por Bruno Lisboa
Curumin é um autêntico coringa da música brasileira. Versátil como poucos, além de possuir uma valorosa carreira solo onde passeia pelos mais variados estilos, o músico já participou, gravou e produziu muito coisa boa desde que inicio a carreira, em 2003, com o disco “Achados e Perdidos” – como baterista, acompanhou Paula Lima, Arnaldo Antunes, Vanessa da Matta e Céu, dentre outros.
O bom trânsito o levaria a criar o projeto “Curumin convida” no qual reúne artistas com o qual já tenha trabalhado ou tenha afinidades. Nesta toada, se produz um espetáculo que reúna parte do próprio repertório e do músico convidado. Otto, Liniker, Geovana e Toinho Melodia, por exemplo, já participaram do projeto que, agora, está numa nova etapa que foi iniciada no último final semana nas Minas Gerais com apresentações em Ouro Preto (Marte Festival) e no Sesc Palladium (BH) e que traz Tulipa Ruiz, Anelis Assumpção, Russo Passapusso (vocalista do BaianaSystem em carreira solo) e Saulo Duarte como convidados
“Curumin convida” versão 2019 é um encontro que traz à tona parte do que de melhor algumas produções musicais contemporâneas brasileiras têm a oferecer. Se inicialmente o quarteto de convidados não aparentam ter afinidades musicais claras, no palco eles provam o contrário.
A abertura fica a cargo de Luan Nobat, artista local que recentemente lançou o elogiado “Estação Cidade Baixa”, álbum que catapultou o seu trabalho para novos ares sonoros. Escudado por uma senhora banda de apoio, o novo trabalho foi o carro chefe da apresentação, que ganhou ares pesados e foi conduzida de forma fidedigna a todo emaranhado de camadas sonoras que fazem parte do disco. Com o palco devidamente aquecido, foi a vez de Curumin dar início ao passeio musical em forma de apresentação.
Tendo as mais variadas matrizes da música popular brasileira como suporte e re(ve)ferência, Curumin (bateria) e seus asseclas Zé Nigro (teclados e efeitos), Saulo Duarte (guitarra e voz), Edy Trombone (metais) e Lucas Martins (baixo) deram o start com a faixa “Selvage”, presente no disco “Arrocha” (2012). Na sequência Anelis, Russo, Tulipa e Saulo alternariam os vocais cantando faixas dos próprios repertórios, mas sem abandonar o palco criando um clima de festa/ensaio coletivo aberto ao público.
“Eu Gosto Assim” (Anelis), “Flor de Plástico” (Russo), “Passarinho” (Curumin) e “Só Sei Dançar Com Você” foram alguns hits entoados pelo público, que se não lotou a casa, permaneceu presente cantando durante toda a noite. O tom político da apresentação também se fez presente, seja durante canções ou durante interlúdios que fizeram alusão ao desgoverno protagonizado pelo atual presidente e a prisão de Lula.
“Ogum”, de Serena Assumpção (irmã de Anelis falecida em 2016) encerrou a noite de forma reconfortante e iluminada, como só a boa música pode oferecer. Em tempos onde a arte segue sendo diminuída pela ideologia opressora dos “cidadãos de bem” noite como esta permanecerem na memória, servindo de acalanto ante a dura realidade que vivemos.
– Bruno Lisboa é redator/colunista do O Poder do Resumão. Escreve no Scream & Yell desde 2014. As fotos são de Tarcisio de Paula / Divulgação.