texto por Marcelo Costa
fotos por Renata Basilio / Sesc Pompeia
vídeos por Bruno Capelas
Revelação de 2021 para o Prêmio Multishow. Revelação de 2021 para a APCA, sendo indicada ainda a Melhor Disco e Artista do Ano. 5º melhor disco de 2021 no Melhores do Ano Scream & Yell com 25 votos (um voto atrás de FBC & VHOOR e Amaro Freitas, que empataram na terceira posição) e segunda música mais votada, à frente de Caetano Veloso, Baianasystem e Duda Beat. Show no Lollapalooza e turnê internacional. Só se surpreende com o sucesso de Marina Sena quem não estava acompanhando seus passos anteriores, pois a mulher nasceu trabalhada no carisma e, inevitavelmente, uma hora sua estrela iria brilhar: enfim, essa hora chegou.
Seja com o Rosa Neon, do qual o sucesso indie “Ombrim”(atualmente com 6 milhões e meio de plays no Spotify) quase antecipou a febre Marina Sena em 2019, seja com a interessantíssima A Outra Banda da Lua, que contou com Marina e os demais integrantes comentando as faixas do disco de estreia aqui no Scream & Yell, Marina Sena estava cada vez mais pronta para o público, e a grande questão era saber se o público estava pronta para ela: enquanto escrevo, “Por Supuesto”, o hit do disco “De Primeira” (2021), soma 68 milhões de plays no Spotify e o clipe caminha a passos largos para as 5 milhões de visualizações no Youtube.
O start de tudo isso foi “De Primeira”, porque é bom ter carisma, mas melhor ainda é ter carisma e um grande álbum nas mãos. Sabendo tudo isso antecipadamente, ir a um show de Marina Sena hoje é se entregar à felicidade. Pois, como muito bem pontuou Cleber Facchi no Música Instantânea, “’De Primeira’ é um desses discos que você ouve da música de abertura à canção de encerramento com um sorriso no rosto”. E, você sabe tão bem quanto eu, caro leitor, enfrentando dois anos (que parecem doze) de pandemia e quatro (que parecem quatrocentos) de excrementíssimo no Planalto, estamos todos bastante carentes de sorriso no rosto…
E o que o que não faltou no Teatro do Sesc Pompeia no sábado, 12 de março, foram sorrisos debaixo das máscaras no rosto. A começar pelo palco, com o público presenciando uma cantora vivendo um grande momento, feliz e completamente ciente disso. O formato pouco usual do teatro, com plateias nas duas extremidades e o palco no centro, foi usado com extrema destreza por Marina Sena e seu “balé”, que é como ela chama as duas dançarinas que a acompanham no centro do tablado, Fernanda Fiuza e Raiana Moraes: geralmente, enquanto Marina estava interagindo de um lado, as bailarinas provocavam o outro.
A formação power trio da banda, com as batidas secas do produtor Iuri Rio Branco, o baixo “gordo” de Levy Santiago e a guitarra e programações econômicas de Gianlucca Pernechele, deixam alguns raros vazios no som ambiente, nada que faça com que a peteca do show caia, muito porque está todo mundo de olho em Marina, e ela não desperdiça a chance: diz que adora fazer show em teatro, desce do salto plataforma e, descalça, dança e rebola tanto que desliga os fios do fone de retorno: “Fiquei sem ouvir nada”, assume, e explica: “É muita bunda. E olha que eu perdi bunda na pandemia, mas tô malhando, me aguardem”…
Em alguns momentos, a voz soava baixa, envolvida em meio a massa sonora criada pela banda, mas subia nos refrões, envolventes. O sotaquim delicioso mineiro aparece e encanta nos intervalos entre as canções, mas basta uma música começar que a voz segura e a dança sensual se façam presente. A sensação é de que tanta banda, balé e intérprete estão se divertindo tanto quanto quem está na plateia, e ainda que Marina tenha começado o show nitidamente mais comedida, conforme a apresentação avançava, ela foi se soltando mais e mais, conversando com a plateia, trazendo o público para dentro do show.
“De Primeira” tem apenas 34 minutos, e todas as canções batem ponto na noite. Ela declara seu amor por “Temporal” – “Eu queria tanto que ela fizesse o mesmo sucesso que “Por Supuesto”… porque é reggae, e se é reggae eu já gosto” –, acena para Carmen Miranda em “Tamborim” e faz todo mundo cantar “Por Supuesto” por trás das máscaras (como é boa a sensação de ouvir um hit “fresquinho”). Atende a um pedido de fã e, sem banda, apenas com base eletrônica, canta “Deu Match”, que compôs para uma ação do Tinder. Traz, ainda, “Quente e Colorido”, que compôs para Illy, e, claro, “Ombrim”, do Rosa Neon, que encerra o show em clima de veraneio.
Nos primeiros “mais um, mais um” ela volta ao palco. “Aqui a gente não faz doce não. Pediu eu já tô de volta”. E apresenta, novamente, “Por Supuesto” (poderia ser a versão proibida, poderia, mas ok), agora com toda plateia de pé, que se solta e dança e sorri com os olhos. Ela caminha pelas escadas do teatro, elegante e segura. Interage com os fãs, que querem selfies enquanto ela canta uma das frases mais gostosas da música brasileira nos últimos anos: “Meu sonho feliz era chegar e já cair no mar”. O show acaba e a sensação é de que, por uma hora, pudemos sorrir e ser felizes novamente.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina o blog Calmantes com Champagne
Torço muito por Marina sena porque a acho uma artista talentosa. A outra banda… era muito foda. Mas, bem friamente, o disco solo é bem mais fruto do hype do que realmente um grande, grande disco, daqueles que ficamos efetivamente conquistados por grandes canções e etc . Acho que se criou uma expectativa em cima dela, e tudo o que ela lançasse seria recebido com loas. Porque já se estava predisposto a gostar, a hypar, a colocar a artista nesse patamar. Tomara que o próximo trabalho já traga algo mais que o hype impediu-a de trazer na totalidade.