"Riot City Blues", do Primal Scream
por Marcelo Costa
20/08/2006

Após Black Rebel Motorcycle Club e Supergrass, mais uma bandinha aposenta as guitarradas em nome de uma mistura que ousa unir folk e country em pleno 2006. Só que esta tal bandinha é um dos nomes de ponta do rock britânico desde que, um dia, Bobby Gillespie deixou de lado sua fixação por melodias sixties à la Smiths para injetar uma bateria dançante no som que fazia. O resultado foi Screamadelica (1991), um dos álbuns clássicos do rock na década de 90, e que abriu caminho para uma discografia tão maluca quanto genial perpetrada pelo Primal Scream, que volta ao noticiário pop com o lançamento de Riot City Blues, um disco que traz gaita, violão, backings femininos e muito "babe, babe" em pouco mais de quarenta minutos de boa música.

É impossível prever os passos de Bobby Gillespie. Após lançar Screamadelica, o cara que, um dia, sentou no banquinho da bateria do Jesus & Mary Chain, cravou um disco de rock quadradão à la Stones, Give Out But Don't Give Up (1994), com um pouco de soul, funk e participação do mestre George Clinton. Três anos depois, a banda lança o viajandão Vanishing Point (1997), que tinha música na trilha sonora do filme A Estrada Perdida, de David Lynch, e rendeu um disco de matadoras versões reggae e dub (Echo Dek, 1997). Surpreendendo mais uma vez, a banda volta eletrônica no político XTRMNTR (2000), para diminuir as batidas e soar quase como Kraftwerk em Evil Heat (2002). O que Bobby Gillespie têm a cabeça? Sei lá, mas o que é permitido perceber é que, independente do que faça, o doido faz bem. E sempre bem acompanhado.

Riot City Blues marca a saída do velho colaborador famoso Kevin Shields (dono do My Bloody Valentine), que passou pelo Brasil no show ensurdecedor que a banda fez no Tim Festival em 2004, mas abre espaço para Will Sargeant (guitarra do Echo & The Bunnymen) colocar seus solos e efeitos de pedais em duas canções (na oriental, viajandona e ótima "Little Death" e também em "When The Bomb Drops"), Alisson Mosshart, a vocalista ensandecida do duo The Kills vocalizar em outras duas (na esporrenta "Suicide Sally & Johnny Guitar" e em "Nitty Gritty") e Warren Ellis, dos Bad Seeds que acompanham Nick Cave, tocar violino em uma ("Hell's Comin' Down").

Mais do que um bom e inspirado álbum de rock and roll, Riot City Blues mostra que a turminha roqueira começa a prestar muito mais atenção no passado distante. Bob Dylan e Johnny Cash são influências diretas, assim como no terceiro álbum do BRMC, o elogiado Howl, e como também no novo do The Walkmen, Hundred Miles Off, que parece trazer Dylan à frente dos vocais, ao menos nas três primeiras músicas, em que o vocalista Walter Martin tenta parecer mais Dylan circa 65 do que o próprio Dylan. Bobby Gillespie não vai tão profundo na veia folk nem em Bob Dylan, mas fez o disco mais norte-americano que um britânico poderia ter feito nos dias de hoje. Riot City Blues é um disco de rock retrô tanto quanto XTRMNTR era futurista. Como é impossível prever o que pode sair da mente diabólica de Gillespie, é melhor então relaxar e ouvir a música. Ao menos essa é previsivelmente de boa qualidade.

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