Uh Uhu Her - Polly Jean Harvey
por Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
10/08/2004

"I'm Not Like Other Girls", grita Polly Jean Harvey na música Who The Fuck?. Nem precisava. PJ Harvey não é mesmo uma mulher como as outras: ela é uma deusa do rock e deve ser tratada com tal. Uh Uhu Her, novo disco da moça, abandona o rock básico e comportado do excelente Stories From The City, Stories From The Sea (2000) e centra foco na crueza de uma guitarra que ganha destaque no minimalismo dos arranjos.

PJ toca praticamente tudo no disco: guitarra, baixo, violão, teclados e uma gaitinha, deixando só a bateria a cargo de Rob Ellias. O creme sobre a rispidez do som é a voz soturna da deusa declamando a tristeza do desesperado reino do amor. O blues lento de garagem The Life and Death of Mr. Badmouth abre o disco cuspindo sujeira e veneno. A ótima Shame cita Janis Joplin de passagem enquanto Who The Fuck? mostra que a menina não está para brincadeira, pedindo para que tirem as mãos de seu cabelo enquanto a porrada come solta no som. Em Pocket Life ela recusa um vestido de noiva ("I'm Too Young To Marry Yet") enquanto procura por uma faca em sua bolsa.

Letter, o primeiro single, tem bateria quebrada e um excelente vocal. Já Slow Drug é minimalista. Traz PJ declamando a letra sobre uma guitarra que pontua o arranjo como o tic tac de um relógio: "Blue Now Is The Colour / Love The Drug I'm Needing / Got To Keep This Feeling" diz a letra. No Child of Mine é folk ao violão e Cat on The Wall é barulho dos bons, uma das melhores músicas do álbum.

Em You Come Through, o sol não surge, mas a musa é flagrada esperando o verão. It's You é depressiva ("I'm Not With You My Dreams Are So Very Dark") enquanto The End é uma instrumental que só está no álbum como homenagem ao ator, diretor e músico Vincent Gallo.

"Os Dias Mais Negros De Eu e Você", diz o título da última faixa, que começa ao som de gaivotas e, ali pelo meio, flagra a autora querendo se livrar das "neuroses, psicoses, psiquiatras e tristezas". O encarte mostra a guitarrista travestida de várias personas em várias fases de sua carreira, todas sob o foco de sua própria máquina fotográfica. Qual delas será a PJ Harvey verdadeira? É a questão que fica.

Quem esperava algo pop na linha de Stories From The City, Stories From The Sea com certeza irá se decepcionar. Uh Uhu Her não é um disco para estar entre os melhores do ano. É um disco dark de blues perfeito para dias perdidos: triste, melancólico, repetitivo e arrebatador.

Site Oficial PJ Harvey