Vanguart ao vivo no Itaú Cultural, São Paulo
por Tiago Agostini
Blog
Foto: Bruno Dias
24/03/2008

A fila enorme fora do Espaço Itaú Cultural, na Avenida Paulista, já anunciava o que seria aquela noite de sexta-feira. Centenas de adolescentes com seus All-Stars surrados se espremiam para conseguir um dos 250 convites gratuitos para a gravação do DVD Rumos Itaú Cultural, do Vanguart. Assim que as portas se abriram, poltronas ocupadas rapidamente. Na platéia ao menos uma presença ilustre: a cantora sensação Mallu Magalhães, fã do grupo (ela inclusive compôs uma música chamada Vanguart), assistia à apresentação na ponta esquerda do mezzanino - e respondia com acenos e gestos tímidos às menções a seu nome feitas pelos fãs.

Ao entrar no teatro uma surpresa: havia apenas uma cadeira e um pedestal com um microfone no palco. Para desapontamento geral da maioria do público, o Vanguart ainda demoraria cerca de uma hora para entrar no palco. A primeira apresentação da noite era do violonista Alessandro Penezzi, que tocando choros, valsas e frevos, recebeu os tradicionais gritos de "Toca Raul" da platéia impaciente, que muitas vezes soltava piadinhas sem graça em voz alta. Típico de adolescentes cheios de "rebeldia". Pena, visto que Penezzi fez um show irretocável, imprimindo paixão a cada dedilhado das cordas de seu violão de nylon.

Trocando o nylon pelo aço, cerca de 15 minutos depois, Hélio Flanders tocou os primeiros acordes de "Para Abrir Os Olhos", dando início ao show e à gravação. Mas não sem logo ocorrer outra pausa - a guitarra de David Dafre estava sem som e, ao final da música, os roadies levaram mais alguns minutos para solucionar o problema. É então que surge o momento que, talvez, explique o motivo da lotação esgotada do teatro, dos diversos fãs da banda espalhados pelo Brasil e do respeito que ela ganhou de parte da crítica. Para matar o tempo, Hélio exibe todo seu poder de enterteiner e conta piada, interage com a platéia e a banda - e fica evidente sua ligação com aquele público, a sinceridade com que se despe em cima do palco e em suas canções. Apelando para o clichê, um "artista igual a seu público".

Som ajeitado, a apresentação corre solta. O repertório do primeiro disco da banda, homônimo, é cantado por todos, desde a patricinha de jaqueta jeans, regata branca e maquiagem perfeita até o pseudo-punk com calça rasgada, camiseta do Ramones e boné encardido. Seguem-se os já clássicos dessa geração indie-adolescente - "Los Chicos de Ayer", "Beloved", "Cachaça", "Hey Yo Silver". Todas com o público devidamente sentado. Até que, ao final, Hélio convoca todos para a frente do palco para cantar aquele que já foi descrito como o hino de uma geração, "Semáforo".

E é com o público de pé que a banda volta para o bis, para registrar em vídeo novamente "Para Abrir os Olhos", que havia saído sem guitarra. No embalo se seguem "Into The Ice", a melhor canção da banda (ainda da época do EP "Before Vallegrand"), e um outro take de "Hey Yo Silver", agora com a vibração total da platéia. O balanço e o sorriso no rosto dos presentes são como um presente para a banda - que em março comemorou um ano morando em São Paulo, atingindo cada vez mais público com seu folk-rock suave e lírico. Exatamente o oposto da geração que Humberto Gessinger profetizava em "Terra de Gigantes" ("A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante"). Ponto para os cuiabanos.

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