Exterminator
- Primal Scream
Punk para
as pistas
Por
Marcelo Silva Costa
O punk está vivo.
Yeah.
Mas não é aquele punk
esquálido que, como múmia, segue se arrastando pelo underground
e cujo exemplo são centenas de bandinhas tentando desesperadamente
soar como o Bad Religion, que também tenta soar como o Bad Religion
das antigas.
O punk em questão abandona
os três acordes, invade as pistas e atende pelo nome de Primal Scream,
banda inglesa que cisma em querer reinventar a música pop em cada
novo álbum. O recente, "Exterminator", é o retrato perfeito
do novo século. É, também, o álbum mais punk
nos textos desde Nevermind, do Nirvana, e já chega cheirando a obra-prima.
Como um bêbado que tropeça
e cai, "Exterminator" flagra uma banda de rock, no sentido mais tradicional
do termo (resmungona e drogada), com os dois pés e as duas mãos
atolados na eletrônica. No melhor da eletrônica. E com o melhor
do punk rock. O resultado é futurista, claustrofóbico, maluco,
absurdo, doentio, dançante, soberbo, funk, rocker, tecno, punk.
Punk na avalanche de efeitos e barulhos
que faz uma canção garageira como "Accelerator" soar como
a mais barulhenta e guitarreira canção dos últimos
dez anos, no mínimo.
Punk na temática que, segundo
o líder da banda, Bobby Gillespie, "trata do colapso da sociedade".
Alguns títulos de canções entregam a ira desses ingleses
("Mate todos os hippies", "Exterminador", "Dinheiro Sangrento", "Proteja
seus sonhos") que se mostram inconformados com o cenário atual do
rock and roll, em primeira batida, e da música pop, na seguinte.
Inconformados com tudo, com todos,
e fazendo bastante barulho para tentar acordar o mundo desse transe matrixiano
que estamos vivendo. Lembra, com isso, o bom e velho The Clash.
Se todo esse discurso anti-tudo viesse
embalado no lenga lenga hardcore não chamaria atenção,
afinal toda bandinha hardcore que se preza tem seu discurso anti-tudo afiado,
que não consegue sair do gueto alternativo. Mas, envolto na usina
dançante de barulho que é "Exterminator", a mensagem chega
as pistas, aos palcos, aos quartos, como revolver na mão de justiceiro.
A viagem nos faz enxergar o mundo
de olhos abertos e nos deixa (tão ou mais) mal-humorados (que a
banda) com o estado das coisas no planeta Terra. As coisas não andam
tão bem assim. E ser feliz é questão de sobrevivência.
Ou pelo menos deveria ser.
Se o novo álbum do Radiohead,
"Kid A" , realmente sair esse ano, teremos, em 2000, dois exemplos extremos
de música do futuro: um lírico, outro raivoso. A decisão
de continuar vivendo no passado cabe a você.
Marcelo,
29, é editor do zine Scream & Yell. |