"Riot Act", do Pearl Jam
por Giselle Fleury
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05/06/2003

11 de setembro. Nove mortos em um show. Um divórcio. Talvez tenha sido tanto sofrimento para pessoas tão esperançosas, lutadoras e defensoras de causas nas quais acreditavam piamente, que a quebra foi inevitável. 2002 foi o ano do lançamento do sexto álbum de estúdio de uma das bandas mais adoradas, odiadas e copiadas da década de 90, o Pearl Jam. E, ao contrário do que se pode imaginar, dessa vez a quebra foi grande mesmo. Letras amargas e revoltadas em um tom mais maduro recheiam Riot Act, o ato mais rebelde da banda de Eddie Vedder.

A essa altura, tudo que deveria ser dito sobre o álbum do final de 2002 já deve ter sido dito. Ou quase tudo. Porque o Pearl Jam dividiu fãs e crítica em uma coletânea agridoce. Já na primeira faixa, Can't Keep, nostalgia permeia o ambiente em uma canção que traz o 'querer e não poder' de Wishlist (Yield, 98) de volta. Sua levada doce engana o ouvinte mais desapercebido do que vem pela frente.

O antagonismo de sentimentos presente nas músicas de Riot Act acaba por isolar certas canções e destacá-las, merecidamente ou não, por sua singularidade em relação ao todo. Assim, pode-se destacar You Are pelas guitarras nervosas de Cameron e as referências implícitas a Freud ("Love is a tower and you’re the key"); Green Disease poderia ter figurado em O Descobrimento do Brasil da Legião Urbana, se fosse em português; e, claro, Love Boat Captain, a canção em que Eddie exorciza os monstros dos nove jovens mortos durante a turnê de Binaural com versos de Lennon ("I know it’s already been sung, it can’t be said enough: Love is all we need, all we need is love.").

No entanto, a revolta com o mundo, que culmina na pergunta de 1/2 full ("Ninguém vai salvar o mundo não?") deixa a desejar em um quesito: a melodia. Riot Act mostra um Pearl Jam cansado de lutar sozinho e pedindo ajuda para que outros passem a comprar a briga.

Não soa como uma despedida, mas nos dá indícios de que até eles já se incomodaram com o fato de nada ter mudado ("Lembro quando você cantava aquela música sobre os dias de hoje / Agora é aquele amanhã e tudo mudou."). O sonho de doze anos atrás não se realizou e as decepções acabaram por nos presentear com um álbum cheio de homenagens àqueles que, com boas influências, cruzaram o caminho da banda. Por isso mesmo, Lennon ganha novo timbre e Neil Young, de Harvest Moon, volta a ser lembrado com uma gostosa balada, Thumbing My Way. Mas a melodia... Essa ficou perdida em algum lugar entre Black e Given To Fly. Mesmo o primeiro single do álbum, I Am Mine, não convence.

Pode parecer que a causa empobreceu a essência, ou que apenas estava esperando um novo Ten surgir. Pode até ser. Mas a mensagem chegou, só que não como costuma chegar. Uma pena, já que esses meninos sempre tiveram tanto a dizer, mesmo quando se calavam. E se eles mesmo dizem que não há nada a esconder, de desonestos, ao menos, não podemos acusá-los. Que fique a sugestão, então:
ouça, mas não espere muito.