"Guero", Beck
por Jonas Lopes
Yer Blues
18/04/2005

Beck deu um presentão para os jornalistas de língua inglesa com Guero. A sonoridade do novo disco do cantor sintetiza características dos trabalhos anteriores do americano. Portanto, se você se deparar com alguma resenha com o infame título Beck is Back, não se surpreenda.

É, foi um longo inverno. Não que Sea Change seja indigno de ser chamado de disco do Beck, pelo contrário. Só que, apesar de ser excelente, o álbum carece da pluralidade e dos experimentos pós-modernos e multiculturais de um Odelay ou de um Mutations, por exemplo. O que também não quer dizer, necessariamente, que seja inferior.

Está tudo em Guero. Riffs marcantes e distorcidos como os de Devil's Haircut (em E-Pro e Rental Car) e The New Polution (Broken Drum). Os vocais hip hop de Loser (Hell Yeah, em particular). Samplers apitando lá e cá, frutos da produção dos Dust Brothers. Refrões pegajosos e cheios de "nananas". O caldeirão sonoro de Mutations, que inclui incursões pela música brasileira (na bossa nova pra importação Missing) e latina (na deliciosa Que Onda Guero). O funk dançante e psicodélico de Midnite Vultures (Black Tambourine). Até Sea Change é lembrado, de forma discreta, nas cordas à Gainsbourg que aparecem no final de Missing.

Ao revisitar seus temas e apostar em estilos já recorrentes em sua obra, Beck correu sérios riscos. Um deles é soar requentado. Não foi o caso, as músicas são boas. E nem tudo é velho: Emergency Exit é um folk com jeito de hino, e na barulhenta Farewell Ride, um hard rock meio farofão. Ademais, as faixas de Guero estão entre as que possuem mais capacidade de penetração popular de sua carreira. Além do primeiro compacto, E-Pro, há uma penca de candidatas a hit: Que Onda Guero, Go It Alone, Girl e Broken Drum, no mínimo.

É claro que algumas restrições são necessárias. Esse não é um disco tão ousado como os daquele Beck que a crítica tanto idolatrava há alguns anos. Seu disco mais completo ainda é Mutations, sua grande música o lado-b Deadweight. Nesse sentido, Sea Change tem até mérito maior: é simples, mas ao menos é diferente do resto da carreira do cantor. Guero serve mais como aperitivo do que como prato completo. Saboroso, embora pouco indicado pra quem está com muita fome.

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