“Live at Lincoln Hall”, de Elizabeth Moen, é um raro disco ao vivo atual que te leva lá, na beira do palco, de olhos fechados

texto por Paolo Bardelli

2424 North Lincoln Avenue é um edifício em Lincoln Park, Chicago, que abriga o Lincoln Hall, uma sala de concertos com 500 lugares. Elizabeth Moen é quase uma residente lá, já que toca no local com frequência. Essa familiaridade com a sala a levou a lançar um álbum ao vivo de seu show no Lincoln Hall em 4 de novembro de 2023 e, pessoalmente, já fazia algum tempo que eu não ouvia um disco ao vivo tão convicto e participativo – ok, é verdade que os álbuns ao vivo cairam em desuso devido a falta de apresentações consistentes a ponto de ficarem imortalizadas na discografia dos artistas.

Mas Elizabeth Moen é diferente, ela é prodigiosa. A verdade é que você tem que ser bom ao vivo se quiser lançar um disco de um show seu, e Elizabeth Moen realmente é poderosa no palco: ela sabe como passar facilmente de um alt-soul-country para um indie-rock decidido (ouça, por exemplo, a impressionante “Emotionally Available”, que poderia trazer à mente as mudanças de intensidade que a banda de Jeff Buckley costumava utilizar) sempre apoiando a interpretação num vocal temerário e matador.

Guitarrista autodidata, Moen escreveu suas primeiras músicas enquanto estudava na universidade em Iowa City, e lançou seus primeiros álbuns produzidos por ela mesma lá, em um ambiente artisticamente próspero. Abandonando Iowa City, ela viajou por dois anos pelos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, eventualmente fazendo de Chicago sua base. E com “Live at Lincoln Hall” é como se ela homenageasse a cidade que a acolheu.

Quer se ofereça apenas com voz e guitarra (como na faixa que abre o disquinho, “Songbird”) ou com banda (um coral adicional – todos cantam no sexteto que a acompanha neste show – é também marcado pela voz masculina presente em “Is Heaven Just a Waiting Room”), a aura que marca a sua apresentação é a de uma grande artista e igualmente boa intérprete.

Seu estilo de escrita às vezes se manifesta como uma espécie de “fluxo de consciência” que a aproxima de Courtney Barnett (“Purple Flowers”) ainda que soe, quase sempre, orgulhosamente americana, mas, na maior parte do tempo, são suas habilidades de modulação vocal que se destacam entre a coragem e a doçura comovente, de músicas como “Empty Bottles” e “Sorry That I Love You”.

Nestes tempos em que pouca coisa gravada ao vivo impressiona, “Live at Lincoln Hall”, de Elizabeth Moen, é um álbum que vai te levar até lá, na beira do palco, para curtir uma performance de olhos fechados, feita com o coração.

Texto publicado originalmente no site italiano Kalporz, parceiro de conteúdo do Scream & Yell. 



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