por Marcos Paulino
Nascido no Rio de Janeiro, mas criado em São Paulo, Kiko Loureiro é considerado um dos melhores guitarristas do mundo. Aos 42 anos, toca na banda de metal melódico Angra desde os 19 e já gravou quatro discos solos. Tem dois modelos de guitarras Ibanez com seu nome e já trabalhou, em shows ou discos, com vários ícones do rock.
Multi-instrumentista, Kiko tem gosto eclético, que vai do som pesado ao samba, com especial apreço pelo jazz e pela MPB. E se prepara para ministrar, nos dias 30 e 31 de agosto, em São Paulo, seu primeiro curso sobre o mercado da música discutindo “o lado burocrático, contratos, patrocínios, direitos autorais, licenciamentos, merchandising e estratégias”.
Com um currículo desse quilate, o guitarrista se deu ao luxo de gravar um show basicamente instrumental, em que passeia pelas várias vertentes de música que admira. O registro aconteceu no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, em 14 de junho de 2013 e agora dá origem ao DVD “The White Balance”, que, definitivamente, não serve para animar uma festa.
“The White Balance” é dividido em três partes (Heavy Metal, MPB/Jazz e acústica), conta com participações do australiano Virgil Donati e dos companheiros de Angra Rafael Bittencourt e Felipe Andreolli, e deve agradar, iniciados em guitarra e também em outros instrumentos, já que as bandas que o acompanham contam com músicos de primeiríssima linha. Abaixo, Kiko fala sobre o registro.
No DVD, você vai do rock pesado ao jazz, passando pela MPB. Por que a decisão de gravar um material tão eclético?
É o reflexo dos meus gostos musicais. Sempre gostei de tocar música brasileira e tenho paixão pelo rock. Recebi o convite para tocar no Auditório Ibirapuera, que é super conceituado, com a ideia de fazer um show diferenciado. Propus então mostrar minhas várias facetas, o que neste auditório era possível. Foi ousado, porque eram duas bandas completamente diferentes, tem que trocar instrumentos, equipamentos, logisticamente é um rolo. Além do lado roqueiro e de música brasileira, quis fazer um terceiro, do violão. Aí veio o conceito de “White Balance”, já que a soma de todas as cores dá o branco. Pude expor todos os meus lados numa noite só.
Pela sua complexidade e por ser quase totalmente instrumental, é um show que deve agradar um público restrito, basicamente de iniciados em música. Foi essa mesmo sua intenção?
Meu público mais próximo é formado por quem gosta da habilidade, da destreza, aquele cara que gosta de um virtuose do violino ou do violão. Não só por mim, mas por todos os músicos que estão ali, de nível elevadíssimo. E tudo bem captado, bem filmado, num belo teatro, a luz bonita.
Você leva sua carreira solo junto com a do Angra, que se apresenta frequentemente em vários países. Como você faz pra dar conta?
Tem que ser tudo bem planejado, com bastante antecedência. Em abril, estive na Ásia pra fazer o lançamento da minha nova guitarra, em 11 cidades. Precisei abrir 15 dias na agenda pra isso. Então, o único jeito é com planejamento.
Você também realizou workshops nessa viagem à Ásia e vai ministrar um curso de mercado da música em São Paulo. Cabe tudo na agenda?
É o chamado workaholic, falam que é uma doença. Esse DVD me ensinou isso. Foi complexo juntar nove músicos, fazer ensaios, cuidar do som e da luz, foi pesado. E na semana de gravação houve as manifestações, o gigante acordou bem nessa época (risos). Foi um agravante atravessar São Paulo pra fazer as reuniões e as gravações fugindo de bala de borracha (risos). Vi que ser workaholic pode ser perigoso. Mas dá pra conciliar. A Ásia, por exemplo, estava marcada há quase um ano. Tem que fazer tudo com prazos maiores.
Você, que é brasileiro, mas que há tanto tempo frequenta o exterior, e que tem décadas no mercado da música, como está vendo o cenário do rock nacional?
Pra ser sincero, como moro fora do Brasil há quatro anos, acompanho mais ou menos. Mas se compararmos hoje com 20 anos atrás, quando a gente começou, tudo está mais fácil, em termos de produção, equipamento. O Angra hoje toca em cidades que nunca imaginamos, como no interior do Nordeste. Mas o problema é essa música que se tornou a principal no Brasil hoje, que não gosto nem de falar o nome pra não divulgar, que deixa nossa cultura triste. Não por existir, mas por dominar. Música de gozação, de baixaria, simples, é uma manifestação legal e divertida. Mas quando domina os meios de comunicação, acho de mais. E no exterior nossa música é muito respeitada mesmo. Quando os gringos vêm pra cá, imaginam que a gente ouça Djavan, Ivan Lins, Caetano Veloso, Lenine. O rock vai um pouco nessa, com bandas boas que não conseguem ultrapassar a força econômica dessa música de massa. Minha mulher é da Finlândia, e lá, com 5 milhões de habitantes, dá pra citar fácil 15 bandas de rock pesado com carreira internacional. Aqui, com 200 milhões, tem Angra, Sepultura e mais uma ou outra. Lá tem música nas escolas desde os primeiros anos e o Estado investe em quem está começando, não nos grandes artistas. Eles têm uma mentalidade de exportação que nós não temos, e quanto mais você viaja, mais aprende, mais melhora. Então a competição fica difícil pra nós, que não conseguimos decolar.
– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira
Não sou chegado no Quicú Loureiro (o apelido é notório na cena metal) mas reconheço que ele é muito bom, um dos motivos de eu odiá-lo e também porque ele parece ser um cara inteligente, fora o fato dele ter cabeça boa, isso é legal.