"CSI e Tarantino"
por Gabriela Froes
Foto: Sony / Divulgação
Blog
06/07/2005

"You can try to please me
But it won't be easy
Stone walls surround me
I'm surprised that you even found me

And you don't stand an outside chance
You don't stand an outside chance
But you can try"
("Outside Chance", The Turtles)

Chega ao fim mais uma temporada de CSI: Crime Scene Investigation, a série policial de maior sucesso dos últimos anos, exibida no Brasil pelo canal Sony. Convidado por William Petersen (que interpreta o personagem Gil Grissom, além de ser o produtor executivo da série), o episódio Grave Danger, que encerrou a quinta temporada com duas horas de pura adrenalina, foi dirigido por ninguém menos que Quentin Tarantino, o famoso diretor americano que tem em seu currículo filmes como Pulp Fiction e Kill Bill 1 e 2.

CSI, série produzida por Jerry Bruckheimer, narra a rotina nada monótona da equipe do Laboratório de Criminologia de Las Vegas, com a presença das equipes de Gil Grissom (Petersen) e Catherine Willows (Marg Helgenberger). Um homem encontrado morto dentro de uma lixeira, uma família inteira assassinada, pedaços de corpos espalhados pela cidade, não importa o caso: as equipes trabalham vinte e quatro horas por dia na investigação das cenas dos crimes ocorridos na cidade dona dos maiores cassinos do mundo, provando que evidências podem ser errôneas e que as aparências enganam. E muito.

Cada episódio, que normalmente tem duração de uma hora, tem dois casos a serem resolvidos. Repletos de análises laboratoriais e das mais recentes novidades tecnológicas em resolução de crimes, a série é marcada pelo científico e pelo metódico. Mas o que mais chama atenção são as descobertas e deduções do personagem Gil Grissom, uma espécie de "Sherlock Holmes" e dono de uma invejável biblioteca, que ao resolver os casos mais complicados mistura cultura geral com os mistérios da ciência. Grissom é o personagem que faz da série algo tão curioso e interessante.

E o último episódio desta temporada uniu as técnicas sherloquianas às cinematográficas: Grave Danger teve cara e duração de filme. "A mente de Grissom funciona para a ciência como a mente de Tarantino funciona para o cinema", disse William Petersen em entrevista à rede CBS (disponível em vídeo no site oficial da série). E não há como negar: com ângulos afiados e trilha sonora "à la Tarantino”, Grave Danger é um episódio que mantém as marcas principais da série e deixa o espectador ainda mais tenso do início ao fim, o coração batendo mais rápido, as unhas roídas.

Nick Stokes (George Eads) é um CSI especializado em análise de fios de fibra e cabelos, além de ser o personagem que mais se envolve com os casos de que cuida. Em Grave Danger, Nick é seqüestrado enquanto trabalha na cena de um crime. O moço, desacordado, é enterrado vivo em uma caixa de acrílico junto com um toca-fitas (com uma mensagem do seqüestrador) e uma arma (para ter a escolha de poder tirar a própria vida). A equipe recebe uma fita com a música que abre este texto e um pen-drive, contendo um endereço virtual que leva a uma câmera instalada dentro do "caixão" de Nick. Eles podem vê-lo, mas não fazem idéia de onde ele possa estar, quem o seqüestrou ou por quê. A mensagem é clara como na música: "vocês não têm a menor chance / mas podem tentar". E as duas equipes se unem para desvendar o caso mais difícil que enfrentaram desde o início da série, uma corrida contra o tempo, enquanto durar a sanidade de Nick ou enquanto as formigas que invadem o acrílico pelas arestas não o comerem vivo - o que vier primeiro.

A idéia da história é também de Tarantino. Em outra entrevista no site da CBS, Tarantino diz "eu disse a eles, 'se vocês estão procurando alguém para filmar cenas de laboratório misturadas com canções legais (ele usa aqui a expressão *grooving music*), eu não sou o cara certo. Mas se tiverem alguma boa idéia de um material dramático envolvendo Grissom, então eu posso ser o cara certo'". E Tarantino era o cara certo. É ele o dono da história do episódio que, parodiando seu mais recente trabalho, Kill Bill, foi dividido em partes 1 e 2. As esperanças pelo próximo Emmy são grandes.

CSI não é uma série que se divide entre o profissional e o pessoal. O que aprendemos sobre as vidas dos personagens são sempre informações tangenciais; o foco é a cena do crime, as evidências, as ferramentas, os procedimentos. Mas mesmo assim é impossível evitar algum tipo de "simpatia" desenvolvida entre os especialistas e o espectador. E nada mais apelativo do que, após cinco anos conquistando a fidelidade do público, colocar um dos personagens centrais da série em uma situação de vida ou morte. Tarantino não podia ter feito melhor.


Leia também:
Kill Bill Vol. 2, por Marcelo Costa

Links
Site Oficial da série CSI
Site Oficial do Canal Sony