Cuidado
Com o Cão!
por
hugo
Se
você não tem intimidade com o mundo "tarantiniano", assista
a esse filme. Agora ... se você vai gostar, ou não, é
outra história. Neste seu primeiro filme, Tarantino mergulhou de
cabeça, pois tinha muito a dizer, e não queria perder a oportunidade.
E deu certo, claro.
Se aqui ele não teve atores
do primeiro time de Hollywood (sem querer ofender o bom e velho Steve Buscemi,
nem Harvey Keitel, um dos meus heróis pessoais), graças a
este filme eles não faltaram, e ele pôde, depois, trabalhar
com Bruce Willis, Uma Thurman, John Travolta, Robert De Niro e outros mais.
Tudo o que depois se tornou clichê
ou fórmula (ou marca registrada, se você quiser) em seus filmes,
está lá. Toda as referências (quase obsessão)
à cultura pop em geral, e à negra dos anos 70 em particular,
diálogos espertos e cenas explícitas de violência e
humor (sempre cínico ou irônico e muitas vezes negro), entre
outra coisas.
É, mas Tarantino não
é só estilo. É curioso notar, que já aí,
ele era um diretor enxuto e seguro. Nas cena de ação, a câmera
sempre fica distante (closes são evitados), e muitas vezes, imóvel,
tornando-se, assim, uma câmera subjetiva, pois o espectador tem mesmo
a sensação de ser uma testemunha do que ocorre. Isto diminui
a necessidade de cortes (já que se obtém um plano-sequência
relativamente longo), o que aumenta a sensação de tensão.
Mesmo depois da ação ocorrida, a câmera ainda fixa-se
sobre ela alguns segundos a mais do que o necessário para a narrativa,
mas na medida exata para que se aumente o impacto no espectador, já
que ele não é distraído por mais nada, e pode assimilar
(e se chocar) melhor com o que ocorreu.
E o exagero (fundamental), é
usado na medida certa. E isto é possível? Sim. Quem dispara,
nunca o faz menos de sete ou oito vezes, mesmo que o alvo tenha sido acertado
na primeira vez e o Sr. Orange sangra por mais da metade do filme, e sempre
pinta de vermelho o local onde está, num verdadeiro banho de sangue.
É, mas Tarantino não
é só estilo. Neste verdadeiro faroeste moderno (da mesma
forma que Guerra nas Estrelas é um capa-e-espada futurista), também
há uma mensagem: para homens de verdade, o que importa é
a honra, é a confiança, é a amizade. Em situações
extremas, em quem você pode confiar? Quem vai lhe ajudar? Quem você
vai proteger? (por falar nisso, lanço uma questão inútil,
coisa de fã: O que levou o Sr. White, a defender tão radicalmente
o Sr. Orange, que conhecia há tão pouco tempo, mesmo contra
velhos amigos, como o Sr. Joe? Acredito que por estar apaixonado por ele,
já que a homossexualidade do Sr. White, é somente insinuada
durante o filme).
Bom, moral da história: Cães
de Aluguel é o suco concentrado, que depois seria diluído
em água (Pulp Fiction), e acrescentado açúcar (Jackie
Brown), para que descesse macio. Mas, por isso mesmo, faça um favor
a si próprio: assista a este filme, e aproveite um Tarantino de
"raíz".
Conselho de um amigo em quem você
pode confiar. Mesmo.
hugo
( hugolt@hotmail.com ), colabora
com este zine e tinha um gravata vermelha, da qual ele muito gostava, que
quando batia um vento, esvoaçava (putz, que palavra gay), igualzinhos
às dos Cães de Aluguel do filme. Pena que o idiota aprendeu
da pior maneira, que não se deve lavar uma gravata ... |