Entrevista - Wonkavision
por
Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com 04/10/2004
"Will toca em seis cordas. Grazi toca em quatro. Manu, em teclas brancas. Kiko, em peles e pratos. Todos cantam nessa banda sobre idiossincrasias dessa vida cotidiana". É dessa forma que o quarteto gaúcho Wonkavision se apresenta no encarte de seu álbum de estréia, um dos grandes début do rock nacional nos últimos anos e um dos melhores álbuns de 2004, que une boas letras, teclados analógicos e guitarras altas ao tesão
juvenil que faz o disco empolgar a partir do primeiro minuto
que explode o som nas caixas.
Após dois EPs independentes que ganharam elogios rasgados da crítica, a banda "se mudou" de Porto Alegre para Belo Horizonte, casa do guitarrista John, do Pato Fu, responsável pela produção encorpada e cheia de detalhes. "Foi maravilhoso trabalhar com ele. O cara é gente finíssima. Ele pegou os nossos pontos fortes e jogou uma luz ali, questão dos arranjos vocais principalmente, sem perder a pilha Rock que a gente traz", avalia a baixista e vocalista Grazi. "O John entendeu a Wonkavision e trabalhou dentro disso. Adicionou várias idéias mas sem mexer na identidade das músicas. Colaborou muito na cara mais profissional do som", completa Will.
De cara, o que impressiona em Wonkavision, o disco, é a qualidade do som. As guitarras de Will, quase sempre altas (bem altas), são perfeitamente nítidas e disputam espaço cabeça-a-cabeça com o moog de Manu. Nas mãos de John, o som do Wonkavision se tornou musculoso sem perder as características que já estavam explicitas nos dois bons EPs produzidos de forma independente. Aliás, um pouco de história se faz necessário. O Wonkavision nasceu em 2001, quando Will abandonou uma vida de publicitário em Los Angeles. "Não estava feliz. Eu trabalhava em uma agência de publicidade e por mais grana que desse, não era o que eu queria fazer pelo resto da minha vida", conta o músico.
A saída foi retornar ao Brasil e montar uma banda de rock. A inspiração para o nome veio do filme A Fantástica Fábrica de Chocolate, que, segundo Will, é colorido e sinistro. A partir daí, a banda gravou os dois famigerados EPs, Demo Disc 03 e Preview, que chegaram a colocar músicas nas principais rádios rock de Porto Alegre. O próximo passo foi Wonkavision, o disco. "Acho que é um registro do que já fizemos até aqui, e uma amostra do rumo que estamos tomando. Está quase tudo ali", analisa Grazi. Para Will, o disco é "um apanhado de canções que falam sobre as idiossincrasias do comportamento humano, com muitas guitarras, moogs, vocais em harmonia e uma inquestionável produção do John".
O álbum abre com O Plano Mudou, destaque nas duas primeiras demos. As guitarras ganharam peso e o som, como um todo, ficou mais cristalino. A bateria de Kiko é puro anos 60 enquanto a letra, suicida, fala sobre um cara que está de saco cheio do trabalho e quer mudar os desígnios divinos pulando a janela, tomando veneno ou cortando os pulsos. O vocal é conduzido por Will, mas Grazi, lá pelo meio da canção, dá a deixa: "Meu computador me fala que eu devo partir / Seguir o que meu coração pedir". Em Ei, Não é Por Mal, Grazi rasga a voz cantando que "nem todo mundo é igual", em um arranjo de refrão que remete ao Pato Fu. Brinquedos tem refrão cantado em francês enquanto Comprimidos surge como uma das melhores canções do álbum.
"Qual a cor dos comprimidos / Quase sempre tomo errado / Uso antidepressivos / Pra fingir que sou normal", cantam Will e Grazi enquanto o moog conduz o ouvinte. Se Will pretendia fazer um perfeito retrato da geração da virada dos anos 90/00 conseguiu. "Projeto alguém centrada / Enquanto morro por dentro / com meus amigos não falo / sobre o que pretendo fazer / então surto em silêncio / eu e meus comprimidos", diz a letra. A forma alegre em que a canção é cantada é um perfeito retrato da dualidade "colorido/sinistro" que Will acredita existir no mundo de hoje.
Aquele Alguém é uma música que resume a garota bonita que nada tem na cabeça: "Quando abriu a boca para falar / Me disse que gostava dos desfiles de Jean Luc Godard (????)". Na seqüência, as duas garotas bonitas da banda concluem que "garotas assim tem aos montes por ai / mas uma que saiba de cor / as canções de Matty Sharp / não é bem assim". Um pouco antes, em Ei, Não é Por Mal, Grazi perguntava como seria se ela quisesse assistir um filme do Fellini no mesmo horário do jogo de futebol...
"Nanana é especial pois foi com ela que ganhamos o prêmio do concurso Coca-Cola MusicMixer", conta Will. "Utilizamos o prêmio para viabilizar a gravação do CD. Duas verdades sobre essa música: 1. Os tempos dos NANANA no refrão são uma mensagem em código morse. 2. Depois do solo, quando a Grazi volta a cantar, imagine que a menina já está tão de bêbada que nem coordenar mais as palavras consegue", explica o guitarrista. O vocal de Grazi, assim como em outras músicas, é uma entrega total à musica.
A Garota Mais foi hit em Porto Alegre em 2002. A bateria reta, quase punk pop, moog e guitarra fazem a cama para Will contar a história de sua saída de Santa Mônica, nos Estados Unidos, para ir atrás da "garota mais afudê do mundo". Já Quando 16 deverá render o primeiro clipe do disco. "A ironia máxima é que o Will acabou de fazer uma campanha pro DETRAN pela MTV RS. Quando descobrirem a música provavelmente vão tirar do ar. A música é flashback da adolescência. No final original, eles morriam num acidente. Mas é muito mais divertido imaginar que eles se deram bem", conta Grazi.
Errado? e Tente por Mim são canções pop assoviáveis enquanto Problemas e Rejection Junkie fecham o álbum com a guitarra em primeiro plano, claro, duelando com os teclados analógicos. Clipes, shows, novas músicas: para onde caminha o Wonkavision? "Na real, tudo ao mesmo tempo. Mas queremos priorizar os shows agora. Vai atrasar um pouquinho porque sofri um acidente e tive que fazer uma cirurgia no tornozelo. E fazer show engessado não é legal. Mas se tiver que ser, será!", garante Will, que encontra tempo para provocar o produtor John. "É uma pessoa agradabilíssima de se trabalhar e um ótimo jogador de pebolim, apesar de usar mais força do que técnica. Eu jogo mais bonito, ele ganha mais partidas".
Wonkavison, o disco, está sendo lançado pela gravadora gaúcha Orbeat e terá distribuição nacional pela Trama Independente. "Por enquanto as pessoas de outros estados podem encomendar o cd por e-mail" (wonkamall@wonkavision.com.br), informa Grazi, que é responsável, nos shows, por uma belíssima interpretação de Be My Baby, clássico de Phil Spector com as Ronnetes, eleita por gente como Ian McCulloch (Echo & The Bunnymen) e Brian Wilson (Beach Boys) como a melhor pop song de todos os tempos. Porém, para ouvir (e ver) a versão Wonkavision você precisará assistir a um show da banda. "Estamos armando shows para São Paulo em novembro", adianta Grazi. Anote na agenda e visite o site oficial do quarteto que traz muitas novidades do Wonkavision, banda responsável por um grandes álbuns do rock nacional em 2004.
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Leonardo Vinhas
Site Oficial do Wonkavision
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