Faixa a faixa: Conheça “Da Tristeza à Fúria”, primeiro álbum da banda Alexandre María

introdução por Diego Albuquerque
faixa a faixa por Alexandre María

Alexandre María é o codinome do cantor, compositor e guitarrista Igor Holanda, que trabalha misturando o noise das guitarras distorcidas com o lirismo, reflexão e tradição de sons genuinamente brasileiros e nordestinos. Após o EP “22 graus” (2018) e o single “Problema Infinito” (2019), Alexandre María finalmente lança seu primeiro álbum cheio, “Da Tristeza à Fúria”, um trabalho 100% autoral que mistura todas as influências do artista e também explora as suas experiências tendo tocado em eventos e trabalhos com variados artistas da cena brasileira, como DJ Dolores, Aldan (MG), Jonatas Onofre, Bike (SP) e Cosmogrão.

“Eu acredito que o disco ‘Da Tristeza à Fúria’ é o registro de um período onde eu estava compondo e tocando muito ao vivo, podendo experimentar ideias e me compreender enquanto artista. É uma amostra do espírito punk pelo qual eu guio minha vida, com detalhes imperfeitos e uma produção meio ríspida que resolvi acolher”, comenta o artista. Ao longo das 12 faixas gravadas durante a pandemia, Alexandre María versa sobre livros, canções românticas e também sobre política. Tudo isso reverberando sonoridades de artistas que vão de Nick Cave ao CAN, passando por Husker Du, Sonic Youth, e nomes brasileiros como Vitor Brauer, Siba e até ritmos populares em Recife como o brega.

“É um disco para quem gosta de guitarra elétrica, noise e solos longos, uma viagem que literalmente intercala a tristeza e a fúria das emoções mais que humanas, que busca trazer para a humanidade a paciência das paisagens, o luto entre os animais e o potencial da poesia escrita em um grão de areia. É nessa viagem psicodélica entre o céu e o inferno que espero aproximar as ambiguidades, contradições e prazeres que sentimos ao longo da vida”, revela o artista. Para entender um pouco mais das ideias e das faixas do álbum, Alexandre María comenta o disco faixa a faixa exclusivamente pro Scream Yell. Dê o play no trabalho em seu streaming preferido clicando aqui e boa leitura.

01) Mais Que Humano: Uma faixa que trata das coisas ínfimas e gigantescas que cercam a vida no mundo, que fala sobre os astros, os animais e as emoções humanas que partilhamos com essas formas de vida “mais que humanas”, culminando na parte final onde, dá tristeza à fúria, da consequência do sofrimento “existe uma vida”, que sofre por não ter, embora saiba que tudo ao redor é no fim das contas, partilhado/seu.

Referências: Bill Callahan, Bruce Springsteen.

02) Rangendo os Dentes: Uma música explicitamente política, que tenta encadear as ideias e fazer jogos de frase. Feita na época da pandemia, tentando apontar a hipocrisia e o cinismo daquele período.

Referências: Kurt Vile, Pixies, Bruce Springsteen, Wilco.

03) Sem Medo: Essa música foi feita numa época em que eu estava lendo um livro de antropologia chamado “Vita”, de João Biehl, que fala sobre uma mulher que perde muito da autonomia física e mental, mas possui uma história e tenta estabelecer pela linguagem uma nova forma de relacionar sua vida e o mundo da instituição onde ela morava, o Vita sendo uma “fundação” mantida por um traficante evangélico em Porto Alegre, onde muitos “indesejados” eram levados. A música em si é um pouco sobre essa aflição, sobre como as memórias se tornam tudo quando o corpo deixa de funcionar propriamente.

Referências: Nirvana, Eddie (?), Dinosaur Jr., Wipers, Husker Du, Sonic Youth.

04) Digital: Essa música tenta ser o mais simples possível, embora tenha muitos solos e muitas guitarras, e é uma tentativa de brincar com o que é a tecnologia, quase como se o personagem dessa música fosse uma máquina frustrada, que não se percebe no mundo (ou não consegue entender).

Referências: Nirvana, Dinosaur Jr., Wipers, Husker Du, Sonic Youth

05) Quando a Noite Clarear: Essa música se chamava “cansado”, e tenta ser o teor mais “tranquilo” do disco, depois de várias músicas pesadas, sobre um dia no meio da semana que pessoas conhecidas chamam pra sair, e como eu particularmente não consigo ficar acordado até tarde. É quase a romantização de uma noite pela rua, tentando produzir um olhar mais positivo de um ambiente geralmente associado ao perigo, insegurança, vício e perdição. Vale notar que o outro guitarrista da banda cunhou o termo “rock cansado” pra música que a gente faz, algo que partiu dessa música e talvez gere um sentido para o projeto como um todo.

Referências: Bruce Springsteen.

06) Não Fui Eu: Essa música é explicitamente uma continuação para outra música minha, do EP “22 Graus”, a música “Companheiro”, que fala sobre uma mulher que lida com uma situação de violência com seu marido alcoólatra e perverso. Pensando na linha das músicas de Nick Cave, fiz “Não Fui Eu” pra ser uma música de redenção de um sujeito paralelo, e que é o tema da música inteira.

Referências: Nick Cave, Leonard Cohen, Bill Callahan.

07) Drinks na Piscina: Essa música eu fiz meio que pra minha companheira, como uma canção que retrata uma tarde agradável em um contexto quase perfeito, tentando detalhar pequenos trechos de uma vida possível.

Referências: Wilco, Low, Bill Callahan.

08) Jogo das Voltas: Essa música é uma homenagem a música de Joni Mitchel, “Circle Game”, mesmo não tendo nada a ver. É sobre como o mundo dá voltas, sobre como não existe fronteira entre o céu e o mar, e como a vida é feita de espíritos, tecnologias, animais, doenças e tudo mais que existe.

Referências: David Bowie, Mick Ronson, Kurt Vile, Bill Callahan.

09) Lei e Ordem: O título é uma referência ao documentário de Frederick Wiseman, “Law and Order”, que eu assisti quando estava compondo essa música, e retrata cenas literais do filme nos primeiros versos, e depois transita para uma discussão intelectual entre dois policiais sobre o valor da vida “no bairro mais perigoso que há, onde respirar é difícil”.

Referências: Radiohead (?), CAN, Sonic Youth, (brega?).

10) Acontece: Uma das primeiras músicas que eu fiz no teclado, usei um Nord Lead dos anos 1990 que tenho, e foi feita de última hora, com imperfeições, mas uma música que eu quis manter por gostar da letra, e achar que é um final adequado para um disco que, por vezes, acaba sendo meio intenso demais. É leve, simples, tem seus erros e acaba bem, fechando o disco.

Faixas Bônus:
11) Problema Infinito: Single lançado em 2019 que não estava nas plataformas, apenas no Soundcloud. É uma oportunidade de tê-lo nas plataformas para as várias pessoas que conhecem. Gravada com uma formação diferente em 2019.

12) Nostalgia: No dia do 8 de janeiro, na invasão de Brasília, ataques terroristas, etc., eu estava fazendo o doutorado sanduíche fora do Brasil, e quando eu vi aquelas imagens e o que acontecia, decidi gravar lá uma música das minhas origens do punk/hardcore. É a mais “demo” do disco, e entrou porque gosto bastante, e foi gravada usando as baterias do Garageband, e uma placa de som para fazer as guitarras, baixo (fake, usando um pedal oitavador) e o mic da minha placa de som, completamente DIY.



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