Pato Donald faz 70 anos
por Leonardo Vinhas
lvinhas1@yahoo.com.br
12/10/2004

E aí, hein seu pato? 70 anos!! Que maravilha! Eu estava quase dizendo: "70 anos de rock'n'roll", quando lembrei que suas nuances e mudanças englobariam jazz, samba, pop, choro, swing e tudo mais. Você não é só rock, pato, tem uma estrada muito mais completa.

E calha que para comemorar esses 70 anos a Editora Abril mandou essa pedrada: Pato Donald 70 Anos, uma edição especialíssima, formato americano, 208 páginas, coisa linda. À altura do seu talento e de sua história. Antes de escrever esse texto, antes mesmo da revista chegar nas bancas, eu já estava me preparando para reclamar da tradução dos balões, que foi calamitosa na série O Melhor da Disney, lançada esse ano também para celebrar seu aniversário. Mas a (justificada) ranhetice não foi necessária: o diálogo foi vertido para o português com categoria e respeito. Nem precisei ficar esperneando de punhos em riste, como você sempre faz.

É, Pato, as histórias dessa edição especial estão cheias de momentos como esse e de tantos outros que o celebrizaram. Começa quando você era um pato meio esquisito, mais pato que homem, mesmo, habitando as páginas das Silly Symphonies, aquelas fábulas moralistas da década de 30. Depois, lá pelos idos de 1937, é que você começou a virar esse xaropão mal-humorado. Culpa do Al Taliaferro, veja só. Mas o velho Al também deu uma bela trabalhada no seu "shape", te deixou mais magro, mais simpático e menos primípede. E conforme ele foi introduzindo outros elementos para contracenar contigo (Margarida, aqueles três sobrinhos pentelhos, a Vovó Donalda), nós pudemos ver que você não era só um chato mal-humorado, mas um cara bacana, sujeito a oscilações de humor, como nós.

A grande virada aconteceu por causa do tio Carl, lembra? Como você, eu ou qualquer um de seus admiradores poderia esquecer?! O velho Carl Barks... ele mostrou a todos nós que você, Pato, era como nós. Não era só um cara com flutuações de humor. Um ser complexo, cheio de vontade de vencer, mas que às vezes se via vitimado pelo derrotismo, fosse por causa daquele seu primo sortudo e arrogante, ou por causa dos insondáveis desígnios de forças superiores (o destino? os deuses? o argumentista? Quem? Quem?). Um cara amabilíssimo, mas que poderia se tornar um patife, um pilantra, um crápula até, só para vencer - ou para provar que não era tão perdedor assim. Você já começava a tentar superar seus empertigados sobrinhos... e invariavelmente levava na cabeça! Haha!

Aliás, só graças ao tio Carl que você percebeu que seus sobrinhos podiam até ser arteiros, mas também eram inteligentes, nobres e tão sedentos de vencer como você. OK, talvez você não seja tão inteligente - ei, calma! Nada de estrilar, pato doido! É só que eles são mais centrados, sabe como é. Você só não admite isso facilmente...

O tio Carl também te apresentou ao seu inesquecível Tio Patinhas, te colocou no caminho daquele inventor piradaço e de bom coração, o Pardal; deixou você ficar mais perto da Margarida, te pôs num monte de aventuras e até de perigos - até os grotescos irmãos Metralha entraram na tua vida. Certo, mais na do seu tio do que na sua. Porém, sempre sobrava para você a linha de frente na defesa daquele monumento ao capitalismo que é a Caixa-Forte. E aí, já viu, né?

É, Pato, o lance é que graças ao Barks ficamos conhecendo você. É incrível como você realiza todos os nossos sonhos, vinga as nossas frustrações, se solidariza conosco em nossos fracassos. E daí, mais um monte de gente bacana veio fazer brilhar cada lado que o Homem dos Patos mostrou. Os italianos investiram pesado no seu talento de ator. Lembra aquela vez que você e o Gastão disputaram o papel de cavaleiro numa montagem teatral? Pois é, bacanas como Giorgio Cavazzano e Romano Scarpa te deram um monte de papéis nos quais você brilhou como nunca antes. Marco Polo, o príncipe "Patonov" de Guerra e Paz, Otelo... fora os encontros com extraterrestres, habitantes do centro das folhas, sua transformação no Superpato e outros. Os brasileiros (e fizeram justiça ao mestre Carlos Herrero nesse especial - êba!) deixaram você muito doidão, às voltas com o ainda mais doido Peninha. Aquele canadense, o William Van Horn - Pato, ele te jogou no mais puro surrealismo! Gênio, o cara, não? O Don Rosa ficou fuçando na história da sua família e exagerando no teu azar...

É, amostras do trabalho de todo esse pessoal está aqui nesta edição especial. Eu quase choro toda vez que eu a leio, e olha que ela está recém-lançada nas bancas. Quase choro porque você é um amigo que me acompanha desde a infância. Não sabe quem eu sou, e se soubesse, provavelmente ia tretar comigo por ciúmes da Margarida (ela não faz meu tipo, é muito fresca), para tentar me vencer ou por ranzinzice pura. Mas e daí? É esse lado de assumir quem você é e dane-se o resto que faz de você esse sujeito tão especial. Por isso que eu sei que estou fazendo coro com uma multidão de milhões quando digo:
MEUS PARABÉNS, PATO DONALD! MUITAS FELICIDADES E MUITOS ANOS DE VIDA!!!

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