Esse
você precisa ver
Amor à
queima-roupa
o Romeu
e Julieta dos anos 90
por
Marcelo Silva Costa
Dia desses um amigo pediu uma indicação
de filme rock and roll. Eu disse pra ele pegar Amor à queima-roupa
de Ridley Scott. Rock and roll? Sim, Amor à queima-roupa
é rock até o último beijo, ou até a última
bala, como você queira.
Condensa em 120 minutos, romance,
violência e interpretações geniais. Claro que tudo
isso está intimamente ligado ao nome de Tarantino, Quentin Tarantino.
Quentin Tarantino significa para o
cinema o que o Nirvana é para o rock. O cara abriu um buraco na
cultura cinematográfica americana (em primeiro plano) e mundial
(depois) jogando na cara do público: quadrinhos, rock, televisão,
drogas, armas, junk food e pulp fictions. Por mais que seu primeiro filme
tenha sido Cães de Aluguel, tudo começou
com esse True Romance.
“'Amor à queima-roupa’
foi meu primeiro roteiro. Por três anos eu tentei filma-lo, mas não
deu certo. A frustração me fez escrever ‘Assassinos por
natureza’ e ‘Cães de Aluguel’, sendo que este último
eu filmei logo depois. Quando me pediram para filmar ‘Amor à
queima-roupa’ eu disse que não queria. Eu não tinha a
intenção de voltar a trabalhar com material antigo. Eu os
considero como ex-namoradas: eu as amei, mas hoje não quero me casar
com elas", diz o cineasta. |
Quem ‘casou’ como Amor à
queima-roupa foi Tony Scott. O cara vinha de dois filmes hollywoodianos
em parceria com Tom Cruise: Top Gun e Dias de Trovão.
Muitos diziam que o filme deveria ter caído nas mãos de seu
irmão, Ridley, que tinha no currículo o primeiro (e genial)
Alien
e, zuzu bem, o clássico Blade Runner. Mas, como dizia um
velho ditado, se o diabo quiser, cada Lou Reed terá o John Cale
que merece. O que esperar? Na dúvida, pró-gol. E foi um golaço.
Amor
à queima-roupa é despretensioso e, por isso, sensacional.
O filme conta à história de um casal, Clarence e Alabama
(Christian Slater e Patrícia Arquete). Clarence está fazendo
aniversário e como presente a si mesmo decide ir assistir a uma
sessão tripla de filmes de Sonny Chiba, "o melhor ator de filmes
de artes marciais", segundo Clarence. No meio da sessão, uma garota
linda despeja pipoca sobre ele, isso em um cinema praticamente vazio. Ela
puxa papo, ele dá corda e eles se amarram. O nome dela é
Alabama. Ela está debutando na profissão de prostituta (Clarence
é seu terceiro programa) e foi contratada por um amigo de Clarence
para alegrá-lo no dia de aniversário. Os dois acabam apaixonando-se
e decidem começar vida nova, juntos.
Antes, Clarence decide acertar contas
com o cafetão de Alabama. Vai até o cara, mete umas balas
na fuça do fulano e pega uma mala com as coisas de Alabama. Quando
chega em casa percebe que pegou a mala errada e ao invés de vestidos,
calcinhas e camisetas há 500 mil dólares... em cocaína.
A partir daí o filme é a saga do casal tentando passar a
droga pra frente.
O roteiro de Tarantino é uma
pequena obra de arte. Cada personagem secundário é personagem
principal em sua passagem. Assim, a antológica cena com Dennis Hopper
sendo surrado por traficantes faz com que seu personagem (pai de Clarence)
seja o principal daquela passagem. Coisa de gênio.
Além das interpretações
magníficas de Christian Slater, Patrícia Arquete e Dennis
Hopper, temos Gary Holdman como o cafetão traficante, Brad Pitt
como um drogado alienado que passa quase todo temo deitado no sofá
fumando, e Christopher Walken, Samuel L. Jackson e Val Kilmer.
Val Kilmer, alias, faz um papel muito
especial. Ele é Elvis, sim, o rei. Clarence declara para uma garota
em um bar que
"em ‘Jailhouse Rock’ ele incorporou
totalmente o espírito do rockabilly. Ele é o próprio
caipira: mesquinho, malcriado, rude. Nesse filme ele só queria saber
de rock and roll, de viver a mil, de morrer jovem, de virar um belo cadáver...
O Elvis era um cara pintoso. Eu não sou veado nem nada, mas o Elvis
era bonito. Ele era mais bonito que a maioria das mulheres. É o
que eu sempre disse. Se eu tivesse que comer um cara, quer dizer, numa
situação de vida ou morte, eu transaria com Elvis". A
garota concorda. "Eu também transaria com Elvis".
Nota dez.
Logo após a cena inicial com
Alabama declarando, em off sobre o amanhecer em Detroit, a delicia que
é um True Romance (título original do filme) você
estará entregue as mãos de Tarantino. Por mais que Tony Scott
tenha mudado a ordem das cenas (o filme no original funcionária
mais ou menos como Pulp Fiction) e tenha alterado o final, vale
a pena cem vezes. Aproveite, ultimamente tem sido raros os filmes que não
tratam o espectador como idiota. Amor à queima-roupa é
cinema inteligente. E é rock and roll.
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