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Posts from — fevereiro 2011

Três filmes: o amor, o rei e o cisne

Uma das minhas metas pessoais para 2011 era a de ver ao menos um filme no cinema por semana. Já vi mais, mas para não acumular os pequenos textinhos, lá vão três…

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“O Amor e Outras Drogas” (“Love & Other Drugs”, 2010)
Imagine a cena: três roteiristas sentados na mesa de um bar tentando, cada um, puxar a sardinha do roteiro do filme que estão fazendo em conjunto para o seu lado. É mais ou menos isso que Edward Zwick (que também assina a direção), Charles Randolph e Marshall Herskovitz deixam transparecer com “O Amor e Outras Drogas”, um filme que no papel deveria ser bem bacana, mas que nas telas se transformou em um dardo de tiro ao alvo voando pra todo lado. Há drama (uma garota com mal de Parkinson), sensualidade (a mesma garota andando nua boa parte do filme – a propósito, Anne Hathaway), comédia (o começo divertido com Jake Gyllenhaal bastante inspirado) e pastelão. Em nenhum momento do filme, o roteiro decide pra que lado quer ir. No final deixa uma impressão de comédia romântica dramática, mas não convence.

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“O Discurso do Rei” (“The King’s Speech”, 2010)
Pra você ver como as coisas são, caro leitor: o mundo deu voltas e voltas, e o cinema independente agora posa de cinema clássico, sem arriscar, sem ousar, apenas usando a tela para contar uma história. Ok, nem tão independente assim (com a The Weinstein Company metida no meio), mas é interessante ver como Hollywood se afundou na megalomania e um filmezinho bacana de 15 milhões de dólares ameaça arrebatar várias estatuetas douradas na festa do Oscar. “O Discurso do Rei” é corretíssimo, mas esquecível. Em cinco anos ninguém vai lembrar dele (alguém lembra de “Shakespeare Apaixonado” por exemplo?). Isso não desmerece as belíssimas atuações do trio de fource (hehe) de atores (Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham Carter), mas o cinema pode mais, bem mais do que isso. Serve como antítese e passatempo. E só.

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“Cisne Negro” (“Black Swan”, 2010)
Um dos grandes filmes do ano passado, “Cisne Negro” soa como se Darren Aronofsky tivesse recuperado a confiança com o ótimo (e extremamente básico) “O Lutador” após ter dado com os burros n’agua em “A Fonte da Vida” (que até tem fãs, mas continua sendo uma porcaria). Aronofsky volta a filmar com o tesão que mostrou nos excelentes “Pi” e “Réquiem Por um Sonho”, o que garante a mesma dose de exagero deste dois em “Cisne Negro” (“O Lutador”, por sua vez, é bem mais econômico). Os exageros (visuais e ficcionais) às vezes tiram um pouco da força da história, mas não arranham o status de grande filme de “Cisne Negro”, não só devido à ótima atuação de Natalie Portman, que é bacana e tal, mas é hiper-dimensionada pelo excelente roteiro (esse sim deveria ganhar o Oscar). O grande nome do filme não é Natalie Portman, mas sim Darren Aronofsky. Ele sabe o que faz (na maioria das vezes)… 😛

fevereiro 15, 2011   No Comments

O bar é um exercício de solidão

“Passei horas deliciosas nos bares. O bar é para mim um lugar de meditação e recolhimento, sem o qual a vida é inconcebível. Hábito antigo que se arraigou ao longo dos anos (…), passei nos bares longos momentos de devaneio, raramente conversando com o garçom, na maioria das vezes comigo mesmo, invadido por cortejos de imagens que não cessavam de me surpreender. Hoje, velho como o século, não saio mais de casa. Sozinho, nas horas sagradas do aperitivo, na saleta onde guardo minhas garrafas, gosto de lembrar dos bares que amei”.

Luis Buñuel em “Meu Último Suspiro” (Cosac Naify)

Mais pra frente, o cineasta lamenta que o bar tenha se transformado em um local barulhento, com música alta e ambientes iluminados, propensos a conversação. A relação dele com seus bares era de amor. E amor só se divide com o objeto amado.

“Agora queria falar das bebidas. Como é um tema em que sou praticamente inesgotável, tentarei ser bem conciso. Os que não estejam interessados – desgraçadamente, eles existem – podem pular algumas páginas. (…) Meu drinque favorito é o dry martini”. Veja a receita pessoal de Buñuel aqui.

Leia também:
– De Stanley Kubrick para Luis Buñuel (aqui)
– Luis Buñuel e uma estranha reunião de fantasmas (aqui)
– Luis Buñuel: o que aconteceu com o surrealismo? (aqui)
– Luis Buñuel: a minha receita de dry martini (aqui)

fevereiro 14, 2011   No Comments

Sobre a dor e a sofisticação

“Em minha aldeia, onde nasci em 22 de fevereiro de 1900, pode-se dizer que a Idade Média se estendeu até a Primeira Guerra Mundial. (…) Tive a sorte de passar minha infância na Idade Média, época ‘dolorosa e sofisticada’, como escreveu Huysmans. Dolorosa em sua vida material. Sofisticada em sua vida espiritual. Justamente o contrário de hoje”

Luis Buñuel

fevereiro 10, 2011   No Comments

Da Inglaterra: Hen’s Tooth

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Antes de qualquer coisa, o que mais chama a atenção na Hen’s Tooth é sua cor: é de um alaranjado quase amarronzado tão brilhante que parece mel – ou uísque. A garrafa transparente (ao contrário do tradicional tom escuro) valoriza ainda mais essa English Strong Ale que posa de Real Ale (termo criado para reunir as cervejas elaboradas com ingredientes tradicionais, maturadas com uma segunda fermentação no próprio barril de onde será servida e extraída sem o auxílio do CO2), mas na verdade é uma Old Ale (refermentada na garrafa).

Integrante do conglomerado da Greene King, cervejaria fundada em 1799 em Suffolk, Inglaterra, que com o passar dos anos tornou-se a maior cervejaria britânica devido à compra (muita vezes criticada) de pequenas fábricas, a Mortland (cervejaria fundada em de Abingdon, no condado de Oxfordshire) tem como carro chefe da casa a famosíssima Old Speckled Hen, uma das primeiras cervejas premium do Reino Unido, mas começa a investir pesado na Hen’s Tooth (a exportação para outras países é um indicativo).

Tudo aqui é especialmente britânico. O aroma destaca a presença do lúpulo trazendo à memória a lembrança de abacaxi, uvas e flores – e por fim, malte. O paladar é aquilo que os ingleses tentam transformar em clássico: o álcool levemente disfarçado em algo que lembra caramelo e, levemente, café. O amargor característico (devido à boa presença de malte) se faz presente de forma comportada, mas o final é surpreendentemente adocicado (não confundir com enjoativo – está bem longe disso).

Um fato interessante: a Hen’s Tooth parece mais forte do que os 6;5% de álcool prometem logo na apresentação (o que, em condições normais, já é muito para o paladar brasileiro acostumado aos 4,5% das cervejas tradicionais nacionais). O aroma e o paladar no primeiro toque na língua são marcantes, mas aos poucos a cerveja amacia, e seu final levemente adocicado torna a cerveja bastante interessante, um conjunto agradável que pode surpreender. No entanto, vale tomar cuidado: você acha que ela não vai te embebedar, mas ela vai. Acredite.

Teste de Qualidade: La Trappe Dubbel
– Produto: English Strong Ale
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,77/5
– Preço: entre R$ 15 e R$ 25 (garrafa de 500 ml)

fevereiro 9, 2011   No Comments

Estados Unidos 2011: roteiro fechado

Ok, viagem fechada. Eu queria muito, mas muito ir mesmo ir a Memphis, mas não vai rolar desta vez. A logística toda seria muito trabalhosa (perderíamos um dia inteiro para ir e outro pra voltar apenas em voo e conexão saindo de Los Angeles – e “perder” dois dias em uma viagem de 20 dias não rola) e o gasto seria maior (economizar, economizar). Então melhor manter os pés no chão. Abaixo o roteiro e os shows que ainda podem entrar na agenda.

Agora é sair atrás de hotéis… alguém tem dicas?

06/04 – São Paulo / Nova York
07/04 – Nova York
08/04 – Nova York
09/04 – Nova York (The Greenhornes)
10/04 – Nova York
11/04 – Nova York
12/04 – Nova York / San Francisco
13/04 – San Francisco
14/04 – San Francisco (PJ Harvey)
15/04 – San Francisco/ Índio (Coachella)
16/04 – Índio (Coachella)
17/04 – Índio (Coachella)
18/04 – Los Angeles
19/04 – Los Angeles
20/04 – Los Angeles
21/04 – Los Angeles / Chicago
22/04 – Chicago (Arcade Fire + National)
23/04 – Chicago / Columbus (Decemberists)
24/04 – Columbus / Chicago / São Paulo

Shows que podem entrar no roteiro:
The Hold Steady no Terminal 5, 08/04 (Nova York)
Rush no Madison Square Garden, 10/04 (Nova York)
Bright Eyes no Fox Theater, 12/04 (Oakland)
Klaxons no Fillmore, 12/04 (San Francisco)
Animal Collective no Great A. Music Hall, 13/04 (SF) Sold Out

fevereiro 9, 2011   No Comments

De Stanley Kubrick para Luis Buñuel

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Seis dias. Fazia tempo que eu não devorava um livro tão ferozmente como este “Kubrick, De Olhos Bem Abertos”, de Frederic Raphael, um senhor que ganhou o Oscar de Melhor Roteirista por “Darling, a Que Amou Demais” (1965), e em que em 1994 foi procurado por Stanley Kubrick para adaptar um trecho de um livro do escritor austríaco Arthur Schnitzler (“Breve Romance de Sonho”).

O que se segue é a rotina de um roteirista contratado por um grande diretor em um trabalho (quase) conjunto de um grande filme. “O roteirista nunca tem o mesmo poder de um diretor. No entanto, ás vezes, pode ter a ilusão de tê-lo”, escreve Frederic em certo momento, enquanto relembra uma vez em que Diane Keaton, impressionada com um roteiro seu, fez apenas uma reclamação: “Por que eu não podia escrever seu personagem com peitos maiores?”.

Frederic brinca com analogias clássicas para explicar a função de um roteirista em um filme: “Nenhum homem é herói sem seu mordomo, mas o mordomo, por essa mesma razão, nunca é um herói”. O roteirista é o mordomo, e em boa parte do livro, Frederic imagina o momento em que, trabalho entregue, será dispensado. “Stanley não quer um colaborador”, reflete em certo momento. No fim, justifica para si mesmo: “Tenho o consolo da prostituta: o que quer que seja, ele me escolheu”.

O livro alterna três formas de escrita, que facilitam bastante a leitura, partindo do roteiro clássico (com posições de cenário – “Externa, portão da casa de Stanley Kubrick”… – e conversas diretas entre F.R. e S.K.), passando pelo diário do escritor (que destaca vários trechos em que o autor tenta entender o mito Kubrick) e por trechos a la romance, que invariavelmente refletem o processo de feitura de “De Olhos Bem Fechados” enquanto o roteirista conta histórias com Audrey Hepburn, Marcello Mastroianni, Billy Wilder…

Cinema é o tema de alguns telefonemas que Kubrick faz para Raphael, discussões curtas como: “Você viu Pulp Fiction?”, pergunta Kubrick. “É um filme que precisamos levar em consideração, eu acho”, continua o diretor. “O ritmo, observe o ritmo”, finaliza. Envia o “Decálogo”, de Kieslowski, ao roteirista, diz que Woody Allen fez uma casa muito grande para o personagem de “Maridos e Esposas” (“Ele – o personagem – não ganha tanto para ter uma casa daquele tamanho”, justifica, alertando: “Não podemos cometer o mesmo erro”) e fala sobre seus filmes.

Valeu o esforço? Com a palavra, Frederic Raphael, após finalizar a segunda versão do roteiro:

– Ele acha melhor tentar acertar para que o filme seja feito. É a primeira vez que diz alguma coisa sobre fazer o filme.
– Espero que tenha valido a pena – comenta a esposa.
– Deus queira que em meu epitáfio não conste apenas “Ele trabalhou com Stanley Kubrick. Uma vez”.
– E queira Deus que não sejam duas vezes – diz ela.
– Ele é o melhor.
– É bom mesmo que seja.
– O que acha de sairmos para jantar? Hora de comemorar. Mesmo sem saber o quê, exatamente.
– Ter sobrevivido, talvez?

Fica a dica. Na Estante Virtual, site que reúne centenas de sebos do país inteiro, o livro de Frederic, lançado pela Geração Editorial, custa entre R$ 12 e R$ 25. Vale.

“Ele é, começo a suspeitar, um diretor de cinema que por acaso é um gênio e não um gênio que por acaso é um diretor de cinema. Minha dificuldade será adivinhar o que ele realmente quer de mim. E a dele será a mesma. Vou acabar descobrindo que, como sempre acontece com os bons diretores, ele quer apenas as habilidades que não consegue obter por si só. Uma vez que eu as fornecer, elas lhe parecerão tão banais que ele facilmente se convencerá de que é menos um caso de não possuí-las do que o de estar muito ocupado para poder aplicá-las. Fui contratado para preparar a festa, mas a festa com certeza será dele”…

Agora… Luis Buñuel…

fevereiro 9, 2011   No Comments

Terceiro rascunho: Estados Unidos 2011

Ok, a viagem começou hoje. Finalmente comprei as passagens e, de bate pronto, comprei tickets para ver PJ Harvey em São Francisco e Arcade Fire com abertura do National em Chicago (e o Greenhornes – a metade menos famosa do Raconteurs – em Nova York). Quero muito ver o Decemberists, mas preciso calcular os trajetos. O primeiro passo foi dado. Lá vamos nós.

06/04 – São Paulo – Nova York
07/04 – Nova York
08/04 – Nova York
09/04 – Nova York (The Greenhornes)
10/04 – Nova York
11/04 – Los Angeles
12/04 – Los Angeles
13/04 – San Francisco
14/04 – San Francisco (PJ Harvey)
15/04 – San Francisco/ Índio (Coachella)
16/04 – Índio (Coachella)
17/04 – Índio (Coachella)
18/04 – Memphis
19/04 – Memphis
20/04 – Memphis
21/04 – Chicago
22/04 – Chicago (Arcade Fire + National)
23/04 – Columbus (Decemberists)
24/04 – Chicago / São Paulo

fevereiro 7, 2011   No Comments

Analisando a coluna do Álvaro, na Folha

 Pequenos comentários em bold… 😛

A melhor semana de 2011 já rolou:

1) Deportes Tolima.
2) Deportes Tolima.
3) Deportes Tolima.
4) O Vampire Weekend tocou em São Paulo, e eu não passei nem perto. – crítico bom é aquele que não sabe, não viu, não ouviu e não gostou!
5) White Stripes acabou. – banda boa é banda finada!
6) Começa a cair a casa de ditadores árabes.
7) “Beavis & Butt-Head”, o desenho animado fundamental para minha geração, vai voltar a ser feito. TV boa é a que era feita no meu tempo!
8 ) Descobri que a excelente “Intelligent Life”, revista trimestral irmã da “Economist”, é grátis no iPad.
9) Estreou o primeiro jornal para iPad, o “Daily” (apesar de a página não ter montado direito no meu).
10) Aprendi a botar legenda em arquivos de vídeo pra assistir na TV de casa. – aprendi a fazer pirataria e contei pro país todo!
11) Soube que um correspondente internacional para quem pago o maior pau, o Dexter Filkins, do “New York Times”, foi contratado pela “New Yorker”, o que significa que ele vai ter mais espaço e mais tempo para fazer suas reportagens.
12) O Google lançou o googleartproject.com, que possibilita visitas virtuais a grandes museus. – nunca mais tiro minha bunda preguiçosa de casa!
13) Sarney disse que é a última vez que ele exerce a presidência do Senado.
14) Depois de séculos, entrei numa livraria de shopping no Brasil… E tinha muita coisa legal! – leio no iPad, mas não posso deixar de ser do contra!
15) A repórter Christiane Amanpour, ex-CNN e hoje na ABC, decidiu ralar, depois de longa era de vida mansa, e foi logo entrevistando o Hosni Mubarak. – eu ralo pra caralho, não viu minha entrevista com o Ricky Martin?
16) Vovô Rivaldo meteu um golaço, com chapéu e tudo, já no primeiro jogo no São Paulo
17) Saiu na Inglaterra o livro “Inside Julian Assange’s War on Secrecy” (“por dentro da guerra de Julian Assange contra o sigilo”), que mostra os bastidores e as sujeiradas do megalomaníaco Assange, do WikiLeaks.

Viva 2011!”

Faltou essa:

18) O Fantástico, que eu edito, teve a pior audiência da história.

2011 está só começando…

fevereiro 7, 2011   No Comments

Cinco fotos: Budapeste

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Cinza

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Cidade

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Águia

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O contrabaixista

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Primavera

Veja mais imagens de cidades no link “cinco fotos” (aqui)

fevereiro 1, 2011   No Comments