Entrevista - Wonkavision
por André Azenha
Foto: André Azenha
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15/06/2006

Mudanças na formação de uma banda nem sempre surtem efeitos negativos, muito pelo contrário. Às vezes, as mudanças fazem com que o grupo descubra algo que não havia percebido, ganhe fôlego e energia para seguir criando e tocando, e construa uma nova cara. Foi mais ou menos isso que aconteceu com a Wonkavision, revelação gaúcha que aos poucos vai subindo os degraus do cenário independente e adquirindo fãs aqui e acolá, com um som cujas guitarras altas, o vocal feminino e as letras doces - porém ácidas - forjam um power pop de primeira.

Com Will na guitarra e voz, Manu no vocal e teclado, e Kiko na bateria, o trio teve que enfrentar a saída da antiga vocalista e baixista Grazi. "A Grazi era focada em um tipo de música e a banda é mais eclética. Cada um gosta de um tipo de música", comenta Will, aproveitando para justificar a sonoridade das novas canções. Kiko brinca ao dizer que o rompimento foi tranqüilo. "As pessoas acham que se tu não dá uma notícia com sangue, ninguém aceita. Tem que se pegar no pau, dizer que a gente se chutou... Não é verdade. Foi tranqüilo e foi um processo lento. Não foi do dia pra noite", diz ele. Há cerca de um ano o baixo vem sendo guiado por Gustavo (ex-baixista da bacana e extinta banda Vídeo Hits) e o músico já se sente em casa. "O negócio está bem rico, as idéias surgem... Temos um entrosamento muito bom", afirma.

O primeiro álbum da Wonkavision, homônimo, produzido por John do Pato Fu, foi bastante elogiado pela crítica especializada de São Paulo, mas não chegou ao grande público. "Não tinha CD pra ouvir. Várias coisas aconteceram desde quando o CD foi lançado. A crítica ouviu porque recebeu, mas as pessoas que foram nas lojas não encontraram. A base de fãs que a gente tem pegou o CD, ripou, fez MP3 e mandou umas para as outras. Ele não foi ouvido por uma maior quantidade de pessoas pela dificuldade de acesso", explica o guitarrista, também responsável pelas composições da turma.

Em entrevista para o S&Y, após a passagem de som para o show (muito bem recebido pelo público) no Bar do Sesc de Santos, os três falaram da carreira, projetos, explicaram a saída de Grazi e o som das músicas novas. Manu também comentou que foi natural a sua transição para o vocal principal e a conversa foi por vezes interrompida pelas maluquices do empresário Lee, uma verdadeira figuraça. Abaixo, a entrevista:

Qual a diferença das músicas novas para as antigas?
Manu - Basicamente talvez as músicas sejam mais maduras.

Will - Não sei se elas são tão diferentes assim. A preocupação para as antigas e para as novas é a mesma, em termos de arranjo, qualidade, como tu monta elas. Tem outras que nem tocamos ainda porque não estão como a gente quer. A questão de ser mais maduro não é só questão do arranjo. Na verdade estamos mudando um pouco o tema das músicas, das letras, temas musicais. Tem menos distorção, mais guitarras limpas. A Manu está tocando muito mais piano. Até de andamento das músicas.

Manu - De ritmo, de acordes maiores e menores.

Will - Os acordes menores nas músicas dão um clima mais sério, mais tenso.

A mudança de formação influenciou nesses sons novos?
Will - Olha, acho que sim, tá? Eu fazia as músicas e sempre tinha aquela questão do arranjo. A Grazi tinha um foco mais num tipo de música e a banda é mais eclética. Cada um gosta de um tipo de música. O Gustavo (que está agora com a gente) gosta de um tipo de música e participa dos arranjos também. Ficou uma coisa muito mais eclética. Conseguimos misturar muito mais as influências...

Manu - Estamos nos permitindo misturar mais. Talvez seja isso. Nos permitindo tocar coisas que não tocávamos antes sem ter medo.

E ele (apontando para o baixista Gustavo) vai ficar na banda?
Manu - Ô Gustavo, responde ai (risos).

Gustavo - É um dia de cada vez, né? Estou a um ano quase e o negócio está bem rico, as idéias surgem... Temos um entrosamento muito bom. Não tem porque parar.

Will - E por não estar tecnicamente na banda agora, ele viaja de graça, ele ganha cachê, se diverte pra caramba, não tem compromisso, e a gente que não tem contrato fechado, acaba investindo na banda, o cachê quase nunca é substancioso. O que tu faria? Trocaria?

O CD de vocês foi muito elogiado pela crítica especializada mas não chegou ao grande público. Qual o motivo?
Will - Eu vou dizer o seguinte cara. A primeira coisa: não tinha CD pra ouvir. Várias coisas aconteceram desde quando o CD foi lançado. A crítica ouviu porque recebeu, mas as pessoas que foram nas lojas não encontraram. A base de fãs que a gente tem pegou o CD, ripou, fez MP3 e mandou umas para as outras. A gente teve problemas com distribuição nacional. Estamos tentando mudar isso com empresário novo, o Lee Martinez, trabalhar isso pra lançá-lo nacionalmente, antes do novo trabalho.

Manu - Que está em vias de ser gravado.

Will - Então eu diria que ele não foi ouvido por uma maior quantidade de pessoas pela dificuldade de acesso.

Manu - E a divulgação não foi muito grande nos grandes meios de comunicação.

O que a banda está preparando para o novo trabalho?
Will - Tem algo interessante sobre o novo disco. Bandas que fazem segundo disco geralmente usam muitas sobras. Mas como tivemos uma mudança substancial na maneira como estamos fazendo as coisas, tem muita coisa nova. E até essa semana, escutamos o que estávamos fazendo, teve uma discussão, porque não teve aquela uniformidade nas opiniões. Agora é questão de escolher e acabar.

Kiko - Fizemos uma lista, tinham outras musicas que ficaram de fora...

E a previsão de lançamento?
Will - Promessas de prazos são complicadas. Primeiro é a gente parar de se matar para decidir as coisas. Mas eu acho que em março do ano que vem está por aí. A gente quer gravar esse ano ainda. Assuntos de gravadora você fala com aquele cabeludinho ali (apontando para o empresário Lee).

Como foi o processo pra saída da Grazi? Aconteceram divergências?
Manu - (pensativa) Olha...

Will - A gente se dá "tri-bem". Acho que o maior impacto foi do público. Por que o processo da Grazi não foi assim: "Tá Grazi? Então tá". E no outro dia ela saiu da banda. Foi algo que estávamos há uns seis meses ou mais tempo negociando e aconteceu. Mas para os fãs teve um impacto maior.

Kiko - As pessoas acham que se tu não dá uma notícia com sangue, ninguém aceita. Tem que se pegar no pau, dizer que a gente se chutou... Não é verdade. Foi tranqüilo e foi um processo lento. Não foi do dia pra noite. Podíamos inventar uma história tipo: ela pegou, roubou, matou (risos)... E ninguém falaria nada no dia seguinte.

As diferenças musicais influenciaram?
Manu - Claro.

Will - No fundo foi a questão musical. A gente já tinha alguns ensaios em que tendíamos um pouco pra essas composições novas e ela meio que não gostando muito, e nós somos três. Então viramos: Olha Grazi, estamos tendendo pra esse tipo de música. E ela já não estava mais tão feliz com o tipo de arranjo. A gente acabou indo um pra cada lado.

E como foi o processo pra você (Manu) assumir os vocais?
Manu - Alguém tinha que fazer, né? Então a gente treinou bastante até conseguir coordenar as duas coisas (cantar e tocar teclado). Eu já fui vocalista em outra banda antes do Wonkavision, e só cantava.

Kiko - O Will cantar com voz fina não ia ficar muito legal. Ele cantou nuns três shows até que começaram a chamar ele de traveco pra baixo.

Como está a freqüência de shows?
Will - Está bem mais ativa, teremos shows no Rio, Floripa, Paraná depois da Copa.

Lee - A idéia é voltar nos lugares que já rolaram shows depois da Copa. Mas um negócio ó: Na verdade a saída da Grazi foi brigada. Eles são muito bagunceiros, desorganizados e um bando de mau caráter (risos).

Querem deixar algum recado? Outros projetos para 2006?
Will - Acho que o recado é assim. Apesar de ser difícil encontrar as músicas do Wonkavision, quem encontrar, espalhe, mande pros amigos, pros inimigos. Quem sabe eles não acabam gostando...
A graça é essa...

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Site Oficial da Wonkavision