte”. Não só nos sonhos, Jonathan. No palco também. Impecável.
Primavera Sound, agora sim: até 2012.
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maio 30, 2011 No Comments