por Marcelo Costa
A Praia dos Artistas Produtora é o novo projeto de retorno à Bahia do guitarrista Martin Mendonça (Pitty, Agridoce, Cascadura) ao lado da esposa Juana Diniz. Com o isolamento e a parada de atividades de shows forçada pela pandemia da Covid-19, Martin se viu embrenhado em seu home studio, dedicando-se a trabalhos com gravações, o que fez aflorar um antigo desejo, que surge compartilhado com a esposa Juana: “Abrir um selo para poder lançar minhas viagens mais pessoais, bandas independentes que produzo e artistas que me identifico é um sonho antigo. Não imaginava fazer isso agora, mas esse clima de fim do mundo ajudou a apressar as coisas”.
Após 15 anos morando na capital paulista, quando recém-saído da Cascadura veio para assumir a guitarra na banda de Pitty, Martin retorna para a casa em que nasceu, em Salvador, disposto a fazer do selo “um espaço para fomentar arte, produzir, ensinar e aprender”. O primeiro lançamento da Praia dos Artistas Produtora é o álbum “Dentro Da Caixa, Fora Do Mundo” (2021), da banda sorocabana Eugênio, já disponível em streaming. “Desde que vi a Eugênio pela primeira vez, abrindo um show de Pitty em Sorocaba, me encantou o quanto o som deles transparecia autenticidade e personalidade”, revela Martin.
Fundada em 2017 com um espírito de coletivo criativo, a Eugênio é formada por Paulo Lins, Sthé Caroline, Murilo Shoji e Ludmilla Marolli mesclando MPB com rock numa estética que, avisa o release, “vai de Radiohead a Novos Baianos sem perder a máxima de Tom Zé de ‘confundir para explicar’”. Na conversa abaixo, Martin fala mais sobre o selo Praia dos Artistas e a banda Eugênio, conta como pretende atuar com a produtora além de revelar que fez as pazes com Salvador (“Saí muito magoado pela falta de perspectivas que via aqui sendo um músico de rock. Mas, com o passar do tempo e fechar das feridas, cada vez mais me sentia impelido a voltar”).
Martin, você está lançando a Praia dos Artistas Produtora, que, pelo que entendi, é muito mais do que um selo, certo? Você sempre teve vontade de ter um selo? Como foi o processo de colocar a produtora na rua?
Abrir um selo para poder lançar minhas viagens mais pessoais, bandas independentes que produzo e artistas que me identifico é um sonho antigo. Não imaginava fazer isso agora, mas esse clima de fim do mundo ajudou a apressar as coisas. A volta pra Salvador ajudou também pois viemos para uma casa espaçosa, bonita e inspiradora, construída pelo meu pai e onde nasci e fui criado. Mais que um selo queremos que a Praia seja um lugar de encontros e conexões, conforme essa “reabertura” vá se desdobrando. Um espaço para fomentar arte, produzir, ensinar e aprender.
O primeiro lançamento de vocês é a Eugenio, uma baita banda de Sorocaba, no interior de São Paulo, que você produziu. O que no som deles te chamou a atenção e te deu o estalo de que poderia ser a estreia do selo?
Adoro as composições e acho que eles têm um jeito muito particular de se expressar através das letras e instrumentos. Desde que vi a Eugênio pela primeira vez, abrindo um show de Pitty em Sorocaba, me encantou o quanto o som deles transparecia autenticidade e personalidade. Quando o disco ficou pronto, a gente super satisfeitos com o resultado e eles ainda não tinham por onde lançar, tudo parecia perfeito para tirar o plano do papel.
O que você pretende trabalhar no selo. Por onde a Praia dos Artistas Produtora vai caminhar? O que vem por ai?
Estamos, Juana e eu, começando bem devagar. Somos só nós dois, por enquanto, e não pretendemos criar demandas maiores que nossas possibilidades. A ideia agora é ir aumentando o catálogo. Conforme a pandemia for cada vez mais controlada promover algumas oficinas e pequenos eventos na casa e em breve começar a procurar casas de show pra apresentar alguns projetos de curadoria. Já estamos planejando os próximos lançamentos e faço votos que, em algum momento no meio dessa loucura, consiga gravar e lançar meu terceiro disco solo.
Você entrou na banda da Pitty em 2005 e logo veio pra essa doidera chamada São Paulo, e a gente pisca o olho e lá se foram 15 anos. Como é para você estar de volta a Salvador e como foi para você observar a cidade de longe durante todo esse tempo?
Deixei Salvador totalmente desconectado com a cidade. Saí muito magoado pela falta de perspectivas que via aqui sendo um músico de rock e estava muito a fim de me apaixonar por São Paulo, coisa que realmente aconteceu. Mas, com o passar do tempo e fechar das feridas, cada vez mais me sentia impelido a voltar, cada visita a Salvador me fazia sair daqui mais saudoso. Juana e eu fazíamos planos de que esse seria um projeto pra aposentadoria, ou quando “não tivéssemos mais que nos preocupar com dinheiro”, mas a pandemia tratou de provar que estávamos errados.
São Paulo vai deixar saudades?
Já deixa. Construí uma vida na cidade, minha filha nasceu aí e muitos de meus melhores amigos são paulistanos ou moram na cidade. Tenho muitos parceiros e projetos na cidade e continuo tocando com Pitty, então, nesse clima de retomada de shows, espero estar volta e meia em São Paulo pra ensaiar, gravar e matar saudades.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell desde 2000 e assina a Calmantes com Champagne.
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