"English,
Half English" - Billy Bragg
por
Marcelo Silva Costa
O melhor álbum de 2002 até
o momento fala mais de política do que de amor. O melhor álbum
de 2002 até o momento não tem guitarras distorcidas nem se
apóia em belos rostinhos teen. O melhor álbum de 2002 até
o momento não saiu dos Estados Unidos, e sim da Inglaterra, mas
favor não confundir com o soporífero new acoustic moviment.
O melhor álbum de 2002 é de um cara que está na batalha
desde 1983, quando lançou o ep "Life´s a Riot" (título
cool hein), e, depois de alguns projetos paralelos, reúne novamente
seus amigos da The Blokes para lançar um grande disco. O melhor
álbum de 2002 até o momento chama-se "English, Half English",
e o cara se chama Billy Bragg.
Billy Bragg faz música das
antigas, dois pés no folk, alguns dedos no jazzy, o cérebro
em textos punk e o coração em melodias que valem a pena.
Influenciado tanto pelo punk quanto por Bob Dylan, Bragg, 45 anos, escreve
em suas letras pequenos tratados sobre política e amor com uma intensidade
que faz envergonhar a sensibilidade dos jovens que ainda não descobriram
o real valor de uma bela canção.
Johnny Marr (The Smiths), Peter Buck
(R.E.M.) e Natalie Merchant são alguns dos músicos que renderam
homenagem a Bragg, tocando em seus discos. Sua persona é tão
respeitada que a filha da lenda Woody Guthrie abriu o acervo intocado de
letras e textos não publicados do pai para que Billy conhecesse
e, possivelmente, desenvolvesse um projeto. Para o projeto, Bragg chamou
o pessoal do Wilco e assim nasceu os obrigatórios
"Mermaid Avenue" (1998) e "Mermaid Avenue vol. 2"
(2000) em que Bragg e Jeff Tweddy (líder do Wilco) revezavam em
musicar os textos deixados por Guthrie.
Após a gravação
do álbum, Bragg seguiu para uma turnê no Reino Unido e na
Escandinávia, com a The Blokes, que foi flagrada no bootleg "Mermaid
Avenue Tour", vendido no site oficial
do músico. A turnê abriu caminho para testar novas composições
e agora chega ao mercado "English, Half English", um álbum poeticamente
político, atemporal, mágico, como não se faz mais
há tempos.
"English, Half English" é o
primeiro álbum solo de material inédito de Bragg em seis
anos e abre com "St. Monday", introduzida por um piano anos 50. A letra
estica o fim de semana até segunda-feira em uma refrão matador:
"I’m a hard worker but I ain’t working on a Monday / A hard working fellow
but I ain't working on a Monday / St. Monday’s still the weekend to me".
"Jane Allen", a segunda, é
de partir o coração. Bateria quebrada, guitarra tosca no
inicio, backings elevando o refrão para contar a história
da garota que dá nome a música. Ela o ama, mas ele é
casado e fiel. Sinta o final da canção: "You’d take it the
wrong way I know, you just wouldn’t let it go / It was over a long time
ago - believe me I love you so".
"English, Half English", a música,
cita Morrissey, conta como a cultura inglesa foi diluida, mas finaliza
com uma declaração de amor ao país: "Oh my country,
what a beautiful country you are". O clima de boteco é totalmente
ska ambientado nos anos 40, mas com uma bateria tribal.
O álbum traz doze faixas (a
versão européia. Na versão japonesa são quatorze)
emocionantes. Faz a fé na música de verdade renascer quando
Bragg, na melancólica "Some Days I See The Point", diz que queria
fazer do mundo um lugar melhor, mas não consegue fazer isso sozinho.
O arranjo é delicado e a canção emociona.
Assim como é emocionante a
faixa que fecha o álbum, "Tears on My Tracks", que traz Bragg contando
que está triste porque precisou vender todos os seus vinis: "My
record collection has ended / For someone else it's just begun" ele canta.
Se você sente paixão pelos seus discos, "English, Half English"
foi feito de encomenda para a sua coleção.
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