Julho
2001
Listas de
Discussão
Tanto eu quanto
o Petillo chegamos a conclusão, isso pouco tempo atrás, que
listas de discussão são uma terrível perda de tempo.
É muita gente vomitando conhecimento inútil, querendo que
a sua opinião seja a mais importante e esquecendo um elemento básico
em qualquer discussão: a razão. A maioria fica defendendo
a banda/filme/artista que gosta com unhas, dentes e teclas, como se o gosto
pessoal fosse acima do bem e do mal. Não é. Eu mesmo gosto
de várias coisas que sei que são tremendamente questionáveis,
mas eu gosto, fazer o que (uma palinha: eu gosto de Engenheiros do Hawaii,
comédias românticas e da revista Vip). O que não
rola é só porque EU gosto, ter que fazer os outros gostarem
como se o MEU gosto fosse o diferencial, o decisivo para todas as questões.
Se você, que estava passando por aqui, nunca participou de uma lista
de discussão de cultura pop, saiba que, via de regra, funciona assim.
Bem, mas eu e o Petillo temos uma
revista pop e, conseqüentemente, uma lista de discussão dessa
revista. E, não pense que essa lista é diferente porque ela
não é. É igual as outras. E, assim como as outras,
tem tudo que eu falei acima, mas tem também (assim como todas) umas
discussões que valem a pena depois de tanto email perdido.
O que segue abaixo é uma amostra
disso. Uma discussão bacana que, claro, não acabou ainda,
mas já vale pelas idéias trocadas ali. E se você quiser
se cadastrar, o caminho está ai embaixo.
Grande abraço
Marcelo e Alexandre
screamyell-subscribe@yahoogroups.com
>>>>Rebeldia hoje é panacéia
pra enganar massa de manobra.
>>>Estou
enganado ou o grunge é culpado por tudo isso?
>>E estou
enganado ou a grande rebeldia de hoje não seria o cinismo?
>Poucos sabem
ser cinicos. Thom Yorke é um deles. Os Gallagher, o Bono,
outros. E isso é legal.
>>Tu pega
a letra de You And Whose Army do Radiohead - supostamente sobre Tony Blair
- e aquilo é tudo menos óbvio. Kurt Cobain foi posto
como porta-voz do grunge e não completava suas frases.
>Precisava?
Com certeza
não. Mas, no mínimo metade da credibilidade que ele passava
vinha da empatia que o cara causava, de sua "atitude". As letras dele eram
totalmente difusas. Me explica sobre o que é Rape Me? Cada um interpreta
de um jeito. Eu nunca consegui entender o que tinha de anti-estupro ali.
Ao mesmo tempo em que ele diz "tudo", ele não diz nada. E
isso meio que resume a sensação do momento. Essa falta de
alvo fácil. (Henrique)
>>Assim como
a cultura se voltou pra ela mesmo - e virou cultura pop -, os artistas,
sem terem um adversário opressivo e maldoso muito bem distinguível,
se voltaram para eles mesmos atráves de letrinhas angustiadas e
tristes.
>Discordo
do ponto de vista. Parece que isso é coisa que aconteceu ontem,
sábado, mas já no fim dos Beatles o Lennon fazia isso, claro,
com a diferença que ali não eram "letrinhas angustiadas e
tristes".
Mas ele era
uma exceção junto a outras exceções. Agora
não. Vide Travis ou Coldplay e mais duzentos exemplos. Pra cada
Asian Dub Fundation - uma das poucas bandas em que eu consigo imaginar
uma rebeldia focada - mas aí eles têm uma porrada de motivos
como o racismo e a pobreza, além de não ser exatamente rock
- existem montes de Travis e Coldplay choramingando. Antes tinha um Clash
pra cada "Buzzcocks-ever-fall-in-love".
>>A rebeldia
simplesmente não tem sentido, porque não há opressão.
>Bingo!!!
Exatamente, mesmo porque o capitalismo vende melhor a rebeldia quando ela
é original.
Daí
ela passa pelo maniqueísmo do esquemão sendo diluída
até que é incorporada como modismo - vide o punk.
>>Vc vê
Marilyn Manson, que crítica todos os valores da sociedade americana
e os moleques que curtem o cara compram seu satanismo emplastificado, porque
o que ele reclama - da forma mais cliche possível - não faz
parte da vida deles. A vida é "boa" demais, cada um faz o que quer,
então dá aquele vazio de classe média em crise existencial.
>Vc começou
capenga mas aqui já concordo plenamente com vc!
>>As últimas
"grandes cabeças" são aquelas capazes de confundir
mais. Beck, Thom Yorke, Stephen Malkmus, Sonic Youth, Kurt Cobain, Frank
Black:
>Isso, isso,
isso, afinal, são eles que causam essa discussão toda. Enquanto
no caso Travis, o Travis é apenas objeto de discussão, nos
casos acima eles são causadores da discussão. E eu incluiria
o Bono nessa turma ai.
Não
sei. eu curto U2. Acthung baby, uns lances mais antigos... Mas principalmente
depois de POP, eu acho que o Bono, mais do que cínico, é
meio farsante mesmo. Daqueles já tiveram um bom tempo mas pra continuarem
erguidos usaram de fórmulas baratas. POP é muito ruim, do
disco aos shows com imagens do andy warhol, até aqueles lances de
fazer Allen Ginsberg ler Miami - que é a única música
boa do disco - e botar William Burroughs em clipe parece tudo óbvio
com verniz "cult".
>>todos tem
letras excelentes, mas na maioria das vezes não fazem sentido explicíto.
Giram sobre a ambigüidade, o cinismo dos comentários ácidos
em forma de fluxo de consciência ou mesmo resquício de poesia
beat de muleta. Pq não há um adversário, não
há um motivo simples para ser rebelde. Então a rebeldia que
existe nesses limp bizkit é a do vexame de graça, destrutivismo
gratuito. Oasis é rebelde pq usa drogas e briga com aeromoças?
Isso pra mim é sensacionalismo barato pra moleque de treze anos
consumir sem pensar e dizer que o cara é "muito doido".
>Mas, como
eu disse anteriormente, a gente está pegando o angulo de quem está
vendo a coisa de fora. Essa rebeldia do Oasis representa uma classe no
Reino Unido, afinal, o britpop sempre olhou pro umbigo e eles mesmo pouco
se lixam pro resto do mundo.
Mas então
o Blur sempre mandou muito melhor. Pega as letras de Parklife e Morning
Glory e vê quem representa mais uma classe no reino unido. Oasis,
pra mim, depois de Definitely maybe é fenômeno de mídia.
>>Não
tem nada mais velho que a rebeldia, principalmente quando descontextualizada.
Em compensação, o cinismo, que cada vez mais tem ganho atenção,
é dúbio em sua essência, não é confiável.
É zuação artificial, bolada em universidades caras
- o Belle and sebastian veio de onde?
>Mas não
há rebeldia muito menos cinismo neles.
Aí
eu discordo totalmente pq é exatamente isso que eu tô falando.
É na pretensa inocência, bom-mocismo e atitudes reclusas que
tá a rebeldia moderna. É no não óbvio, no pegar
cinco caminhos diferentes, todos eles sem saída.
>>E o Thom
Yorke?
http://www.screamyell.hpg.com.br/secoes/kidamateriaantologica.html
Radiohead,
no topo do mundo: piadas sobre celebridade e otimismo (texto sensacional
que discute muito bem isso!!!)
Exatamente.
"Ironia marota, projeto de mau humor, tratado leve de niilismo". Acho que
essa é a "rebeldia" vigente. Não faço a mínima
idéia se é boa ou ruim. Mas não tem mais cara de bandido,
e sim de um maniaco-depressivo.
>>E se por
um lado não dá pra comprar essa rebeldia "falsa" pra capas
de revistas, às vezes tb fica díficil acreditar nessa abstração
toda de um Stephen Malkmus por exemplo, porque parece pose, é pose,
sei lá.
Henrique
- everything
in its right place
Henrique,
muitas palmas.
Éissaí mesmo, sem
tirar nem pôr
- só que eu ainda confio
e gosto de cinismo e dubiedade e acho do caralho. Quer ser óbvio,
vai pra TV.
Em
azul - Henrique
Em
preto - Fábio
Em
verde - Marcelo |