"Vanguart", Vanguart
por Marcelo Costa
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20/08/2007

"Em muitos momentos, a voz do cara lembra a de Thom Yorke. Ele toca violão como se fosse Bob Dylan, lembra fisicamente Arthur Lee e se porta no palco como um Johnny Cash. O nome dele é Hélio Flanders, e ele lidera a banda Vanguart. O show que o quinteto matogrossense fez na Funhouse, na noite de domingo, foi uma das melhores apresentações de uma nova banda que já vi em minha vida."

O parágrafo acima foi escrito pouco mais de 18 meses atrás. De lá pra cá, muita coisa aconteceu com o Vanguart. Eles concorreram ao VMB 2006; fizeram dúzias de shows em São Paulo e mais uma penca em vários cantos do país; tocaram com João Ricardo em um projeto do CCBB paulista, e já estão confirmados para o Tim Festival deste ano. Arrebataram uma legião de fãs pelo circuito indie e chegam agora ao primeiro – e aguardadíssimo – álbum oficial.

"Vanguart", o disco, é um trabalho classudo e atemporal que deixa de lado o revival anos 80 que assolou EUA e Inglaterra (ok, Brasil também) e retorna quatro décadas para encontrar seu refúgio no folk e na psicodelia. Não à toa, o fantasma de Thom Yorke (líder de uma das bandas ícone do new progressive, o Radiohead) sussura ao ouvido de Hélio em algumas canções do álbum. Ainda entram na mistura Beatles, Bob Dylan, Neil Young e Lou Reed, todos artistas que freqüentemente são reverenciados pelo grupo em seus shows, além de um toque insuspeito de bossa nova.

O repertório foi espertamente dividido em inglês (primeira opção do grupo) com português e traz cavalos de batalha da banda nos palcos tais como "Semáforo" (eleita informalmente por várias pessoas como a canção marco da geração 00), "Cachaça" e o primeiro single do álbum, "Hey Yo Silver", que podem – e devem – conquistar novos fãs em suas versões definitivas. Porém, "Vanguart" mantém o clima em alta nas não menos poderosas "Just to See Your Blue Eyes See" (com um ótimo trabalho de guitarra), "Los Chicos de Ayer" (cantada em espanhol) e os possíveis hits "Enquanto Isso na Lanchonete" e, principalmente, "Para Abrir Os Olhos".

Encartado na revista OutraCoisa, o debute dos cuiabanos é mais um daqueles discos que pode derrubar o muro que separa a prolifera cena independente nacional do grande público que assiste ao Domingão do Faustão. Em canções como "Semáforo" e "Cachaça", Hélio faz lembrar Cazuza, uma surpresa benvinda que pode aproximar o grupo de um novo público. Por outro lado, o repertório descolado das faixas cantadas em inglês mantém intocado o cordão umbilical da banda com seus primeiros fãs. Entre um lado e outro dessa longa estrada, o Vanguart caminha surpreendendo entre folks, rocks e baladas psicodélicas.